30 de abril de 2022

Desafio Retratos Literários - Ano 6


E pelo sexto ano consecutivo, tivemos por aqui o Desafio Retratos Literários!Eu sempre me empolgo pensando em como casar temas e títulos, ou como tentar fugir de escolhas óbvias - ou permiti-las em casos de favoritos.

Enfim, eu já postei diariamente no instagram, mas sempre gosto de deixar a lista final organizada, e assim, cá estamos nós novamente, com o painel de fotos desse ano para o #RetratosLiterários!



Dia 01. O que está lendo/Próximas leituras || Bem, se eu fosse colocar tudo aqui, a pilha não caberia na foto, então escolhi só dois títulos para compartilhar. Estou lendo Desaparecidos em Luz da Lua, que é o segundo volume da série de fantasia A Passa-Espelhos. A construção de mundo da Dabos é um negócio de cair o queixo e algo nas imagens que ela evoca com seus cenários e personagens me faz pensar nos filmes da Ghibli. É uma das minhas leituras da vez. Já The Truth é um dos meu top 10 do Pratchett (talvez top 5, é difícil decidir entre os mais de quarenta volumes de Discworld...) e é uma releitura que eu estava guardando para esse ano - é uma história sobre imprensa, sobre manipulação midiática, sobre a necessidade de se buscar a verdade, sobre política; mas é também uma história inspiradora sobre seguir sua vocação (e fazer perguntas nem sempre convenientes).

Dia 02. História que se passa num meio de transporte || O primeiro título que me veio à mente, claro, foi Assassinato no Expresso do Oriente, mas decidi fugir do óbvio e depois de me plantar diante da estante por alguns minutos, decidi-me por Perdido em Marte, do Andy Weir, que tem cenas em naves e outros veículos espaciais. Gostei demais do livro por ele ter me pego de surpresa, trabalhado uma situação repleta de tensão e possibilidades angustiantes com genuíno humor. A parte do desenvolvimento científico também é muito boa.

Dia 03. História que se passa num lugar de livros || Escolhi lembrar aqui de A Vida do Livreiro A. J. Fikry, um pequeno melodrama, leitura rápida, sessão da tarde, protagonizado por um livreiro rabugento que, um belo dia, acorda com um bebê abandonado em sua porta. Alerta de livro que te faz chorar fácil!

Dia 04. História da Segunda Guerra Mundial || Quando os Livros Foram à Guerra abre com o primeiro dos grandes expurgos literários patrocinados pelo nazismo - um incêndio que se alastrou pela Alemanha entre maio e junho de 1933, num frenesi ideológico de caçada às bruxas. As notícias sobre a queima de livros fizeram as pessoas começarem a de fato entender o elemento ideológico que havia por trás da guerra. Pensando nisso e também nos momentos de tédio que os soldados enfrentariam, o Exército Americano montou uma operação enorme de distribuição literária. Esse livro conta os detalhes dessa operação, das razões para a escolha dos títulos que foram distribuídos entre os soldados, da guerra de ideias que acontecia nas trincheiras, nas longas travessias, na convalescência em hospitais de campanha. Muito interessante!

Dia 05. Prosa Poética || A prosa de J. R. R. Tolkien é grandiloquente, inspirada em uma cadência medieval, repleta de ritmo e poesia. Para esse dia, escolhi a bela edição de A Queda de Gondolin (uma das minhas próximas futuras leituras), que, embora tenha sido um dos últimos livros do Legendarium a ser publicado (postumamente), foi uma das primeiras histórias em que Tolkien trabalhou, ainda durante a Primeira Guerra Mundial.

Dia 06. História no litoral || Tudo começa quando o simpático Bobby Jones, por culpa de uma bola ruim num jogo de golfe, encontra um homem prestes a dar seu último suspiro. As palavras finais do homem – “por que não pediram a Evans?” – levam Bobby, com a ajuda da amiga de infância e nobre local Lady Frances Derwent, a investigar o ocorrido, mesmo após as investigações oficiais declararem que tudo não passou de um acidente. Parte da história se passa numa cidadezinha do litoral de Gales.



Dia 07. Ouvi num podcast || A escolha da vez foi o fantástico volume de ensaios Antropoceno: notas sobre a vida na terra, do John Green. Transcrito do podcast de mesmo nome, é uma leitura divertida, reflexiva, inspiradora. Recomendo para quem é fluente em inglês ouvir o podcast.

Dia 08. História de feriado || Uma viagem num feriado - uma jornada, uma busca, uma tentativa de compreender o mundo e a si mesmo. O Dia do Curinga era um título perfeito para esse tema e não pude resistir a colocá-lo aqui. Adoro esse livro, não apenas pelo enredo, mas pelas lembranças que tenho com ele. Basicamente, ele foi tema de debates em dois clubes do livro de que participei e em ambas as ocasiões, a troca de ideias foi maravilhosa. E ele também me traz a lembrança de ser aplaudida por velhinhas ranzinzas ao sair do café em que fizemos a reunião do clube. Tipo, elas acharam que nós estávamos fazendo muito barulho com a nossa conversa, mas, bem... era um café, em público, no meio de um shopping? Velhinhas ranzinzas, onde quer que vocês estejam, saibam que continuamos um grupo tão empolgado e barulhento quanto naquela época...

Dia 09. Mundos e dimensões paralelas || Escolhi aqui um pouco de metanarrativa, com personagens que entram em outros mundos através dos livros de forma literal. Coração de Tinta é uma fantástica aventura e, embora seja parte de uma trilogia, funciona perfeitamente como livro único (na verdade, recomendo tratá-lo como único; eu detestei a continuação).

Dia 10. História que se passe em mais de um país || Os romances do Umberto Eco costumam passear por várias localidades, repletos de teorias da conspiração, personagens reais que cruzam com seus personagens imaginários, situações por vezes surreais ou talvez apenas peças pregadas na mente de seus elencos... Baudolino é um de seus livros mais fantasioso, e vai da Europa ao Oriente atrás de reinos míticos e anedotas cada vez mais cabeludas. Eu adoro como os narradores do Eco costumam ser tão pouco confiáveis que sempre fica a dúvida se eles estão simplesmente mentindo (ou delirando) ou se aquilo está de fato acontecendo.

Dia 11. Realismo fantástico de tempero latino || Adoro a obra e a figura de Borges, sua tenacidade, seu humor e sua capacidade de criar labirintos metalinguísticos. Ficções é considerado sua obra-prima, e é uma das melhores coleções de contos que já li.

Dia 12. Indicado ao Goodreads Awards || Alerta de Risco não apenas foi indicado ao Goodreads Choice Awards quando foi lançado, em 2015, como ganhou o prêmio na categoria melhor fantasia. Essa antologia de contos do Gaiman é extremamente versátil, com contos em diferentes gêneros, experimentos narrativos e mesmo poesia.



Dia 13. Ficção com personalidades do mundo real || Não resisti a escolher aqui A Manobra do Rei dos Elfos, que é uma narrativa absolutamente hilariante sobre uma missão de resgate do príncipe delfim da França das garras de Napoleão Bonaparte, missão esta capitaneada por ninguém menos que Goethe. Para tanto, Goethe decide montar uma equipe de poetas sob medida para o trabalho – Friedrich Schiller, Heinrich von Kleist, Achim von Arnim, mais o geólogo Alexander von Humboldt, e a romântica Bettine Brentano –, afinal, ninguém poderia ser mais capacitado para uma missão de infiltração e subterfúgios que um bando de escritores cabeça quente que se identificam com o movimento Sturm und Drang. Sério, como eu poderia resistir a essa sinopse?

Dia 14. Julgue um livro pela capa! || Nada poderia ser mais adequado ao tema que Frankenstein, com Victor e sua Criatura e os julgamentos que ambos fazem sobre monstruosidade e humanidade. E sim, essa foi uma edição que escolhi pela capa (e tradução, pois gosto demais do trabalho da Zahar). Tenho a impressão de que encaixo esse livro em todo desafio literário que faço, e sempre numa edição nova a cada releitura...

Dia 15. Crítica literária || Abril é o mês de nascimento e morte de Shakespeare, o que significa ser um bom mês para ler o bardo ou sobre ele (bem, na minha opinião, é sempre uma boa época para ler Shakespeare, mas, enfim...). Recomendo pois O que você precisa saber sobre Shakespeare antes que o mundo acabe, uma coletânea de ensaios escritos no contexto da pandemia, organizado por Fernanda Medeiros e Liana de Camargo Leão. Boa parte das contribuições são de especialistas brasileiros, entre acadêmicos, jornalistas, atores e diretores. Os insights sobre luto e política apresentados em vários deles deixaram-me sem chão, disposta a reler muitas das peças e tirar minhas próprias conclusões. Recomendo muito, fiquei até meio surpresa com o tanto que gostei do livro.

Dia 16. Ensaístas || Separei para esse tema Ex-Libris: Confissões de uma Leitora Comum, da Anne Fadiman, curtinho, rápido de ler e uma delícia para se perder entre suas páginas. Fora que terminei a leitura com outra lista de mais livros ainda para colocar nas futuras aquisições. Foi por causa de Fadiman que comecei a procurar histórias sobre a exploração dos polos e nada tenho a me arrepender disso...

Dia 17. Protagonista LGBTQIA+ || Descobri The Marvellous Light em alguma lista de recomendações do goodreads e mesmo antes da publicação ele me pescou com a promessa de humor, romance, passeios de bote, bibliotecas misteriosas e casas senscientes. Peguei-o para ler mês passado, sem grandes expectativas. Pisquei o olho, era três horas da manhã e eu tinha devorado o volume inteiro em vez de dormir. Foi um dos melhores do ano (até aqui), divertido e surpreendentemente leve. Resenha em breve!

Dia 18. Livro de contos || Vamos com a coletânea Jane Austen Made Me Do It, reunindo diversas autoras janeites explorando diversas facetas da obra de nossa romancista favorita... Há vários fantasmas, algumas tantas ‘cenas deletadas’, peças do período regencial e romances modernos: num momento você está nos anos 60 interpretando Razão e Sensibilidade a luz dos Beatles; em outro você acompanha Austen contando as sobrinhas sobre os gatos de Mansfield Park; Capitão Wentworth explica como serviu, sem perceber, de cupido entre sua irmã e o então capitão Croft e Darcy vai ao tribunal reclamar de uma camisa molhada. É um livrinho bem divertido; alguns contos me deixaram até com vontade de ler uma versão expandida. Uma boa pedida para leitores de Austen entre uma releitura e outra das obras clássicas



Dia 19. Peça de teatro || Vamos com um clássico - a comédia shakesperiana A Megera Domada - talvez uma das primeiras comédias românticas da literatura. Essa é uma das resenhas mais acessadas tanto no blog quanto no meu Skoob - talvez pela citação ao Mushu?

Dia 20. Sob pseudônimo || "Eu não sou um pássaro; e nenhuma rede me prende; eu sou um ser humano livre com uma vontade independente." Jane Eyre é um daqueles livros que te marcam e que você leva para o resto da vida consigo. Publicado originalmente sob o pseudônimo Currer Bell - todas as irmãs Brontë escreveram sob pseudônimos

Dia 21. Livro com história perturbadora || O Chamado do Monstro é um livro infanto-juvenil bastante perturbador, sem dúvida - não pelos motivos óbvios do título, mas por se tratar de uma história sobre um garoto cuja mãe tem um câncer terminal e a forma como ele tenta lidar com a raiva, a angústia, a sensação de abandono e o luto por alguém que ainda está vivo, mas definhando a olhos vistos. É uma leitura dolorosa, mas catártica, que foi transformada em filme algum tempo atrás com outro titulo: Sete Minutos Depois da Meia-Noite.

Dia 22. Pitada de contos de fadas || Eu fiquei encantada com as imagens que a autora consegue evocar nesse livro - algo que ela já tinha feito em O Circo da Noite -, é uma leitura daquelas que você quase consegue sentir os cheiros, as sensações na pele, o sabor do mel (algo muito importante no enredo), as luzes, os sons... O Mar sem Estrelas é uma narrativa repleta de fios que se intercruzam, experimental em sua narrativa fragmentada, mas que vai se costurando aos poucos entre uma miríade de ironias intertextuais. Daqueles livros que é difícil categorizar e que eu queria desesperadamente ver adaptado para as telas. O labiríntico mundo subterrâneo, o baile de máscaras, o salão dos colecionadores, o porto do mar sem estrelas - tantos lugares que eu queria VER traduzidos em cenários reais...

Dia 23. Plot twist de cair o queixo || Plot twist a gente vê por aqui! Agatha Christie é mestra em te embaralhar o juízo com seus finais, e E não sobrou nenhum é um dos melhores nesse requisito. Tempos atrás fizemos a leitura e debate dele no clube do livro e foi uma discussão muito interessante sobre a diferença entre justiça e vingança, sobre respeito aos procedimentos, e o que acontece quando a justiça falha. Um dos melhores títulos da Rainha do Crime.

Dia 24. Primeiro que li de um autor favorito || Uma História da Leitura foi o primeiro livro do Manguel que li e, a partir daí, sai atrás de tudo o mais que tinha dele escrito. Hoje em dia, Manguel é um daqueles autores que eu leria até a lista do supermercado...



Dia 25. Um calhamaço || Escolhi esses dois volumes/tijolos das Memórias da Segunda Guerra Mundial, pelas quais Churchill recebeu o Nobel da Literatura. Não à toa; Churchill tinha um controle incendiário da linguagem, como se percebe bem de seus discursos. Embora sejam um calhamaço, as Memórias de Churchill têm uma prosa clara, elegante, muito fluida de ler, repleta de ironia fina e insights valiosos de um dos períodos mais conturbados da História

Dia 26. Uma sátira || Desde o começo do ano, Ardil-22 tem estado na minha mente, por uma infinidade de razões. Esse romance satírico ambientado na segunda guerra é um livro francamente genial na forma como demonstra o absurdo da guerra e a imbecilidade da burocracia pela burocracia. É um livro que te faz engasgar de rir, mas, algumas vezes, trata-se de um riso nervoso, até desconfortável, pelo que conseguimos reconhecer e trazer para nossa realidade.

Dia 27. Uma releitura || Releitura é um tema que pode ser interpretado de vários jeitos. Pode ser a ação de reler algo, mas pode ser também uma nova visão ou ponto de vista em cima de uma obra anterior. Fui com o segundo significado, uma releitura dos personagens clássicos de Conan Doyle por Anthony Horowitz. The House of Silk é uma boa história de Sherlock Holmes, com um ritmo mais acelerado que o dos contos e romances originais, um pouco mais agridoce, mas bastante surpreendente. Recomendo para os fãs do personagem

Dia 28. Não foi bem assim que aconteceu... || Aqui temos a série The Chronicles of the Imaginarium Geographica do James A. Owen, que começa com Here, There Be Dragons, na qual três escritores de fantasia são eles mesmos transportados para um mundo paralelo, onde viverão uma aventura cujos rumos podem interferir em nossa realidade. Nada tão diferente, não fosse pelo detalhe de que nossos protagonistas são J.R.R.Tolkien, C.S.Lewis e Charles Williams e eles se tornam guardiões de um Atlas, e, além de tudo, há dragões, muitos dragões pelo meio do caminho...

Dia 29. Vi o filme e quero ler o livro || Vi a série de Gente Ansiosa e me diverti muito; o livro já estava na lista de futuras leituras por já ter lido o autor antes e gostado muito do estilo dele. Enfim, para o Retratos Literarios desse dia, faço o caminho inverso do meu normal - primeiro a adaptação, depois a obra que a inspirou.

Dia 30. Leituras do mês || Bem, continuei e comecei vários títulos, mas o único que consegui terminar de fato foi a releitura do clássico Robinson Crusoé, tema do próximo debate do Clube do Livro. Esse foi um daqueles títulos que li pela primeira vez criança e, minha percepção de então foi muito diferente da que tive agora.

Então, é isso... Espero que tenham gostado e ano que vem temos mais Retratos Literários!


A Coruja


____________________________________

 

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Sobre

Livros, viagens, filosofia de botequim e causos da carochinha: o Coruja em Teto de Zinco Quente foi criado para ser um depósito de ideias, opiniões, debates e resmungos sobre a vida, o universo e tudo o mais. Para saber mais, clique aqui.

Cadastre seu email e receba a newsletter do blog

powered by TinyLetter

facebook

Arquivo do blog