6 de abril de 2022
Projeto Agatha Christie: Por que não pediram a Evans?
Bobby seguiu caminhando devagar. Havia, ele sabia bem, um ponto por onde se podia descer com relativa facilidade. Os caddies faziam isso, lançando-se por sobre a borda e reaparecendo, triunfantes e ofegantes, com a bola perdida.
De súbito, Bobby enrijeceu o corpo e chamou seu companheiro.
– Doutor, venha ver uma coisa. O que pode ser aquilo?
Pouco mais de dez metros abaixo se via uma forma escura amontoada, parecendo uma pilha de roupas velhas.
O médico prendeu a respiração.
– Meu Deus... – ele disse. – Alguém caiu no penhasco. Precisamos chegar até lá.
Por que não pediram a Evans? foi publicado originalmente em 1934 no Reino Unido; no ano seguinte saiu nos Estados Unidos com o título alternativo A Pista do Bumerangue. É um romance aventuresco, e, embora não o considere um dos melhores mistérios criados por Agatha Christie, é certamente um dos mais divertidos, num espírito parecido com o de O Segredo de Chimneys.
Tudo começa quando o simpático Bobby Jones, por culpa de uma bola ruim num jogo de golfe, encontra um homem prestes a dar seu último suspiro. As palavras finais do homem – “por que não pediram a Evans?” – levam Bobby, com a ajuda da amiga de infância e nobre local Lady Frances Derwent, a investigar o ocorrido, mesmo após as investigações oficiais declararem que tudo não passou de um acidente.
Bobby e Frances (ou Frankie, como é apelidada) são um tanto inverossímeis em suas motivações: ele sofre um atentado logo após as investigações começarem, mas não parece levar a situação muito a série e é óbvio desde o início que Frankie só entrou nessa enrascada por puro tédio.
Há algo de Tommy e Tuppence na dupla; mas o casal de espiões amadores de O Adversário Secreto funciona melhor - seja por suas motivações, seja pelo seu preparo prático, por aquilo que aprenderam atuando durante a guerra. Mas os dois casais têm em comum a simpatia e juventude e a forma como contrastam com os hábitos da geração mais velha.
Não se trata de uma narrativa tão polida quanto os seus melhores mistérios e há algumas cenas meio difíceis de engolir em questões de verossimilhança. Bom exemplo disso é Bobby, logo no começo, simplesmente abandonando o corpo com um desconhecido por estar preocupado com quem vai tocar o órgão no serviço do pai - e sem demonstrar qualquer reação mais genuína que um ligeiro desconforto em ver um homem morrer na sua frente.
Apesar disso, e ainda, considerando que se trata de uma história repleta de assassinatos, traições e potenciais psicopatas, Por que não pediram a Evans? é um livro leve, de leitura rápida e despretensiosa. Um daqueles enredos que parece feito sob medida para uma adaptação Sessão da Tarde - ou talvez no espírito Scooby-Doo: “e eu teria conseguido se não fossem essas crianças intrometidas e esse cachorro idiota” (sem cachorros na versão de Bobby e Frankie, claro).
Vale à pena, nem que seja só para rir da franca inabilidade do par protagonista de enxergar o que literalmente estava o tempo todo debaixo de seus narizes.
Nota:
(de 1 a 5, sendo: 1 – Não Gostei; 2 – Mais ou Menos; 3 – Gostei; 4 – Gostei muito; 5 – Excelente)
Ficha Bibliográfica
Título: Por que não Pediram a Evans?
Autor: Agatha Christie
Tradução: Rodrigo Breunig
Editora: L&PM Editores
Ano: 2015
Onde Comprar
Amazon
A Coruja
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Sobre
Livros, viagens, filosofia de botequim e causos da carochinha: o Coruja em Teto de Zinco Quente foi criado para ser um depósito de ideias, opiniões, debates e resmungos sobre a vida, o universo e tudo o mais. Para saber mais, clique aqui.
Nenhum comentário:
Postar um comentário