30 de dezembro de 2021

Retrospectiva Literária 2021


Mais um final de ano, mais uma retrospectiva!

Um dos meus rituais de fim de ano é olhar para as estatísticas de leitura; é a razão principal para manter um detalhado registro de tudo que vou lendo ao longo do ano. Não se trata apenas de visualizar os números globais - livros e páginas lidas, como se estivesse em algum tipo de competição -, mas de enxergar como leio, quando consigo sair da minha zona de conforto, se fui capaz de nesse tempo diversificar um pouco mais minha lista.

Olhando para meus registros, sei num passar de olhos que esse ano li mais mulheres (pouco mais da metade deles), e também um autor não binário e outra trans. Um pouco mais de 10% foram autores negros. Quase 75% da lista foram de autores que escreveram originalmente em língua inglesa - britânicos e americanos -, com autores brasileiros em terceiro lugar, e outras nacionalidades diversas em doses variadas. Bem, ao menos tive leituras de autores de todos os continentes esse ano…

Pelo segundo ano consecutivo, os e-books superaram os livros físicos - o kindle realmente mudou meus hábitos de leitura -, e, diferente do ano passado, tive mais ficção que não ficção no cardápio.

[É um tanto irônico como minha fascinação por gráficos e estatísticas é inversamente proporcional ao meu interesse geral pelas ciências exatas…]

No Coruja, foram 59 posts (contando com este) e 75 novas resenhas (alguns posts traziam resenhas de mais de um livro ao mesmo tempo). Muita coisa nova, mas também muitas releituras.

Enfim, minhas planilhas têm vários dados interessantes que uso para planejar futuras pesquisas de leituras, e que não chega a ser necessário compartilhar aqui. Para quem se interessa em fazer também esse tipo de registro, uso como base o template do Book Riot - com várias alterações para deixá-lo sob medida para as minhas necessidades.

Dito isso, vamos ao que interessa! A retrospectiva de um ano de leituras do Coruja!

A aventura que me tirou o fôlego:
Sem dúvida, para essa primeira categoria, o título tem de ser https://owlsroof.blogspot.com/2021/06/a-ilha-misteriosa-um-triunfo-do.html, de Jules Verne. Como escrevi na resenha, esse livro é basicamente um manual de como ser um náufrago bem sucedido, razão pela qual ele seria minha primeira escolha de título a carregar comigo para ir parar numa ilha deserta.


Já tinha lido esse livro antes, quando era criança, mas não tinha lembrança nenhuma da história (fora que tenho quase certeza que a versão que li mais de vinte anos atrás não era o texto integral), então foi como ler pela primeira vez. E, decididamente, não apenas surpreendeu como tirou o fôlego em vários momentos.

O mistério mais enigmático:
Como estou no meio do meu Projeto Agatha Christie, pareceria bastante lógico indicar um dos livros dela nessa categoria… Mas o título que vou escolher é um romance! Estou falando de One Last Stop, da Casey McQuiston (que vai sair aqui no Brasil agora em janeiro), que tem em seu centro dois mistérios que se cruzam a certa altura dos acontecimentos: o desaparecimento do tio de August décadas atrás - que deixou a mãe da garota obcecada por descobrir o que aconteceu ao irmão - e o aprisionamento de Jane num lapso temporal, dentro do metrô.

É uma das partes mais interessantes da história, a forma como August utiliza os talentos que aprendeu da mãe por toda a vida para puxar as memórias de Jane - que não faz ideia de como foi parar na situação atual e sequer sabe quem ela é de verdade - para resolver a questão.

O romance que me fez suspirar:
Li um monte de romance esse ano - passei um mês enfileirando uma adaptação em quadrinhos dos romances harlequin atrás da outra -, mas a história que realmente me conquistou foi a série em quadrinhos Heartstopper (que vai sair como série na Netflix em algum momento do próximo ano!).

O relacionamento de Charlie e Nick se constrói de uma maneira muito genuína, os dois são tremendamente fofos em todas as suas interações, e eu achei brilhante a maneira como a Oseman trabalhou a questão de saúde mental até aqui. Heartstopper foi um oásis em meio a uma pilha de romances repetitivos (e até tóxicos em alguns momentos) que li, tentando achar algo de diferente. Falo mais sobre o assunto em outra categoria dessa lista.

A fantasia que me encantou:
Under the Whispering Door, do T. J. Klune, era um dos livros pelos quais eu estava mais ansiosa em 2021, e ele atendeu muito bem às minhas expectativas. É o tipo de livro que te faz rir e chorar, que te acolhe e abraça, que te deixa de coração quentinho no final. Não vou negar que a trama foi bastante previsível, mas isso não alterou em nada a forma como Klune conseguiu - de novo - me cativar completamente com seu dinâmico elenco de personagens.

A ficção científica que me fez viajar:
É assim que se perde a guerra do tempo, de Amal El-Mohtar e Max Gladstone. Esse livro também podia estar na categoria de romance do ano, porque as cartas que Red e Blue escrevem uma para a outra estão entre as mais intensas e apaixonadas que já li.

Mas o que achei genial aqui foi a maneira como os dois autores conseguiram trazer através de cartas, por meros vislumbres entre as ameaças e declarações das duas protagonistas, um mundo tão rico, que te deixa morrendo de vontade de descobrir muito mais - sobre as facções a que elas pertencem, sobre a guerra de que participam, sobre a maneira como a viagem no tempo funciona… E tudo isso com uma linguagem poética, cheia de ritmo, avassaladora em certos momentos.

Eu fiquei tão apaixonada por esse livro que li ele duas vezes quase seguidas uma da outra, em inglês e em português. Um dos melhores títulos do ano, sem dúvida.

A saga que me conquistou:
Tenho evitado sagas nos últimos tempos; falta-me paciência para seguir uma história por vários volumes seguidos, ainda mais se for uma série ainda sendo publicada. Mas li esse ano a trilogia das Irmãs Brown, da Talia Hibbert, começando com Acorda pra Vida, Chloe Brown, e me diverti imensamente com Chloe, Dani e Eve.


O post no qual escrevi sobre elas foi uma das resenhas que mais gostei de escrever esse ano - quando compartilhei com vocês minhas teorias açucaradas sobre o gênero e expliquei minha descida ladeira abaixo numa pilha de romances harlequin.

O clássico que me marcou:
Dois clássicos - ambos de ficção científica - me marcaram sobremaneira esse ano. O primeiro foi O Homem Ilustrado, do Ray Bradbury, uma antologia de contos que me assombrou por toda a leitura. Bradbury tem o condão de criar cenários surreais e ainda assim falar de temas concretos, pesados, importantes.

O segundo foi O Homem Invisível, de H. G. Wells, que me fez pensar muito no isolamento e nas consequências do que temos vivido. Mais que a trama em si, foi o momento que estávamos vivendo que tornou a leitura tão impactante. Sempre fico contente quando os livros certos me encontram no momento em que mais preciso deles.

A leitura mais surpreendente do ano:
Tá difícil ficar em um só título nessa lista… Também aqui, foram dois os livros que me surpreenderam: Poison for Breakfast, do Lemony Snicket, que de forma tão sutil que chega a ser rasteira, te leva num enredo bizarro a filosofar sobre a vida, o universo e tudo o mais; e Mar sem Estrelas, da Erin Morgenstern (resenha dele só vai chegar agora ano que vem), com sua narrativa em moldura, seu tom de fábula, seus cenários magníficos e suas mil linhas narrativas se cruzando de maneira estranhamente poética.

Gosto quando não faço ideia de para onde o livro vai me levar. E esses dois conseguiram fazer exatamente isso.

A não-ficção que me envolveu:
Li várias não ficções esse ano e provavelmente conseguiria ocupar metade desta lista só com eles - é um gênero que gosto muito e sempre aparece em peso nos meus registros ao fim do ano. Ficarei, de novo, com dois volumes, ambos biografias coletivas de personagens femininas históricas.

The Five, da Hallie Rubenhold, usa como gancho as mulheres assassinadas por Jack, o estripador, para nos apresentar um amplo estudo da era vitoriana; especialmente do lugar da mulher nas classes baixas, numa Londres que era bastante cruel com os mais pobres. Square Haunting, de Francesca Wade, explora a vida de cinco escritoras que viveram na mesma praça em Londres no período entreguerras. Wade me fez viajar, e me deixou com muita vontade de conhecer as autoras (das cinco, só li até hoje obras da Virginia Woolf).

O livro que me fez refletir:
A terra inabitável, do David Wallace-Wells. Foi uma leitura quase de horror, olhando pelas janelas da varanda e imaginando a paisagem a minha frente completamente alagada - moro numa das capitais do mundo que se prevê serão mais atingidas pelo aquecimento global. Para refletir, sem dúvida.

Não posso deixar de falar também de Antropoceno: notas sobre a vida na terra, do John Green, que eu sublinhei tanto que foi quase o livro inteiro. É um volume maravilhoso não apenas nas reflexões que nos convida a fazer, mas na esperança que impregna essas páginas. Esse aqui é daqueles livros que vale a pena ter na estante e reler de vez em quando.

O livro que me fez rir:
Broken não é tão engraçado quanto Alucinadamente Feliz, mas a Jenny Lawson me fez rolar de rir com as situações constrangedoras em que ela se mete ao longo dos ensaios apresentados. Também é um título que te faz refletir sobre saúde mental, sobre depressão e ansiedade - e acho que a essa altura dos acontecimentos, todo mundo está sofrendo com os efeitos desses dois anos de incertezas, confusões, problemas vários…

O livro que me fez chorar:
Li uma série de títulos sobre o luto esse ano e o volume que me tocou particularmente (bem, todos me tocaram…) foi O Ano do Pensamento Mágico, da Joan Didion (que nos deixou agora nas últimas semanas do ano). Mais um daqueles casos do livro que você encontra no momento em que você precisa.


Uma releitura necessária:
Fiz várias releituras esse ano, mas nenhuma teve uma mudança tão radical de perspectiva quanto Lugar Nenhum, do Neil Gaiman. É sempre interessante perceber como sua percepção muda com o passar do tempo, como um mesmo livro pode ter interpretações diferentes a depender da época em que você o lê. O texto que escrevi sobre ele foi mais um ensaio que resenha e foi outro dos posts que mais gostei de escrever esse ano.

O casal perfeito:
Por todas as razões já declinadas, Charlie e Nick de Heartstopper.

O(a) personagem do ano:
Retomei esse ano meu Projeto Agatha Christie, e por isso indico Hercule Poirot e Miss Marple, que foram companheiros mais ou menos constantes nos últimos meses.

O(a) autor(a) revelação:
Amal El-Mohtar e Max Gladstone, os dois autores de É assim que se perde a guerra do tempo.

O(a) autor(a) que mais esteve presente entre as minhas leituras:
O início do Projeto Agatha Christie obviamente colocou a Rainha do Crime no topo da lista, com onze títulos, seguida de Alice Oseman (os quatro volumes de Heartstopper, mais dois volumes de extras e uma novela), Talia Hibbert (a trilogia das irmãs Brown), Connie Willis (outros três livros) e Neil Gaiman (uma releitura, dois volumes de adaptações em quadrinhos. Ele sempre está aqui, né?).

O gênero literário que mais li:
Romance, seguido de fantasia.

O melhor livro que li em 2021:
Farei um esforço para me restringir a um único título aqui e ficarei com É assim que se perde a guerra do tempo, que foi, realmente, uma leitura que me deixou absolutamente fascinada.


Li em 2021: 208 livros.
Bati todos os meus recordes esse ano, e o principal responsável disso foi o kindle. Também li muitos quadrinhos, noveletas e livros ilustrados - formatos que costumam ser bem rápidos de terminar, do tipo que dá para ler até mais de um volume no mesmo dia.

Não comecei lá em janeiro pensando “quebrarei todos os meus recordes pessoais de leitura”, mesmo porque, nunca vi minha leitura como alguma espécie de corrida… mas fato é que, tendo continuado em home office, passando mais tempo em casa e sem muita paciência para a televisão, os livros continuaram, mais do que nunca, a ser meu refúgio.

O que mais gostei de escrever:
Tem vários posts que me deixaram particularmente orgulhosa - pela pesquisa ou opiniões expressas - ou que me diverti muito escrevendo ao longo desse ano. Já comentei dos ensaios/resenhas sobre romances e sobre luto, mas também gostei de revisitar Pratchett no texto sobre Um Chapéu Cheio de Céu (revisitar Pratchett sempre me deixa feliz), e fiquei bem satisfeita com o ensaio em que usei Um Estudo em Vermelho para explorar noções de justiça.

Mas o que mais me fez feliz escrevendo esse ano foi a newsletter do blog, as Conversas sobre o Tempo. Empolguei-me muito com as crônicas que preparei para ela - e até um conto como presente de Halloween!

A minha meta literária para 2022 é:
Sem metas numéricas - o objetivo continua sendo diversificar as leituras; descobrir novos autores, mas também me permitir reler velhos favoritos.

E que venha o ano que vem!


A Coruja


____________________________________

 

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Sobre

Livros, viagens, filosofia de botequim e causos da carochinha: o Coruja em Teto de Zinco Quente foi criado para ser um depósito de ideias, opiniões, debates e resmungos sobre a vida, o universo e tudo o mais. Para saber mais, clique aqui.

Cadastre seu email e receba a newsletter do blog

powered by TinyLetter

facebook

Arquivo do blog