11 de dezembro de 2018

O Resumo da Ópera - Outros (Vários) Títulos que Passaram por Aqui no Segundo Semestre


Quando escrevi essa coluna pela primeira vez, pensei em ter uma periodicidade mensal. Pelo visto, contudo, só estou dando conta de escrever a cada seis meses. Ok, não, isso é mentira, mas vamos com o exagero por razões estéticas… ou, não tão exagero, porque tempo anda de fato apertado por aqui e existiam outros posts na lista de prioridades.

Enfim… segue a seguir (há!) uma lista não-exaustiva de livros que li nos últimos seis meses e que não ganharam resenhas individuais, mas sobre os quais eu queria falar de qualquer maneira. Não há nenhum significado particular na ordem em que eles aparecem, fui escrevendo à medida em que ia me lembrando - livros que terminei mais recentemente provavelmente aparecerão primeiro.

Enfim, dito tudo isso… tratemos do que interessa.


The Other Miss Bridgerton, de Julia Quinn
Estava bem empolgada para ler o livro mais recente da tia Quinn - especialmente a se considerar que faz mais de um ano desde que tivemos o segundo volume da série dos Rokesbys, tempo suficiente até para o primeiro título já ter sido publicado em português. Afinal, havia a promessa de piratas - e tudo consegue ser melhor com piratas.

A história começa com Poppy Bridgerton se metendo onde não devia e indo parar num navio de contrabandistas liderado pelo Capitão Andrew James, a caminho de Lisboa. Detalhe é que Andrew é, na verdade, um Rokesby - família nobre que é vizinha e muito amiga dos tios de Poppy; tendo inclusive um irmão casado com uma das primas dela - que, sob o disfarce de fora-da-lei, trabalha para a coroa inglesa, levando e trazendo mensagens secretas pela Europa. Andrew não revela sua verdadeira identidade para Poppy, mas os dois descobrem que são bem mais parecidos do que se vê à primeira vista.

Acho que dos livros dessa série que li até agora, The Other Miss Bridgerton é meu favorito. Gosto muito dos diálogos rápidos de Poppy e Andrew, da forma como eles se complementam, da mistura de humor e aventura que perpassa toda a história. Como não estava preocupada com verossimilhança, certas partes mais improváveis não me fizeram pegar em armas - afinal, não leio Quinn para ter perfeita reconstituição histórica, ou uma lógica redondinha, mas porque gosto de suas histórias leves, bem-humoradas e da forma como ela desenvolve os relacionamentos dos personagens. E é exatamente isso que ela entrega nesse livro.


Sobre a Tirania, de Timothy Snyder
Esse livro apareceu no meu radar depois que assisti uma entrevista com o autor no programa Milênio, da Globo News. Aproveitei compras da Black Friday para colocá-lo no carrinho e matar minha vontade. Como é um livro bem pequeno - são menos de duzentas páginas, isso numa edição de bolso - tratei de lê-lo numa sentada só.

O historiador Timothy Snyder publicou esse texto - numa versão menos lapidada - em seu facebook, após a vitória de Donald Trump. Por isso mesmo, há um tom de informalidade e certo proselitismo, algo que é compreensível. Lembro de Hobsbawm escrevendo sobre “o breve século XX”, observando que não há como manter sua distância e imparcialidade quando você está dentro dos acontecimentos históricos de que fala e eu concordo com isso. Exatamente por essa razão, não se deve aproximar Sobre a Tirania como um livro de História (vez que escrito por um historiador), mas como uma defesa passional das posições de alguém que está vivendo sob um determinado regime com o qual ele não concorda. Faço esse comentário porque vi mais de uma crítica falando que o livro era muito parcial e, bem, de início já fica bastante óbvio que ser imparcial nunca foi o objetivo dele.

Feitas tais considerações, eu gostei do livro - talvez porque eu seja uma daquelas pessoas que concorda com os pontos levantados pelo autor. Snyder usa exemplos de tiranias tanto de esquerda quanto de direita (e nesse aspecto ele é bastante justo) para expor cada capítulo/lição. Ele começa com exemplos de como determinadas ações de governos tiranos se desenvolveram no passado, pontuando ações e omissões do povo, as quais permitiram que a situação chegasse ao ponto que chegou, convidando com isso à reflexão de nossas próprias atitudes. De certa forma, Sobre a Tirania é quase um pequeno manual de como reagir quando se está diante da possibilidade de um governo tirano. Não é necessário concordar com todas as opiniões do autor, mas vale como um bom ponto de partida para um debate. Melhor que só acreditar em notícia compartilhada pelo Whatsapp, pelo menos...


Roubo de Espadas, de Michael J. Sullivan
Não me lembro porque fui atrás desse livro; desconfio que tenha sido alguma conjunção de fatores do tipo comentários de blogs e/ou amigos e o fato de tê-lo encontrado certo dia disponível para troca no skoob. Era um dos títulos que estava há mais tempo na minha estante e esse ano finalmente tirei-o para ler.

Vou confessar que, dos primeiros capítulos, achei que ele me deixaria na mão, que seria algo no estilo de A Espada de Shannara, tão batido que cansa. Mas não demorou muito para que a história começasse a pegar ritmo e eu me visse completamente enredada nas aventuras de Royce e Hadrian, a dupla de ladrões protagonistas. Roubo de Espadas conseguiu me capturar com um elenco de personagens cativante, humor e fantasia nas doses certas e uma história que fisgava tanto pelo que era nostalgicamente familiar (a fuga da prisão fez com que eu me lembrasse do início de O Feitiço de Áquila), como pelos mistérios e pecinhas de quebra-cabeça que iam se avolumando.

Não há aqui pretensão de ser uma fantasia solene e cheia de regras - embora não haja nada de errado com isso quando a coisa é feita da forma certa. Sendo uma história de anti-heróis, Roubo de Espadas também não é um daqueles livros só de becos escuros, traições, trazendo à tona o que há de pior no ser humano. Por isso mesmo, e também pela capacidade de rir de si mesmo (e há vários momentos assim ao longo da história), esse é um livro divertido e bem menos previsível do que eu imaginei quando comecei a ler. Uma boa surpresa, enfim.


Sobre Histórias, de C. S. Lewis
Tomei conhecimento dessa antologia de ensaios do Lewis quando estava escrevendo o especial sobre Nárnia para o aniversário do Coruja. Alguns dos ensaios que aparecem em Sobre Histórias eram citados em análises e pesquisas e as citações que li então me deixaram suficientemente curiosa para que eu fosse atrás do livro. Cheguei a colocar a edição em inglês na minha lista de desejados, mas antes que pudesse ir atrás de providenciá-la, vi o anúncio de que seria uma das próximas obras do Lewis a serem traduzidas cá no Brasil. No final das contas, o livro estava em pré-venda perto do meu aniversário e comprei-o de presente para mim mesma.

Sobre Histórias coleciona ensaios, resenhas, cartas e até uma transcrição de gravação de um diálogo entre Lewis e associados. É um vislumbre interessante do acadêmico por trás do romancista - visto que hoje o conhecemos mais por sua autoria d'As Crônicas de Nárnia. Dou um destaque especial para seus escritos sobre literatura para crianças, a importância da fantasia e da ficção científica como gêneros literários, e diferentes formas de leitura e interpretação. Embora alguns textos soem datados, de maneira geral, Sobre Histórias rende bons pontos de vista sobre os quais refletir. Aliás, os ensaios de Lewis servem como um ótimo complemento às observações de Tolkien em Sobre Histórias de Fadas e vão me dar algum pano para manga para uns posts que tenho planejado para o blog. Não à toa, minha edição ficou cheia de sublinhados e notas escritas na margem desde o primeiro capítulo.


Art Matters - Because Your Imagination Can Change the World, de Neil Gaiman e Chris Riddell
Quando vi o Gaiman anunciando publicação de livro novo com o Chris Riddell no twitter, quase surtei. Não comprei imediatamente na pré-venda porque a essa altura eu já sabia que viajaria para Inglaterra uns poucos dias depois do lançamento oficial. Preciso dizer que uma das primeiras providências que tive ao chegar em Londres foi ir a Waterstones da Picadilly Circus (a maior livraria da Europa! Endoidei lá dentro...) e sair fuçando tudo atrás dele. Quando o folheei, contudo, percebi que ele não era assim tão novo - ao menos, não no conteúdo. Eu já tinha lido todos os quatro textos de Art Matters: dois tinham sido publicados em jornais (inclusive com as ilustrações), outro eu me lembrava de uma antologia de não-ficção que ele lançou uns dois anos atrás e o último era o discurso Faça Boa Arte, que já foi inclusive traduzido aqui no Brasil.

A sacada de Art Matters é, na verdade, juntar esses textos - que falam de liberdade de expressão, importância da leitura, das bibliotecas e da arte, inclusive como ofício - num volume mimoso que é perfeito para dar de presente ou para ter na própria estante, e que alia às palavras do Gaiman os fantásticos desenhos do Chris Riddell (eu gosto demais do estilo das ilustrações dele). Não direi que não fiquei um pouco desapontada - afinal, eu esperava material inédito - e provavelmente teria xingado um bocado se tivesse comprado ele aqui no Brasil (a diferença de preço era bem grande e o tamanho do livro não justifica esse preço, ainda que se contem os custos de importação), mas não me arrependo de ter reservado espaço na mala para trazê-lo comigo.

Para quem não é stalker do Gaiman, do tipo que fica procurando até a menor participação dele em antologias literárias ou artigos jornalísticos, e que se interessa e reflete sobre a importância da arte na nossa vida, Art Matters é um bom ponto de reflexão. Mas, se vale a dica, procurem os textos onde eles foram originalmente publicados (ou gravados). Afinal, o conteúdo não muda e, se está disponível de graça, então... vá em frente. Para ajudar, o índice: 1. Credo, 2. Why Our Future Depends on Libraries, Reading and Daydreaming; 3. Making a Chair e 4. Make Good Art.


Clara Carcosa, de Juliana Fiorese
Apoiei o projeto do quadrinho Clara Carcosa no primeiro dia dele no Catarse (para ser exata, na primeira hora). Há tempos que seguia a Juliana Fiorese, gosto muito do estilo dela, e já tinha ajudado a financiar outro projeto seu na plataforma, então não tive dúvidas em participar desse também.

O roteiro de Clara Carcosa é bem ambíguo, aberto à interpretação do leitor; um horror que me lembra muito Lovecraft e Edgar Allan Poe (ela traz como referência O Rei de Amarelo do Robert W. Chambers, mas não conheço tanto dele para fazer esse julgamento), do tipo que sugere e deixa que você construa seus próprios pesadelos com os bloquinhos que ela vai te ajudando a montar. Onde está acontecendo tudo aquilo? Apenas na cabeça da protagonista? São fruto da dolorosa solidão transmitida desde a primeira página? Ou esses fantasmas existem no mundo 'real'? Você, leitor, é quem decide.

A história é muito bem costurada com a arte da Juliana, um estilo que é característico dela e que, como já disse, gosto bastante. A edição também traz no final várias curiosidades, estudos de personagem, e das influências que ajudaram a artista na criação, além de uma galeria de artistas convidados. Mas o que eu mais gostei desse final foi a apresentação da fortaleza de Santa Catarina, em Cabedelo/PB e a lenda da mulher de branco. Amei a forma como ela usou essa lenda local como gancho para construção de sua história e sim, fiquei com vontade de visitar o lugar.

O livro tem um projeto editorial muito bonito, de primeira qualidade, da capa, às guardas, aos extras, é visível como tudo foi pensado com carinho. Não tenho dúvidas que havendo novos projetos da Juliana, hei de apoiá-los também.


Era uma vez uma mulher que tentou matar o bebê da vizinha, de Liudmila Petruchévskaia
Esse livro me chamou a atenção pelo título e pela referência a 'autora russa escrevendo contos de fadas que foram censurados'. O que nessa frase não me chamaria a atenção, não é verdade? Parece que foi feito sob medida para mim. Terminei ganhando ele de presente de dia das bruxas (obrigada, Tatá!) e, como era um livrinho curto, comecei a lê-lo quase de imediato.

O engraçado é que esses contos russos me passaram uma enorme impressão de nostalgia. O estilo narrativo da Petruchévskaia, sua mistura de dolorosamente prosaico com o assombroso, a superstição, a astúcia, tudo isso me lembrou as histórias de trancoso que eu ouvi quando criança no pé da vizinha da minha avó. Há algo de universal nas experiências humanas que surgem nesses contos - histórias de sacrifício, de amor, de família, de medo e reparação, de morte - e, por isso, eu as ouvi no sotaque sertanejo que embalou minhas primeiras experiências com contadores de histórias.

É engraçado, porque você vai lendo, vai lendo, e as coisas parecem tão comuns e ordinárias... que quando o fantástico aparece, é como se você levasse um susto, como se caísse de paraquedas. Mas, mesmo diante do inesperado, esses vislumbres de um Outro Mundo não parecem deslocados, não são artificiais. São uma faceta a mais do universo com que estamos acostumados. Uma faceta que, sutilmente, entrega a realidade do que foi o regime soviético - e daí você entende o motivo de ela ter sido censurada. Porque essas assombrações, esses mortos que rondam seus crimes nos contos que vão se sucedendo são consequência dessa História, de um regime francamente esquizofrênico, que prometia justiça social e entregava prisões, fome e guerra.

Levando tudo isso em consideração... que melhor maneira que contar essa história, senão com contos de fadas em sua forma mais crua?


J. R. R. Tolkien e C. S. Lewis - O Dom da Amizade, de Colin Duriez
Após a aquisição dos direitos da obra do Tolkien pela HarperCollins aqui no Brasil, esse foi o primeiro livro que a editora lançou. Essa biografia já tinha sido publicada em português, mas estava fora de catálogo há algum tempo. Essa nova edição não apenas veio suprir uma necessidade, como ainda chegou num projeto muito elegante, com capa dura de pano, que foi mantida na biografia de Tolkien escrita por Carpenter - muito bem para leitores/colecionadores como eu, que gostam de ter tudo combinando na estante.

O Dom da Amizade serve como um bom ponto de partida para quem se interessa pela biografia de Lewis e Tolkien, dois autores que, de certa maneira, moldaram o gênero da fantasia em tempos modernos. A escrita é bem fluida, e não é uma leitura pesada, servindo mais como uma introdução a quem busca estudá-los. Mas o melhor do livro são as comparações tecidas pelo autor desde a formação que eles tiveram na infância até se conhecerem pessoalmente, bem como a influência que cada um teve sobre o outro.

Claro que, para quem realmente quer se aprofundar no estudo dos autores, o ideal é procurar biografias mais completas e tirar suas conclusões por si só.


O Clube de Escrita de Jane Austen, de Rebecca Smith
Quando vi esse título pela primeira vez, antes de ler a sinopse, fiquei imaginando se ele seria algo tipo O Clube de Leitura de Jane Austen, livrinho que me deu um cansaço mental monumental, e terminei apulso, só para ver se ia ser aquilo mesmo (esse é um dos raros casos em que vi o filme ser muito superior ao livro…). Mas aí virei para a quarta capa e entendi que se tratava de um volume de sobre técnicas de escrita a partir de exemplos dos livros da Austen.

Comprei por impulso… mas não me arrependo. O livro é bem explicativo, repleto de bons exercícios e, embora se fundamente na obra de tia Jane, uma mescla de romance e realismo, são métodos que funcionam bem para outros gêneros. Tenho vários livros sobre técnica e metodologia de escrita aqui em casa, mas a maioria deles é em inglês, como Wonderbook e Steering the Craft; esse título é uma excelente pedida em português e indico a quem procura algum material de estudo no assunto.

Ah, sim, uma curiosidade: a autora é descendente dos Austen.

Eu li em estirada, numa viagem que fiz em setembro, mas pretendo reler com mais calma para ir fazendo os exercícios propostos. Vamos ver no que dá.


O Duelo: Churchill x Hitler, de John Lukacs
Já repeti várias vezes por aqui que sou fã do Churchill. Se tivesse nascido nos tempos da Segunda Guerra, eu possivelmente teria colocado uma foto dele na parede (acho que vou encomendar à Dani um Churchill coruja num cartas de Keep Calm and Carry On...). Eu o admiro por ter sido um estadista astuto, por ter sido capaz de se impor e inspirar a resistência ao povo inglês. Sem Churchill, eu não acredito que a Grã-Bretanha tivesse se segurado até os Estados Unidos finalmente entrarem na guerra. Sem Churchill, não duvido que os nazistas tivessem vencido à guerra.

É exatamente desse ponto de vista que O Duelo parte, apresentando o embate direto entre as ideias, decisões e atitudes de Churchill e Hitler. Peguei esse livro emprestado para ler enquanto esperava no médico, e me envolvi o suficiente com ele que quase não ouvi quando me chamaram.

O começo do livro é um pouco repetitivo, não apenas nas ideias como também na linguagem (embora eu ache que o problema das palavras repetidas seja uma questão de tradução), mas a escrita se torna mais fluida ainda pela metade do primeiro capítulo. De resto, O Duelo prende a atenção e impressiona pelo tamanho dos personagens aqui apresentados, pelo impacto que eles tiveram na guerra e que ainda hoje nos alcança.


A Coruja


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