26 de julho de 2022

Projeto Agatha Christie: O Caso do Hotel Bertram


No coração do West End, há diversos lugares tranquilos, desconhecidos de quase todo mundo, à excção dos motoristas de táxi, que os atravessam com a habilidade de especialistas, chegando triunfantemente a Park Lane, Berkeley Square ou South Audley Street.

Se você se afastar de uma despretensiosa rua que sai do parque e virar à esquerda e depois à direita uma ou duas vezes, irá se encontrar numa rua tranquila, onde fica o Hotel Bertram, do lado direito. O Hotel Bertram está ali há muito tempo. Durante a guerra, algumas casas foram demolidas à direita e, um pouco adiante, à esquerda. Só o Bertram se manteve intocado.

Quando Miss Marple decide tirar umas férias em Londres, ela tem oportunidade de se hospedar no hotel Bertram, que visitara em sua juventude e lhe deixara uma forte impressão. Contudo, após um misterioso desaparecimento e um assassinato, ela descobrirá que a reputação do local não é tão imaculada quanto se poderia pensar.

Publicado originalmente em 1965, O Caso do Hotel Bertram, tem várias subtramas acontecendo, que se ligam através das relações de uma mãe e filha que há muito não se veem. Há um mistério referente ao sumiço do cônego Pennyfather, outro que liga uma série de ousados roubos a personagens que transitam pelo hotel e que estariam acima de qualquer suspeita, e ainda, a tentativa de assassinato da jovem Elvira Blake, que termina com a morte de um dos funcionários do Bertram. Presidindo a investigação pelo lado da Scotland Yard, há o Inspetor-chefe Fred Davy, um detetive sagaz e meticuloso, que, partindo de um caso aparentemente simples, está de olho num peixe muito maior, um Sindicato do Crime com tentáculos que avançam para além de Londres.

Miss Marple aparece aqui quase como um adendo. É certo que observações feitas pela velhinha detetive ajudam Davy a desenrolar o nó que o mistério do Bertram apresenta - um providencial despertar no meio da noite para observar uma figura familiar no corredor; uma série de convenientes encontros e conversas entreouvidas em salões de chá -, mas a verdade é que ela é meio superficial à investigação, muito diferente de outras aparições brilhantes (como no excelente Um Mistério no Caribe).

O Caso do Hotel Bertram tem suas curiosidades, como um "Napoleão do Crime" quase ao estilo Moriarty de ser, algumas femme fatales mais ou menos óbvias e o contraste de tradição e modernidade representado pelas engrenagens que fazem o hotel funcionar. Mas parece uma mistura de dois quebra-cabeças diferentes, onde a solução que liga as duas imagens quase não encaixa: por mais que se fale de instinto materno, aquela solução, a partir do que tínhamos visto do caráter dos personagens até o momento, não parece realmente crível.

Não é o melhor livro da tia Agatha, embora ele tivesse um ponto de partida muito interessante. Talvez pelo plot mais aberto, cosmopolita, com criminosos internacionais, esquemas financeiros complexos, no lugar dos mistérios confortáveis em comunidades (elenco de suspeitos) fechadas (às vezes até um tanto claustrofóbicas, como um grupo de viajantes num trem ou barco ou ilha…), que caracterizam várias de seus melhores romances; ou, quem sabe, pelo final não tão satisfatório em sua resolução. Mas ainda é um mistério daqueles que te prendem até a última página, tentando descobrir o final.

Nota:
(de 1 a 5, sendo: 1 – Decepção; 2 – Mais ou Menos; 3 – Interessante; 4 – Recomendo; 5 – Merece Releitura)

Ficha Bibliográfica

Título: O Caso do Hotel Bertram
Autor: Agatha Christie
Tradução: Bruno Alexander
Editora: L&PM
Ano: 2016

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