2 de fevereiro de 2022

O Livro do Conforto: um abraço em palavras


"A linguagem nos dá poder de dar voz à nossa experiência, de restabelecer uma ligação com o mundo e mudar nossa vida e a de outras pessoas. “Não existe agonia maior do que carregar dentro de si uma história não contada”, escreveu Angelou. O silêncio é dor. Mas é uma dor com rota de saída. Quando não podemos falar, podemos escrever. Quando não podemos escrever, podemos ler. Quando não podemos ler, podemos ouvir. As palavras são sementes. A linguagem é um modo de voltar para a vida. E às vezes isso é o mais vital dos consolos de que dispomos."

Indicado como um dos melhores não ficção de 2021 no Goodreads Choice Awards, O Livro do Conforto já me chamou a atenção desde o título. Considerando ainda que não era a primeira vez que Haig concorria (ele venceu melhor ficção em 2020, com A Biblioteca da Meia Noite), fiquei curiosa e fui atrás.

Esse é um daqueles títulos feitos sob medida para viver à cabeceira e estar sempre folheando. São pequenas reflexões, alguns aforismos, listas, até receitas - mensagens, sobretudo, de esperança e força. Gostei particularmente da história sobre Somewhere Over the Rainbow e imediatamente coloquei a canção para tocar quando li sobre ela. Não há nada de extraordinariamente novo no que Haig escreve aqui, mas saídos de um período tão turbulento como o que vivemos (e que ainda não terminou por completo), são coisas que precisamos ouvir (ou, no caso, ler).

O Livro do Conforto é também daqueles livros que você pode reler abrindo a partir de qualquer página, e encontrar exatamente o alívio que ele promete da capa. Não são palavras vazias: Haig conhece a depressão e a ansiedade, fala de uma posição de experiência sobre lidar com tanta angústia. Há intimidade e companheirismo na forma como ele compartilha suas memórias e como fala da necessidade de manter a esperança.

"A esperança é persistente. Tem o potencial de existir mesmo nos momentos mais difíceis. Esperança não é a mesma coisa que felicidade. Não é preciso estar feliz para ter esperança. Em vez disso, é preciso aceitar a impossibilidade de conhecer o futuro e que existem versões do futuro que podem ser melhores do que o presente. A esperança, na sua forma mais simples, é a aceitação de possibilidades."

Ler esse título me deu a impressão de acolhimento de uma xícara de chá quentinho num dia de chuva, uma manta na qual se aconchegar ou uma fornada de biscoitos amanteigados saindo do forno e espalhando perfume pela casa (não liguem para minha mania de comparar livros com sensações despertadas por guloseimas…). Ele é um abraço em formato de livro - e, numa época em que sentimos tanto a falta de abraços, não é uma surpresa ter gostado tanto dele quanto gostei.

Enfim, esse é um título ótimo para ter à mão, melhor ainda para dar de presente - despachei meia dúzia no Natal passado e provavelmente vou enviá-lo para mais uns tantos esse ano -: leitura rápida, daquelas que dá para terminar em uma sentada; mas cuja gentileza com o leitor faz merecer revisitá-lo. Um conforto, sem dúvida.

Nota:
(de 1 a 5, sendo: 1 – Decepção; 2 – Mais ou Menos; 3 – Interessante; 4 – Recomendo; 5 – Merece Releitura)

Ficha Bibliográfica

Título: O Livro do Conforto
Autor: Matt Haig
Tradução: Livia de Almeida
Editora: Intrínseca
Ano: 2021

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A Coruja


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