17 de janeiro de 2023

Só Você Pode Salvar a Humanidade: uma história sobre guerra e jogos, na pena de sir Pratchett


“Como vocês podem ser os mocinhos se estão jogando bombas inteligentes na chaminé das pessoas? E explodindo as pessoas só porque elas estão sendo governadas por um maluco?"

Tenho por tradição começar o ano com uma primeira leitura pratchettiana. Não tenho mais volumes do Discworld para ler (não que isso seja um problema, releituras também são válidas), mas há algumas séries e volumes únicos de histórias fora do mundo do Disco.

Assim é que comecei 2023 com Only You Can Save Mankind, primeiro de uma trilogia infanto-juvenil que segue o protagonista, Johnny Maxwell, em aventuras pelo nosso mundo, mas ainda capaz de conter coisas mágicas e extraordinárias.

Nesse caso, uma frota de alienígenas de uma franquia de videogames se rende a Johnny na tentativa de sobreviver à humanidade. Concomitante ao que está acontecendo na tela de seu computador (e em algum nível de sua consciência quando está dormindo), notícias diárias na TV falam da Guerra do Golfo de uma tal maneira que mais parece se tratar de um grande jogo.

Vários dos temas preferidos do Pratchett aparecem aqui - nossa percepção de mundo, incluindo filtros e preconceitos que influem nela; tecnologia e progresso; guerra, paz e nossas convenções sobre o assunto.

Não é o melhor livro do Pratchett - a publicação original é de 92, quando ele estava começando a experimentar e aprofundar mais a sátira e comentário social que caracterizaram a série Discworld. Mas traz seu humor ácido e sua capacidade de despertar reflexões várias - a introdução de uma guerra real não datou tanto a história quanto eu imaginava e me fez pensar muito na situação atual entre Ucrânia e Rússia.
"Johnny percebeu que estava ficando com raiva de novo. Ele não costumava ficar com raiva. Em vez disso permanecia quieto, ou se sentia miserável. A raiva era incomum. Mas quando chegou, transbordou.

- Eles tentaram falar com você e você nem parou para escutar! Você foi a única outra pessoa que se envolveu tanto! Estava tão louca para ganhar que conseguiu deslizar para o espaço de jogo! E você teria sido muito melhor em salvá-los do que eu! Mas você não escutou! Mas eu escutei e passei uma semana tentando Salvar a Humanidade enquanto dormia! São sempre pessoas como eu que têm que fazer coisas assim! Pessoas que não são tão espertas e que não ganham coisas são as que morrem o tempo todo! E você apenas ficou por perto e assistiu! É como na televisão! Os vencedores se divertem! Tipos vencedores nunca perdem, eles apenas vêm em segundo lugar! São todas as outras pessoas que perdem! E agora você só pensa em ajudar a Capitã porque acha que ela é como você! Bem, eu não me importo mais, Senhorita Esperta! Eu fiz o meu melhor! E vou continuar fazendo! E todos eles voltarão ao espaço do jogo e será como os Space Invaders novamente! E estarei lá todas as noites!"

Houve momentos em que me lembrei muito de O Jogo do Exterminador, que foi publicado mais ou menos na mesma época (o conto que originou o argumento é de 77, mas o livro foi lançado em 91). Pratchett, contudo, é mais otimista, sem uma enorme teoria da conspiração no meio do caminho, assim como Johnny é bem mais inocente que Ender. Enfim, são duas narrativas que bebem do mesmo contexto histórico - a primeira Guerra do Golfo, entre 1990 e 1991, conflito que teve um altíssimo custo humano, e no qual, pela primeira vez, as pessoas acompanharam, ao vivo, o que estava acontecendo pela TV.

Only You Can Save Mankind é uma leitura rápida, tipicamente pratchettiana, embora sem tanta complexidade quanto livros posteriores do autor. Uma boa maneira de começar o ano.

Pensando agora se devo reler O Fabuloso Maurício e seus Roedores Letrados para me preparar para a estreia de O Grande Mauricinho.

Nota:
(de 1 a 5, sendo: 1 – Decepção; 2 – Mais ou Menos; 3 – Interessante; 4 – Recomendo; 5 – Merece Releitura)

Ficha Bibliográfica

Título: Only You Can Save Mankind
Autor: Terry Pratchett
Editora: RHCP Digital
Ano: 2009

Onde Comprar

Amazon


A Coruja


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3 comentários:

  1. Achei bem interessante a premissa do livro. Ainda vou me dedicar mais a ler Pratchett. Li pouco dele, confesso. Alguns volumes da série Discworld.

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    1. Discworld pode assustar pelo tamanho da série; mas há vários pontos de entrada e, de forma geral, não existe uma ordem de leitura, os livros têm histórias razoavelmente independentes.

      Mas se você quer mergulhar no mundo do Pratchett e não quer começar pelo Disco, eu recomendo procurar Nation (https://owlsroof.blogspot.com/2019/01/projeto-pratchett-nation.html). É um livro independente, fora de qualquer uma das séries, volume único, e que junta numa única história muito do que caracteriza a obra do Pratchett. É um dos melhores dele (ele mesmo dizia que era seu favorito) e merece todos os prêmios e reconhecimento que recebeu.

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    2. Oi! Obrigado pela dica. Vou conferir esse livro, com certeza!

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