12 de maio de 2022

Reflections: sobre a magia da escrita na pena de Diana Wynne Jones


Escritores de fantasia para crianças têm uma grande responsabilidade: qualquer coisa que escrevam provavelmente terá um efeito profundo nos próximos cinquenta anos. Você pode descobrir o porquê disso se perguntar a dez adultos qual livro eles se lembram melhor de sua infância. Nove deles certamente nomearão uma fantasia. Se você se aprofundar nas questões, descobrirá seus nove adultos admitindo que adquiriram muitas das regras pelas quais vivem neste livro que os impressionou tanto.

Há tempos que eu estava atrás desse livro. Não li tanto da bibliografia de Jones para ter uma opinião formada sobre a autora: bem verdade que O Castelo Animado continua hoje a ser uma das minhas leituras de conforto e, claro, conheço Crestomanci e toda a polêmica em torno de suas semelhanças com a obra da Rowling; mas considerando a quantidade de títulos que essa mulher escreveu (contei mais de cinquenta, fora contos que apareceram em diversas antologias), o que conheço é um pingo no oceano.

Contudo, Jones é uma favorita do Gaiman (que assina a introdução deste volume), e foi aluna em Oxford tanto de Tolkien quanto de C. S. Lewis. Isso era o suficiente para puxar minha atenção. Reflections, em especial, interessava-me por ser uma coletânea de ensaios (um formato que gosto demais) tendo por tema o trabalho do escritor; uma obra mais madura, numa bibliografia voltada principalmente para narrativas infanto-juvenis.

Finalmente consegui deitar minhas mãos nele e valeu à pena ter procurado tanto por ele - logo entre os primeiros ensaios, há uma análise dos ritmos de Tolkien em O Senhor dos Anéis tão brilhante que senti-me até invejosa: considerando o que faço cá no Coruja, é uma peça que eu gostaria de ter escrito!

Até a primeira metade do livro, cada novo ensaio me empolgava mais e mais, especialmente aqueles em que Jones analisa seu processo de escrita e encadeamento de ideias. Ela dá uma aula sobre inspiração e o trabalho que vem depois, e o que nos apresenta de sua biografia é diferente, perturbador, mas também cativante. Jones é uma contadora de histórias nata e sabe enfeitiçar o ouvinte/leitor.

Da metade para o fim, contudo, ele se torna repetitivo ao contar e recontar as mesmas histórias. Compreensível, considerando se tratar de uma coletânea de escritos que abrange décadas e sobre temas que retornariam várias vezes durante sua carreira.

A certa altura dos acontecimentos, passamos até a duvidar se o que ela diz é verdade ou se ela mesma não criou um personagem para si no conto de abandono parental que se repete por palestras, entrevistas e ensaios. É tudo redondinho demais, por vezes quase dickensiano. Um dos últimos textos do volume é de um dos filhos de Jones e ele mesmo questiona a versão da mãe.

No final, ainda que o tenha considerado em partes repetitivo e datado - há alguns pontos levantados por Jones sobre representatividade, por exemplo, que me incomodaram, mas são fruto do contexto e criação que ela teve -, encontrei muito em Reflections que me interessava. O grande problema da obra é querer reunir tudo num só lugar, sem um trabalho de seleção e edição.

Enfim, valeu a curiosidade. E verei se dou um jeito de traduzir o ensaio sobre Tolkien - ele é muito bom, de fato, e merece ser conhecido e compartilhado (mas como são umas vinte e tantas páginas e tempo anda curto, pode demorar um pouco... vamos ver no que dá...).

Nota:
(de 1 a 5, sendo: 1 – Decepção; 2 – Mais ou Menos; 3 – Interessante; 4 – Recomendo; 5 – Merece Releitura)

Ficha Bibliográfica

Título: Reflections: On the Magic of Writing
Autor: Diana Wynne Jones
Editora: Greenwillow Books
Ano: 2012

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A Coruja


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