2 de dezembro de 2021

Poison for Breakfast: questões que não foram feitas para serem respondidas, mas para fazer pensar


Como você já deve ter percebido, este é um tipo de livro diferente de outros que você possa ter lido. É diferente de outros livros que escrevi. Há um enredo a ser encontrado aqui - uma história verdadeira sobre como eu comi veneno no café da manhã -, mas também é um livro de filosofia, uma palavra que significa pensar sobre as coisas e tentar decifrá-las. É também um livro sobre como escrevo os livros que supostamente escrevi, e algumas outras coisas, como uma longa canção e um filme que vi muitos anos atrás, e que acho serem importantes. Já lhe disse que o livro é sobre perplexidade, e sobre a morte, algo que ocorreu duas vezes até agora, o Salteador e um sapateiro que conheço, e que terminará, como eu disse, com um final fatal .

Tenho um carinho especial por Desventuras em Série e pela maneira como Lemony Snicket, pseudônimo de Daniel Handler, conta uma história. Faz muito tempo que ele não entrava no meu radar, contudo - não até receber uma newsletter de lançamentos do Goodreads e me deparar com esse título.

Tudo começa com o narrador encontrando um bilhete avisando que ele tomou veneno no café da manhã. Claro que isso o abala profundamente e nos capítulos seguintes, ele reflete sobre sua (possível) morte e tenta descobrir quem e como foi envenenado nos lugares que fornecem os itens de sua refeição matinal:

chá
com mel,
uma fatia de pão tostado
com queijo,
uma fatia de pêra,
e um ovo perfeitamente preparado.

Poison for Breakfast não tem exatamente um enredo lógico que se seguir. É um mistério, mas não do tipo que você consegue seguir as pistas para revelar o perpetrador. É filosofia, e bibliofilia, longas elucubrações sobre a morte e imaginação, sobre criação e outras tangentes históricas, e possui algo também do espírito de um dicionário (uma característica, aliás, da forma de escrever do autor). É difícil encontrar uma maneira de explicá-lo, e é essa estranheza que o faz tão fascinante.

Talvez a melhor maneira seja pensá-lo pela ideia que ele mesmo apresenta, de que enormes questões filosóficas não foram concebidas para serem respondidas, mas apenas para fazer você pensar. No fundo, no fundo, a busca por respostas sobre o veneno no café da manhã é uma busca por respostas sobre a vida.

E com listas! Algo que é sempre importante na minha opinião (pessoa obcecada com listas aqui escrevendo).

Snicket é um daqueles autores que você nunca sabe bem o que esperar. Eu fui pega de surpresa pelo lançamento do livro - o que é bom, não tive tempo de criar quaisquer expectativas - e me surpreendi ainda mais com a leitura. Mesmo os padrões repetitivos da narrativa em fluxo de consciência imprimem um efeito calmante inesperado: o ritmo do texto me deu uma sensação de entrar em um transe meditativo.

Em suma, Poison for Breakfast é singular e delicioso, espantoso e desnorteador. Leitura rápida, que você termina já querendo recomeçar. Adorei!

Nota:
(de 1 a 5, sendo: 1 – Decepção; 2 – Mais ou Menos; 3 – Interessante; 4 – Recomendo; 5 – Merece Releitura)

Ficha Bibliográfica

Título: Poison for Breakfast
Autor: Lemony Snicket
Ilustrações: Margaux Kent
Editora: Rock the Boat
Ano: 2021

Onde Comprar

Amazon


A Coruja


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