23 de dezembro de 2021

A Vertigem das Listas: Dez Casais Separados


Ísis: Bem vindos ao último Vertigem! De 2021, é claro. Ano que vem tem muito mais, mas agora despedimo-nos de 2021, assim como vários personagens fictícios fizeram com seus pares em suas histórias, alguns de forma amigável, alguns nem tanto; alguns de forma permanente, e alguns não conseguiram manter-se apartados. Assim, no último Vertigem desse ano, listaremos Dez Casais Separados (Mesmo que Tenham Voltado Depois). Vale divórcio, separação, briga, tramóias, mal-entendidos etc, desde que dure um tempo razoável. E avisamos desde já, vêm muitos spoilers nessa lista!!!

1. Lá vem a noiva…. Digo, a primeira dessa lista, Miranda, a diabo de O Diabo Veste Prada. Uma editora de sucesso na fictícia revista de moda Runway, Meryl Streep desempenha brilhantemente esse personagem que é dura com todos, inclusive seus maridos. Até o fim do filme, já são 3 casamentos falhos, salvo engano todos por divórcio mesmo.


Embora nós mal vejamos o marido e não tenhamos tempo algum de nos apegarmos ao casal para efetivamente sofrermos com essa separação, é interessante ver como reagimos ao fato, dado que, até então, Miranda é uma mulher durona, fria, grossa, competente e muito convencida. Em outras palavras, tudo que queremos até esse momento é estrangulá-la, mas, de repente, temos uma espiada em sua vida pessoal, alterando um pouco como a percebemos.

2. Eu já li vários mangás, e embora não seja nem de longe meu favorito, poucos foram tão marcantes e únicos quanto Please Save my Earth (1987). Já não bastasse o título cujo tópico me atrai, os personagens são interessantes e a trama mais ainda. Sem estragar muito, basicamente tínhamos seis seres não-terráqueos observando a Terra de um posto na Lua há muito tempo atrás, mas lentamente morreram, reencarnando na terra. Devido a uma armação, Mokuren e Shion, o casal principal, morrem com uma grande diferença de tempo entre eles, o que atrasou a reencarnação de Shion, fazendo com que sua versão atual seja apenas uma criança enquanto a de Mokuren é quase uma adulta.


Vale ressaltar que eles não lembram de suas vidas passadas, e mais para frente vemos que apenas Shion lembra, passando a agir de forma bem estranha. Essa história de 21 volumes ganhou um OVA de 6 episódios e mais algumas animações extras, mas merecia a série inteira, especialmente a se considerar sua importância na história do mangá, influenciando, por exemplo, Naoko Takeuchi, criadora de Sailor Moon. E só para constar, a música de encerramento "Toki no Kioku" somada ao enredo traz vibes estilo "Tears in Heaven", arrebentando nossos compartimentos cardíacos com tanta emoção.

3. Acho que já mencionei essa novela em algum Vertigem da vida, mas As The World Turns foi uma série (leia-se novela) que foi ao ar nos EUA entre 1956 a 2010. Ou seja, impressionantes 54 anos! Um dos casais mais duradouros era Holden Snyder e Lily Walsh/Snyder, que quando se conheceram não se davam de forma alguma, mas depois juntaram-se, tiveram filhos, casaram, separaram, voltaram, brigaram, divorciaram e por aí vai, em diversas ordens e combinações.

A atriz que fazia a Lily no começo saiu pouco antes da série terminar, e a que a substituiu foi uma péssima troca, na minha opinião, mas não tira o enorme drama entre os dois. Tem época que brigam feio e não podem sequer ouvir falar um do outro, mas na maioria dos casos, por mais que divorciem e briguem, ambos amam os (quatro) filhos e pelos mesmos tentam dar-se bem mesmo quando um mora na fazenda e outro na cidade.

4. Odisseu e Penélope. Odisseu partiu para uma "pequena" guerra chamada Guerra de Tróia, a qual venceu heroicamente, mas não sem deixar sua esposa para trás por um bom tempo. Embora eles não tenham brigado - pelo contrário, Odisseu sonhava em voltar para a amada, e Penélope aguentou anos de pressão de outros pretendentes - passaram um infindável tempo distantes até conseguirem reencontrar-se. Entre tramas de deuses e bruxas, cativeiros, admiradores nada anônimos etc, é bonito ver como eles pensam um no outro.

5. Ruyi's Royal Love/The Legend of Ruyi. Esse aqui é pesado, não em cenas explícitas, apesar de tratar-se do grande harém do imperador Qianlong, mas pela frieza com que as pessoas calculam vantagens para si e passam por cima das outras, roubando vidas até mesmo de crianças inocentes (várias vezes). Esse é um drama chinês sobre esse imperador, ou, mais especificamente, sobre Ruyi, sua segunda imperatriz. Hongli (nome original de Qianlong) e Qingying (nome original de Ruyi) são amigos de infância, e Hongli apaixona-se pelo espírito vivaz, brilhante e gentil de Ruyi, ao ponto de escolhê-la como primeira esposa. O então imperador e pai de Hongli acaba proibindo-o de tomar Qingying como tal, mas a aceita como consorte após insistência de Hongli.

Durante boa parte da série, Qianlong acredita piamente em Ruyi e eles têm um bom relacionamento apesar das tramóias do harém e de alguns desentendimentos causados por eles mesmos. Porém, três momentos decisivos causam rompimentos no relacionamento:

a) o banimento de Ruyi ao Palácio Frio (normalmente uma sentença irreversível, mas que durou três anos para Ruyi);

b) a acusação de que ela tinha um caso com um guarda imperial Yunche Li - e, pior, o Qianlong acreditar nisso; e

c) por fim, quando Ruyi corta seu cabelo, simbolizando que está se desligando de Qianlong. Isso acontece quando ele se recusa a ouvi-la para que não aceitasse uma cortesã como concubina, pois isso prejudicaria a reputação dele e do palácio real como um todo. A essa altura, ele já inclusive a agrediu com um tapa no rosto (algo inconcebível até mesmo naquela época) por achar que fora Ruyi quem tornara infértil sua mais nova preferida, a Consorte Rong, por quem o imperador apaixonou-se perdidamente. Nessa última briga, ele lhe dá outro tapa no rosto, e isso se torna a gota d'água que acaba com os sentimentos de Qinqying para com Hongli de vez, cortando o cabelo em seguida.

No todo, a série vale a pena assistir para entender um pouco a história e costumes dessa época da China, e também para ver alguns momentos muito lindos da trama. A primeira vez que se separam, quando Ruyi é banida, é apenas fisicamente, mas as seguintes são por questão de desconfianças e abalos aos sentimentos entre ambos. O final não é feliz, mas, após tantas reviravoltas, chega a ser satisfatório.


Lulu: Confesso que quando vi o tema, achei que teria problemas em explorar escolhas… mas quando comecei minha lista, descobri que nem era tão difícil assim me lembrar de casais que tinham estado separados em algum momento de suas histórias. Na verdade, há até ‘favoritos de todos os tempos’ no meu rol!

E, ei, dessa vez eu até conhecia algumas das escolhas da Ísis (que costumam ser completamente misteriosas para mim). Afinal, assisti O Diabo Veste Prada, li A Odisseia (embora tenha algumas ressalvas ao Ulisses…) e tenho uma muito vaga lembrança de ter contato com Please Save my Earth. Acho que li o mangá? Não lembro como, e também lembro pouco da história em si, mas sei que acompanhei esse enredo em alguma mídia.

Enfim, vamos a minhas escolhas! E, sim, sinto dizer, mas essa será uma lista repleta de spoilers…

6. Minha primeira escolha vem do meu romance favorito da Jane Austen. Sim, estou falando de Persuasão. No início do livro, descobrimos que Anne Elliot e o Capitão Wentworth foram noivos quase uma década atrás, mas ela foi persuadida a romper o compromisso.


Quando eles se reencontram anos depois, Wentworth ainda está claramente magoado pela escolha de Anne e, ao longo da primeira parte do romance, de um certo ponto de vista, age como um garoto mimado tentando provocá-la, mostrar que foi capaz de superá-la enquanto ela perdeu todo o viço. A separação deles foi traumática para ambos, mas o romance nos traz uma bela história de segundas chances e reconhecer seus erros.

7. Continuo minha lista com outro dos meus favoritos: Muito Barulho por Nada, comédia shakesperiana que traz os excelentes Beatrice e Benedict se estranhando por boa parte do enredo. No tempo em que a história ocorre, não se fala com detalhes sobre qual o relacionamento entre os dois, mas fica implícito que eles já se conheciam, que em algum momento Benedict chegou a cortejar Beatrice, mas, por uma razão ou outra, eles brigaram e se separaram.


O sarcasmo com que agem com a outra parte é claramente fruto de mágoa, de um sentimento que não se desvaneceu por completo. Tanto é assim que não é nem um pouco difícil eles acreditarem na armação do príncipe Dom Pedro. Ao término, final feliz para todos - mas confesso que já passei várias horas após reler ou rever a adaptação pensando em como seria um prequel que nos mostrasse o primeiro relacionamento dos dois e o que os levou a se separar.

8. Desconfio que toda a minha lista de hoje vai ser com casais que se separaram, mas retornaram em algum momento para os braços do outro… Isso porque trago agora outro favorito que mora no meu coração: o maravilhoso Jane Eyre, de Charlotte Brontë. Tenho alguns pés atrás com Mr. Rochester, com a forma como ele mente e até manipula Jane, e, mesmo que entenda a dor dele pela ruína do casamento com Bertha, pergunto-me se ele é assim tão inocente na loucura da esposa legítima.


Enfim, a cena em que ele é desmascarado tentando se casar com Jane já sendo casado - e implora para que ela fique com ele mesmo assim - é de tirar o fôlego. E quando ela, atendendo aos seus princípios, acima do amor que sente, foge às cegas pelos campos, é sublime! Os dois amam intensamente, mas onde Rochester não se importaria em sacrificar qualquer coisa para ficar com Jane, ela é firme naquilo que acredita, mesmo que para sua própria infelicidade. Tudo termina… não totalmente bem, mas o final é bastante satisfatório.

9. Edmund Dantès e Mercédès de O Conde de Montecristo. Separados pelas maquinações de um trio de canalhas, Dantès passará anos preso por um crime que não cometeu, enquanto Mercédès acabará se casando com um dos conspiradores. Nas adaptações que já assisti, os dois terminam retornando para os braços um do outro, mas, no livro, é um amor que não tem mais como se consumar.

É engraçado, mas tendo visto filmes antes de ler o livro, fiquei o tempo todo à espera de que eles se reconciliassem… mas, enfim, se não amor, ao menos eles encontram paz em seu reencontro.

10. Minha lista de hoje foi inteiramente feita de clássicos… sim, porque vou fechar com outra obra calhamaço de arrasar quarteirões: Scarlett O’Hara e Rhett Butler em E o Vento Levou. Rhett passa o livro inteiro apaixonado por Scarlett enquanto ela se interessa apenas por Ashley (e pela própria sobrevivência); os dois chegam a se casar, mas após uma grande tragédia, quando Scarlett finalmente enxerga Rhett como o homem de sua vida, Rhett está tão ferido que já não se importa mais.


O final em aberto nos deixa com o gosto de oportunidades perdidas, de uma paixão tão intensa que consumiu a si mesma, de um desencontro de almas. Outros autores escreveram continuações para o livro de Mitchell, mas eu gosto da coragem daquele final ambíguo, com Scarlett e Rhett suspensos, magoados, perdidos. É um final corajoso, autêntico, que deixa ao leitor a possibilidade de imaginar o que acontece a seguir.

E assim terminamos mais um ano de vertigens e listas. Mas não se preocupem que ano que vem tem mais (bem, esse ano ainda tem retrospectiva e newsletter, então não irei me despedir…)


Ísis: Lerei os dois primeiros em algum momento, de tanto que lhe ouço falar/escrever deles… Também certamente lerei Jane Eyre, mas já com o coração na mão…

Enfim, despedimo-nos de 2021 como esses amantes: ansiosos por um futuro que traga algo melhor. 2022 chega com a segunda e possivelmente a terceira temporada de Bridgerton, então certamente será pelo menos um pouco bom. Já entraremos com quase 70% da população brasileira vacinada, então me parece justo esperar que o ano vindouro seja um pouco menos limitado que os dois anteriores.

Enfim, um excelente 2022 para vocês, quando traremos mais Vertigens!!!


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