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30 de março de 2023

Livros para ler no Outono


Enfim terminou o verão e chegou o outono, com toda a sua graça - ou talvez não tanta graça, porque, por aqui, a mudança da estação veio com tempestade, raios e trovões, após vários dias ameaçadoramente nublados. Hoje, felizmente, o sol saiu e uma brisa gostosa sopra da varanda. Olhando pela janela, para o mar de folhagem lá embaixo, fiquei pensando sobre folhas secas e páginas viradas e, uma piscadela depois, estava me sentando para escrever.


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17 de janeiro de 2023

Só Você Pode Salvar a Humanidade: uma história sobre guerra e jogos, na pena de sir Pratchett


“Como vocês podem ser os mocinhos se estão jogando bombas inteligentes na chaminé das pessoas? E explodindo as pessoas só porque elas estão sendo governadas por um maluco?"

Tenho por tradição começar o ano com uma primeira leitura pratchettiana. Não tenho mais volumes do Discworld para ler (não que isso seja um problema, releituras também são válidas), mas há algumas séries e volumes únicos de histórias fora do mundo do Disco.


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3 de dezembro de 2022

Terry Pratchett: uma vida com notas de rodapé


Porque o trabalho sempre foi a coisa mais importante, mas agora ganhou uma nova dimensão. O trabalho é a última defesa de Terry contra esta doença cruel que o está a despojar de si mesmo. Por quanto tempo ele possa escrever, ele ainda será Terry Pratchett.

Quando Terry Pratchett faleceu em março de 2015, chorei como quem tivesse perdido um ente querido. A essa altura, já fazia mais de uma década que eu lia gulosamente seus livros, um atrás do outro; muitas das quais tocaram-me de inúmeras maneiras - foram alegria, conforto, reflexão, acolhimento, e até ponto de partida para muitas amizades. Eu admirei sua capacidade de indignação e senso de justiça, e a coragem de se expor para falar daquilo que era necessário.


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7 de novembro de 2022

Presença de Antígona: o poder subversivo dos mitos antigos


Antígona foi encenada pela primeira vez em Atenas, em (supõe-se) 442 a.C. Hoje é encenada no mundo inteiro. Desde 2016 tem sido apresentada, com outro enfoque, em Ferguson, no Missouri, e em Nova York. Antigone in Ferguson foi criada por Bryan Doerries depois do assassinato de Michael Brown Jr, rapaz de dezoito anos, por um policial, em 2014. É a leitura de uma adaptação da peça de Sófocles seguida por uma discussão com integrantes da comunidade, policiais e ativistas, sobre raça e justiça social.

Por que não se limitar a escrever uma peça sobre a morte de Michael Brown? Por que recorrer a Antígona para refletir sobre essa tragédia? Parte da resposta deve ser que o mito nos permite investigar situações extremas sem cair na deselegância de dramatizar detalhes específicos da morte de um jovem. E por isso os gregos antigos tomavam a mitologia como material para as tragédias. Peças encenadas sobre eventos contemporâneos causavam muito sofrimento a quem assistia. Os mitos gregos abordam também temas difíceis, sobre abusos de poder e fraquezas humanas. A possibilidade de explorar questões como, por exemplo, o que torna boa uma liderança ou como resistir ao Estado fascista permite projetar diretamente esses temas em eventos particulares locais.

Esse livro me conquistou de cara pelo título e subtítulo - sério, adoro quando se fala no clássico subvertendo expectativas. É um volume curtinho, de leitura bem rápida e fluida, que costura referências modernas com mitologia, exploradas especialmente de um ponto de vista feminista.


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20 de setembro de 2022

Projeto Agatha Christie: Um Destino Ignorado


O homem sentado atrás da mesa moveu um pesa-papéis em vidro alguns centímetros para a direita. Seu semblante parecia mais sem expressão do que pensativo ou disperso. Tinha a tez pálida de quem passa a maior parte do dia sob luz artificial. Dava para ver que vivia enfurnado entre mesas e arquivos. Parecia natural que, para chegar à sua sala, fosse necessário atravessar longos corredores subterrâneos. Seria difícil precisar sua idade. Não parecia nem velho nem novo. No rosto liso e sem rugas, os olhos denotavam um grande cansaço.

O outro homem na sala era mais velho. Moreno, com um pequeno bigode militar, emanava vivacidade e energia. Não conseguia ficar parado. Andava de um lado para o outro, soltando observações bruscas aqui e ali.

– Relatórios! – exclamou de modo explosivo. – Relatórios e mais relatórios para quê?

O homem sentado à mesa olhou para os papéis à sua frente. Sobre eles havia um cartão oficial onde se lia “Betterton, Thomas Charles”. Depois do nome havia um ponto de interrogação.

Um Destino Ignorado é um dos romances isolados de Christie - menos história de detetives e mais thriller político mergulhado no contexto da Guerra Fria. Publicado originalmente em 1954, começa com uma série de cientistas desaparecendo misteriosamente na Europa Ocidental, para então nos apresentar Hilary Craven, uma mulher que não tem nada a perder, anseia pela morte, e é convidada a uma missão potencialmente suicida que talvez ajude a identificar quem está por trás dos sumiços.


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29 de agosto de 2022

Projeto Agatha Christie: Morte nas Nuvens


— Pura esperteza — retrucou Japp. — E quanto à tal zarabatana que ele apresentou hoje, quem pode afirmar que é a mesma que comprou há dois anos atrás? A coisa toda me parece suspeitíssima. Não acho muito saudável alguém andar sempre às voltas com histórias de crime e detetives, imaginando tudo quanto é espécie de caso. Acaba metendo idéias na cabeça.

— Não há dúvida que um escritor tem que ter idéias na cabeça — concordou Poirot.

Publicado em 1935, primeiro nos Estados Unidos com o título de Death in the Air e logo depois no Reino Unido com o título original, Morte nas Nuvens foi um dos romances de Christie que mais me surpreendeu dos últimos que li (uma impressão que ficará até começar o próximo e descobrir que o tapete sumiu sob meus pés).


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26 de julho de 2022

Projeto Agatha Christie: O Caso do Hotel Bertram


No coração do West End, há diversos lugares tranquilos, desconhecidos de quase todo mundo, à excção dos motoristas de táxi, que os atravessam com a habilidade de especialistas, chegando triunfantemente a Park Lane, Berkeley Square ou South Audley Street.

Se você se afastar de uma despretensiosa rua que sai do parque e virar à esquerda e depois à direita uma ou duas vezes, irá se encontrar numa rua tranquila, onde fica o Hotel Bertram, do lado direito. O Hotel Bertram está ali há muito tempo. Durante a guerra, algumas casas foram demolidas à direita e, um pouco adiante, à esquerda. Só o Bertram se manteve intocado.

Quando Miss Marple decide tirar umas férias em Londres, ela tem oportunidade de se hospedar no hotel Bertram, que visitara em sua juventude e lhe deixara uma forte impressão. Contudo, após um misterioso desaparecimento e um assassinato, ela descobrirá que a reputação do local não é tão imaculada quanto se poderia pensar.


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13 de julho de 2022

Robinson Crusoé e o mito do individualismo


Resumindo, depois de sérias reflexões, a natureza e a experiência me ensinaram que todas as coisas boas do mundo deixam de ser boas para nós quando não nos são mais úteis; e que tudo o que podemos acumular, e um dia deixar para os outros, só nos dá prazer na medida em que podemos usar, e não mais do que isso. O avarento mais sovina e ambicioso do mundo teria se curado do vício da cobiça se estivesse em minha situação, porque eu possuía infinitamente mais do que podia imaginar o que fazer com tanto.

Após deixar a casa paterna e passar por várias aventuras e infortúnios, o marinheiro amador Robinson Crusoé naufraga na região do Caribe e termina sozinho numa ilha deserta. Ali ele vai passar os próximos vinte e oito anos buscando sobreviver em seu isolamento, até a maré da sorte virar a seu favor, o que começa quando ele salva um indígena da tribo de canibais da região, a quem dará o nome de Sexta-Feira.


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29 de junho de 2022

Projeto Agatha Christie: Morte na Mesopotâmia


"Ela era temperamental. Muitos altos e baixos. Querida com a gente num dia, e no outro não se dignava a nos dirigir a palavra."

Publicado originalmente em 1936, Morte na Mesopotâmia se passa como um manuscrito da enfermeira Amy Leatheran, em que ela reconta os fatos que a levaram a uma escavação arqueológica no Iraque, o crime em que se viu envolvida quando sua paciente é assassinada, e a investigação que se segue, capitaneada pelo detetive Hercule Poirot - que, convenientemente, andava viajando pelas redondezas, a caminho de embarcar no Expresso do Oriente.


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12 de maio de 2022

Reflections: sobre a magia da escrita na pena de Diana Wynne Jones


Escritores de fantasia para crianças têm uma grande responsabilidade: qualquer coisa que escrevam provavelmente terá um efeito profundo nos próximos cinquenta anos. Você pode descobrir o porquê disso se perguntar a dez adultos qual livro eles se lembram melhor de sua infância. Nove deles certamente nomearão uma fantasia. Se você se aprofundar nas questões, descobrirá seus nove adultos admitindo que adquiriram muitas das regras pelas quais vivem neste livro que os impressionou tanto.

Há tempos que eu estava atrás desse livro. Não li tanto da bibliografia de Jones para ter uma opinião formada sobre a autora: bem verdade que O Castelo Animado continua hoje a ser uma das minhas leituras de conforto e, claro, conheço Crestomanci e toda a polêmica em torno de suas semelhanças com a obra da Rowling; mas considerando a quantidade de títulos que essa mulher escreveu (contei mais de cinquenta, fora contos que apareceram em diversas antologias), o que conheço é um pingo no oceano.


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5 de maio de 2022

Ghostland: em busca de um país assombrado


"Não é a casa que está assombrada. Sou eu. E eu quero ser; tenho de ser. Porque se eu desistir deles – se eu parar de olhar para trás – tudo o que já aconteceu conosco deixará de existir."

Bati o olho nesse livro em alguma lista do Goodreads e o título imediatamente me chamou a atenção. Da sinopse, fiquei com a impressão de que seria algo como The Lore of the Land ou Lugares Mágicos: os escritores e suas cidades - uma espécie de guia de viagem temático em que as recomendações de lugares a visitar passaria pela topografia de vários contos clássicos do gótico inglês.


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14 de abril de 2022

O que você precisa saber sobre Shakespeare antes que o mundo acabe


Em meio à pandemia de Covid-19 que assolou o mundo em 2020, Fernanda Medeiros e Liana de Camargo Leão lançaram a seguinte pergunta a atores, diretores, escritores, críticos e professores de várias partes do Brasil e do mundo: o que você precisa saber sobre Shakespeare antes que o mundo acabe? A proposta era que os convidados tentassem, da maneira mais verdadeira possível, responder a essa provocação e que o fizessem rápido, na urgência do momento, para que o livro ficasse impregnado da pressão de uma vivência inédita. As contribuições foram chegando, somando as 57 “falas” que aqui estão. Há Shakespeares diversos ― locais e universais; de uma única peça ou de um único personagem; mais ou menos feministas; trágicos e cômicos; renascentistas e contemporâneos; ingleses e cosmopolitas. E há estilos diversos também. Dos textos curtíssimos aos ensaios mais longos; dos depoimentos orais às pequenas coleções de pistas. O resultado é uma obra brilhante, que sem dúvida viverá para muito além desta pandemia.

Tão logo vi o anúncio dessa publicação, fiquei ansiosa para deitar as mãos nela - mas também um pouco receosa, perguntando-me se o calhamaço (são mais de 500 páginas) seria mais voltado a uma crítica acadêmica, menos acessível ao leigo ou se seria apenas um resumo de cada obra com algum contexto histórico jogado pelo meio. Tenho alguns excelentes volumes de reflexões sobre o bardo (Mil Vezes mais Justo me vem à mente), mas também já me deparei com alguns cuja secura técnica serviu-me de remédio para insônia.


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6 de abril de 2022

Projeto Agatha Christie: Por que não pediram a Evans?


Bobby seguiu caminhando devagar. Havia, ele sabia bem, um ponto por onde se podia descer com relativa facilidade. Os caddies faziam isso, lançando-se por sobre a borda e reaparecendo, triunfantes e ofegantes, com a bola perdida.

De súbito, Bobby enrijeceu o corpo e chamou seu companheiro.

– Doutor, venha ver uma coisa. O que pode ser aquilo?

Pouco mais de dez metros abaixo se via uma forma escura amontoada, parecendo uma pilha de roupas velhas.

O médico prendeu a respiração.

– Meu Deus... – ele disse. – Alguém caiu no penhasco. Precisamos chegar até lá.

Por que não pediram a Evans? foi publicado originalmente em 1934 no Reino Unido; no ano seguinte saiu nos Estados Unidos com o título alternativo A Pista do Bumerangue. É um romance aventuresco, e, embora não o considere um dos melhores mistérios criados por Agatha Christie, é certamente um dos mais divertidos, num espírito parecido com o de O Segredo de Chimneys.


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15 de fevereiro de 2022

The Bookshop Book: uma viagem por livrarias ao redor do mundo


Sempre usamos narrativas como forma de passar a nossa História, como forma de explicar coisas da vida que não entendemos. Nós as usamos para nos fazer sentir conectados a tudo ao nosso redor e para nos ajudar a escapar para outro tempo ou lugar.

As livrarias de todo o mundo estão cheias dessas histórias.

De livreiros itinerantes e livrarias disfarçadas, a barracas desmontáveis e centros comunitários, entrar em uma boa livraria é como entrar em outra zona. Esses lugares são máquinas do tempo, naves espaciais, criadores de histórias, guardiões de segredos. Elas são domadores de dragões, caçadores de sonhos, descobridores de fatos e lugares seguros. Elas estão cheios de infinitas possibilidades e contos que valem a pena levar para casa.

Porque, quer estejamos no meio do deserto ou no coração de uma cidade, no topo de uma montanha ou num trem subterrâneo: ter boas histórias para nos fazer companhia pode significar o mundo inteiro.

Descobri esse livro por causa do Gaiman (típico, eu sei). Bem, na verdade, o Gaiman comentou que tinha lido para o filho The Sister Who Ate Her Brothers and Other Gruesome Tales e, para além da recomendação de um autor que adoro, o título me provocou risos nervosos. Coloquei na lista de desejos, fui à página da autora no Goodreads e acabei dando de cara com uma série de outros títulos que me fisgaram a atenção… incluindo The Bookshop Book.


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2 de fevereiro de 2022

O Livro do Conforto: um abraço em palavras


"A linguagem nos dá poder de dar voz à nossa experiência, de restabelecer uma ligação com o mundo e mudar nossa vida e a de outras pessoas. “Não existe agonia maior do que carregar dentro de si uma história não contada”, escreveu Angelou. O silêncio é dor. Mas é uma dor com rota de saída. Quando não podemos falar, podemos escrever. Quando não podemos escrever, podemos ler. Quando não podemos ler, podemos ouvir. As palavras são sementes. A linguagem é um modo de voltar para a vida. E às vezes isso é o mais vital dos consolos de que dispomos."

Indicado como um dos melhores não ficção de 2021 no Goodreads Choice Awards, O Livro do Conforto já me chamou a atenção desde o título. Considerando ainda que não era a primeira vez que Haig concorria (ele venceu melhor ficção em 2020, com A Biblioteca da Meia Noite), fiquei curiosa e fui atrás.


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20 de janeiro de 2022

Projeto Agatha Christie: O Mistério do Trem Azul


– Então, madame?

– Sim, monsieur? – disse Katherine.

– Poderia, talvez, me dar uma ideia geral dessa conversa?

– Poderia – disse Katherine –, mas neste momento não vejo nenhuma razão para fazê-lo.

De um modo um tanto britânico, ela estava irritada. Esse oficial estrangeiro parecia impertinente.

– Nenhuma razão? – bradou o comissário. – Oh, sim, madame, eu posso garantir que há uma razão.

– Então talvez o senhor devesse revelá-la.

Pensativo, o comissário esfregou o queixo sem falar nada por algum tempo.

– Madame – ele disse, enfim –, a razão é muito simples. A dama em questão foi encontrada morta em seu compartimento esta manhã.

– Morta! – arfou Katherine. – E o que foi? Ataque do coração?

– Não – disse o comissário, com uma voz meditativa e sonhadora. – Não, ela foi assassinada.

Publicado originalmente em 1928, O Mistério do Trem Azul é uma expansão do conto de 1923 O Expresso de Plymouth (que pode ser encontrado na coletânea Os Primeiros Casos de Poirot). A trama trata do assassinato de uma rica herdeira americana e do desaparecimento de suas jóias - especificamente, o famoso colar de rubi “Coração de Fogo”. Para azar do vilão, Hercule Poirot viajava no mesmo trem em que o crime foi cometido e, embora esteja aposentado, não se furta a entrar na investigação.


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9 de dezembro de 2021

O Resumo da Ópera - Bate o Sino...


Fim de ano significa, claro, mais um resumo da ópera aqui pelo Coruja. Como de hábito, vai uma miscelânea de coisas que andei lendo pelo segundo semestre - quadrinhos, vários romances LGBTQ+, ensaios, livros sobre escrita e sobre astronomia, e até poesia.


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18 de novembro de 2021

Projeto Agatha Christie: Morte na Praia


Houve uma pausa. Stephen Lane limpou a garganta e disse, com um leve toque de constrangimento:

- Eu fiquei interessado, Monsieur Poirot, por uma coisa que o senhor acabou de dizer. O senhor disse que o mal era cometido em todos os lugares embaixo do sol. Foi quase uma citação do Eclesiastes. - Ele fez uma pausa e então citou por conta própria: -
Sim, também o coração dos filhos dos homens é repleto de mal, e a loucura está em seus corações enquanto vivem.

Publicado inicialmente de forma serializada na revista americana Collier's Weekly, em fins de 1940, Morte na Praia - ou Evil Under the Sun no original - é um dos mais populares romances de Agatha Christie e traz Hercule Poirot de férias num luxuoso hotel à beira mar, ansioso por alguns dias de paz e tranquilidade.


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21 de outubro de 2021

The Five: a história não contada das mulheres assassinadas por Jack, o Estripador


Insistir que Jack, o Estripador, matou prostitutas também torna a história de uma série grotesca de assassinatos um pouco mais palatável. Assim como ocorria no século XIX, a noção de que as vítimas eram "apenas prostitutas" procura perpetuar a crença de que há mulheres boas e más; madonas e prostitutas. Sugere que existe um padrão aceitável de comportamento feminino e que as que se desviam dele devem ser punidas. Igualmente, ajuda a reafirmar o duplo padrão, exonerando os homens dos erros cometidos contra essas mulheres.

Lembro-me vagamente de quando estive em Londres sozinha, em 2014, descer do ônibus em Whitechapel a caminho de algum outro lugar, olhar as placas pelo caminho e pensar com meus botões "então foi por aqui que Jack andou fazendo das suas". Não cheguei a explorar nada no caminho, mas fiquei com o personagem na cabeça um bom tempo. Até cheguei a pensar em fazer um daqueles passeios guiados, mas não tinha tempo dentro da minha programação.


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14 de outubro de 2021

Mais Mortais que os Homens: Obras-primas do terror de grandes escritoras do século XIX


- E o que é isto, Paul? – perguntou Evelyn, abrindo uma caixinha de ouro manchada, examinando o conteúdo com curiosidade.

– Sementes de uma desconhecida planta do Egito – respondeu Forsyth, com uma súbita expressão nublada em seu rosto escuro, ao ver os três grãos escarlates na palma da mão alva levantada na sua direção.

– Onde as conseguiu? – perguntou a moça.

– Essa é uma história estranha, que só vai assombrá-la se eu lhe contar – disse Forsyth, com uma expressão distraída que mais atiçou a curiosidade da jovem.

– Por favor, conte-me, gosto de histórias estranhas, e elas nunca me assombram. Ah, conte-me; suas histórias são sempre tão interessantes – ela exclamou, com um olhar tão persuasivo e irresistível, que seria impossível recusar seu pedido.

– Vai se arrepender disso, e eu também, provavelmente.

Às vezes é um título que te chama a atenção; em outras, a capa te captura o olhar, ou ainda, é a sinopse que te abre o apetite. Há muitas razões para tirar um livro da prateleira, dependendo até do humor do dia. Fato é que Mais Mortais que os Homens apertou todos os botões certos para me fisgar, incluindo aí a conveniência de lê-lo antes de outubro para fazer parte das minhas resenhas para o All Hallow’s Read.


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Sobre

Livros, viagens, filosofia de botequim e causos da carochinha: o Coruja em Teto de Zinco Quente foi criado para ser um depósito de ideias, opiniões, debates e resmungos sobre a vida, o universo e tudo o mais. Para saber mais, clique aqui.

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