30 de novembro de 2021

A Vertigem das Listas: Dez Separações Dramáticas


Lulu: Passei os últimos tempos assistindo documentários sobre desastres naturais e depois de vários capítulos sobre super terremotos causados pela placas tectônicas, o tema do vertigem desse mês é totalmente bizarro e a Ísis vai me matar, mas tudo bem! Apresento-lhes assim… Dez Separações Dramáticas (e Traumáticas)!

Prometo não ser completamente óbvia com as minhas escolhas. Vamos ver o que achamos no baú de pensamentos desencontrados da Coruja… Ah, sim, e antes que eu me esqueça, alerta para spoilers a seguir (afinal, algumas das separações aconteceram no final de suas respectivas histórias…)

1. Começarei minha lista entre 200 e 540 milhões de anos atrás, quando nosso planeta tinha um único super continente e estávamos todos juntos (ou, pelo menos, a terra sob nossos pés estava). Abalos sísmicos, placas tectônicas, deriva continental - há muitas razões que levaram Pangeia a fragmentar-se, mas, olha, acho que não há como ser mais dramático e traumático que um continente inteiro simplesmente se despedaçando. Tudo bem que não aconteceu de forma imediata - e aí os novos continentes viraram balsas e se afastaram rapidamente a perder de vista. Não, esse é um processo que aconteceu ao longo de milhares de anos, que continua acontecendo na verdade. Talvez daqui mais alguns milhares de anos os continentes voltem a se chocar e formar uma única massa de terra, deixando várias ilhas fragmentadas pelo caminho. Mas, enfim, o que interessa aqui é que começo minha lista de separações com Pangeia e tenho dito.

2. Depois de eventos em escala planetária e geológica, minha próxima separação parece até normal, já que vou falar do divórcio do rei inglês Henrique VIII e de Ana Bolena. Mas o interessante dessa separação é que ela tem várias outras cisões envolvidas na história. Quer dizer, primeiro Henrique teve de se divorciar de sua primeira esposa, Catarina de Aragão. Para conseguir esse divórcio e assim se casar com Ana Bolena, Henrique rompeu com a Igreja Católica, criando uma nova religião protestante da qual seria o chefe. Quando se cansou de Ana, Henrique aceitou acusações de bruxaria, adultério e incesto contra a rainha, e ela foi condenada a morte. Um relacionamento bem conturbado, repleto de consequências, de seu começo até o fim.

3. A terceira bastante traumática separação da lista de hoje é (perdoem-me a sanguinolência) aquela sofrida pela família real francesa e suas respectivas cabeças, num encontro mortal com a guilhotina. Estou falando, claro, da Revolução de 1789. A execução de Maria Antonieta e Luís XVI foi uma ruptura de tudo o que se conhecia sobre o poder até então. Foi um drama encenado para as massas e um trauma para o resto do mundo. Claro que tinha de estar aqui.

4. Próximo item da lista é uma ruptura política que também veio na onda de uma revolução e mudou a história do mundo. Falo da separação dos Estados Unidos do Império Britânico, uma guerra que ninguém achava que os americanos pudessem vencer e que, no final das contas, deu origem à primeira democracia moderna. Drama, drama por todos os lados!

5. Chego à metade da lista com a ruptura entre Índia e Paquistão em 1947. Isso é logo após a Índia se tornar independente do Império Britânico e, por conta de segregações religiosas várias, não demorou para que o país se dividisse. A região que se tornaria o Paquistão era de maioria muçulmana; de uma hora para outra os hindus que moravam por lá tiveram de sair praticamente com a roupa do corpo correndo para a nova fronteira com a Índia e vice-versa. Algo dessa história é contada no livro O Diário de Nisha, que recomendo muito!

Ísis: A literatura e a história são constituídas de descobertas e separações, né? Algumas mais traumáticas que outras…

6. … A começar com a minha primeira indicada: a morte dos pais de Ciel Phantomhive, do mangá/anime/filme Kuroshitsuji/Black Butler. O pai do inocente menino era o Conde Phantomhive, poderosíssima figura encarregada pela Rainha Vitória de controlar o “submundo de seu país, ou seja, de combater ou desvendar crimes complicados ou perversos demais. Quem assume esse papel recebe o título de “Cão de Guarda” da Rainha, além de automaticamente herdar toda a atenção do mundo do crime. O pai de Ciel fazia seu trabalho muito bem, mas, eventualmente acabou sendo pego. Lógico que os criminosos queriam se livrar da família toda, então mataram o pai e a mãe de Ciel, e submeteram o pequeno a horrores incluindo abusos físicos e sacrifício humano. Ciel, é claro, nunca mais foi o mesmo… Mas também quem seria depois de ser abusado dessa maneira?

7. É capaz de eu estar revivendo a campanha do Dé e da Dani, mas citarei aqui Avatar, porque acho que poucos personagens por aí passaram por pelo horror que Aang passou… Sério, no caso dele, ele perdeu da noite para o dia, não só um pessoa preciosa, mas toda a sua comunidade, a cultura etc, e tudo isso sendo ainda uma fisicamente criança, mesmo que tenha mais de 100 anos desde seu nascimento.

8. Não é incomum que protagonistas de animes ou desenhos em geral sejam órfãos, ou fiquem órfãos já no começo. Um (não exatamente) excelente exemplo disso é Shingeki no Kyoujin/Attack on Titans, cujo protagonista, Eren, testemunha no começo da história sua mãe sendo não só esmagada pela casa onde vive, mas mordida - e portanto morta - por um gigante. É uma cena brutal que altera um pouco a personalidade de Eren e o transforma pela vingança.

9. Agora vou sair dos animes e vou para algo um pouco mais conhecido: conheço poucas separações mais dramáticas do que aquela que Lúcifer liderou contra Deus. Qualquer que seja o motivo/a versão da história, inevitavelmente um dos (arc)anjos de Deus voltar-se contra o mesmo, ao ponto de virar seu maior antagonista, não me parece algo que aconteceu de forma suave, não. Pode até ter sido o plano de Deus, mas, aos nossos pobres e mortais olhos, creio não enganar-me ao julgar tal separação como traumática não só aos diretamente envolvidos - exceto talvez Deus - como para os humanos e até alguns animais, que se tornaram vítimas desse conflito.

10. Por fim, encerro com o que creio ser a separação mais traumática de todos os tempos, perdoem-me quem discordar. Creio que pouca coisa na nossa história - e mesmo no nosso futuro - poderá equiparar-se à separação bruta e repentina de comunidades inteiras arrancadas de suas raízes, parte de seus entes mortos e a outra parte enviada a terras distantes em condições miseráveis. Sim, falo da escravidão. Durante nossa história, vários povos foram escravizados e explorados, mas nenhuma - que eu saiba - foi tão massiva quanto àquela imposta pelos europeus brancos à população negra africana. Uma verdadeira mancha na história mundial cujos efeitos são visíveis até hoje na desigualdade social, no racismo, na violência e em tantos outros índices sociais negativos.


Lulu: Uma lista bem eclética a desse mês, não é? Com um bom bocado de não ficção no meio...

Ísis: Agora, um item... 11. BÔNUS. Vocês não acharam que tínhamos nos esquecido da separação que a pandemia de COVID-19 causou em 2020-202x não, né? Muitos amigos e familiares passaram mais de um ano sem se verem, e isso aconteceu mundialmente. A pesquisa por psicólogos aumentou desde então, o que não é surpresa alguma dado que, como a maioria dos mamíferos e principalmente os primatas, seres humanos precisam de um grupo e de contato físico (bem-intencionado) para garantirem o bem-estar, algo do qual muitos foram privados por muito tempo em 2020. Essa separação prolongada poderia ter sido evitada se TODOS tivessem obedecido à orientação de usar máscaras e evitar aglomerações, ou mesmo de ficar em casa por um mês etc. Contudo, sempre tem um ou mais engraçadinho que acha que pode tudo só porque acha que sua liberdade individual está acima das de todos os outros… Enfim, motivos à parte, como não incluir um acontecimento desses nessa lista?

Lulu: Tentaremos mês que vem ser menos traumáticas. Então... até o próximo vertigem!


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