25 de junho de 2018

O Resumo da Ópera - Alguns Vários Títulos que Passaram por Aqui esse Primeiro Semestre


Faz tempo que estava pensando em começar uma coluna cá no Coruja para juntar várias pequenas opiniões sobre leituras feitas, interessantes, mas que não renderiam resenhas completas. Afinal, nem sempre dá para escrever cinco páginas desfiando o simbolismo das escolhas de um autor, mas isso não significa que aquele volume não tenha me tocado de alguma forma. Ou talvez eu já tenha falado daquele escritor e ir para além da própria narrativa signifique me repetir ad nauseam. Às vezes um ou dois parágrafos é suficiente para dar minha opinião, mas isso acaba não rendendo um post para o blog.

Enfim, com o final do primeiro semestre, decidi afinal fazer essa ideia acontecer e fiz uma lista de alguns dos livros desse primeiro semestre sobre os quais queria falar (e recomendar! Ou não recomendar, a depender do meu humor...). Tentarei fazer isso mensalmente, mas vou me deixar sem obrigações - a ideia é escrever quando um livro me inspirar a escrever e ir juntando até ter uma quantidade razoável de ‘mini-resenhas’.

Dito isso… vamos a elas!


Folhetim: Uma História, de Marlyse Meyer
Eu já tinha lido Folhetim: Uma História nos tempos de faculdade - foi tema de um trabalho para apresentar em aula e também me inspirou a tentar escrever meus próprios folhetins. à época, era uma edição pertencente ao professor que passou o trabalho; mas gostei tanto do texto que comprei uma edição para mim e reli-o esse ano para preparar uma das reuniões do clube do livro de bolso (cujo tema fora O Conde de Monte Cristo).

O trabalho de Marlyse Meyer é, a um tempo, bem aprofundado e divertido. Fica óbvio o quanto o tema fascina a autora, e a empolgação dela faz com que o leitor também tenha vontade de se aventurar pelos títulos estudados. Dumas, Eugène Sue, Poison du Terrail e mais um panteão de autores folhetinescos desfilam pelas páginas desse livro, demonstrando tanto a evolução do gênero - que veio a desembocar nas nossas telenovelas de hoje - quanto a forma como ele estimulou o crescimento de uma comunidade de leitores. Isso numa linguagem bem didática e repleta de referências a personagens mais familiares ao público brasileiro, como José de Alencar e Machado de Assis.

Algum dia, ainda hei de ler as aventuras rocambolescas do protagonista mais famoso de Poison du Terrail. E a culpa dessa monumental empreitada (são, salvo engano, trinta e quatro volumes de crimes, sociedades místicas, identidades secretas, identidades descobertas, crianças trocadas, órfãos, princesas raptadas, explosões em criptas sob Paris e fugas alucinantes) será de Marlyse Meyer.


Rei Arthur e os Cavaleiros da Távola Redonda, de Howard Pyle
Cheguei a ler partes dos romances de Howard Pyle quando estava às voltas com meu especial enciclopediano do Rei Arthur. Contudo, como não se tratava de uma ‘fonte primária’ - e eu tinha uma abundância de fontes e tempo limitado de pesquisa - acabei não dando prioridade a ele. Tempos depois, a edição de bolso da Zahar entrou numa promoção irresistível para um livro tão lindo, de capa dura e eu comprei no impulso.

Rei Arthur e os Cavaleiros da Távola Redonda traz histórias do início do ciclo arturiano: primeiro, a revelação de Arthur como lei legítimo da Grã-Bretanha, com ênfase no episódio da espada na pedra; seguido de sua corte a Guinevere e três contos focados em personagens importantes do ciclo: Merlin, sir Pellias e sir Gawain. Os capítulos são episódicos, e Pyle tem uma prosa sem muitos arrodeios, com a ingenuidade e linguagem própria de contos juvenis. Ele pode ser uma boa introdução ao universo arturiano; na minha opinião, contudo, há muito mais frescor na versão de T. H. White.

Essa edição traz ilustrações do próprio autor que, somados à simplicidade do texto, fazem com que eu sinta certa ternura pelos personagens. Vale pela bela edição, e pela curiosidade de descobrir mais uma versão - entre uma miríade de outras - do ‘único e eterno rei’.


A Espada de Shannara, de Terry Brooks
O motivo principal para esse livro ter aparecido na minha estante foi: ele estava naquela famosa lista dos 100 principais livros de ficção científica e fantasia da NPR - e, como todo leitor do blog já deve saber, um dos meus objetivos de vida é ler todos os livros dessa bendita lista. Consegui ele já há algum tempo, através das trocas do Skoob e em janeiro finalmente comecei a lê-lo. E a minha primeira impressão da história foi ‘já vi isso em algum lugar, não?’.

A Espada de Shannara é o primeiro volume de uma trilogia, embora a história apresentada nele tenha final e, pelo que pesquisei, os dois outros volumes trazem como protagonistas descendentes dos personagens que aparecem aqui. Shea Ohmsford, um meio-elfo, descobre sua herança como descendente e herdeiro legítimo do mítico rei elfo Jerle Shannara. A história se passa no futuro após um holocausto nuclear que dizimou boa parte do planeta e a humanidade passou por mutações que fizeram aparecer outras raças além do homo sapiens: trolls, anões e gnomos. Para além disso, a guerra rearranjou a geografia e fez a tecnologia se perder; a magia, contudo, foi redescoberta.

O problema de A Espada de Shannara não é só as semelhanças múltiplas com os livros de Tolkien - inspiração reconhecida pelo autor -, que, em alguns momentos chega a cópia escarrada mesmo de personagens e cenas de O Senhor dos Anéis. Há pouco do encanto, da poesia e da criação de um novo mundo que marcam tão fortemente a obra tolkeniana. Brooks é truncado e repetitivo. Ao que me parece, sua fama se deve mais à época em que foi lançado: 1977, pouco tempo depois de Tolkien ser publicado nos Estados Unidos. Brooks foi um dos primeiros escritores a preencher um nicho que nasceu após o advento da Terra-média. O público estava faminto por mais livros de fantasia naquele estilo, e consumiria… bem, consumiria qualquer coisa. E, para que ele continue sendo citado hoje como um dos principais livros de fantasia escritos, acho que entra mais o fator nostalgia que a qualidade da obra em si.

Queria muito ter gostado desse livro. Mas realmente não deu...


Canhões de Agosto, de Barbara Tuchman
Acho que descobri esse livro numa das indicações do podcast sobre política internacional Xadrez Verbal (muito bom, sempre recomendo ouvir ou ler os posts de lá). Como me interesso pela histórias da guerras, mas sei muito pouco sobre conflito de 1914-18, coloquei ele na minha lista de desejados até que ele aparecesse disponível para troca no Skoob. Faz tempo que ele estava na estante, mas esse ano decidi finalmente começá-lo.

Canhões de Agosto conta a história dos primeiros dias da Primeira Guerra Mundial, apresentando os personagens por trás do conflito, os movimentos dos exércitos através da Europa, e, principalmente, as decisões estratégicas desastrosas de ambos os lados, que levaram a guerra a se estender por anos - quando todos pensavam que seria um embate rápido, fulminante - por um custo humano inestimável.

A prosa de Tuchman é elegante, evocativa, e ela desce a todas as minúcias daquele agosto de 1914, por trás de todos os bastidores, da Rússia, à Inglaterra, França e o Império Alemão. Lembra também que esse conflito marcou o início do que chamamos de guerra moderna - com a introdução de artilharia pesada, tanques, submarinos e o envolvimento de civis. Não é à toa que ela ganhou o Pulitzer por esse livro. Uma pena que ele esteja fora de publicação já há algum tempo.


Beren and Lúthien, de J. R.R. Tolkien
Li Beren and Lúthien como parte do meu Projeto Arda, esperando algo no estilo de Os Filhos de Hurin - uma extensão da história que já conhecíamos de O Silmarillion. Esse volume, contudo, é mais uma compilação de várias versões escritas por Tolkien ao longo dos anos, com comentários explicativos do Christopher Tolkien.

É uma leitura muito interessante para entender a evolução da história, como Tolkien foi mudando elementos, personagens, detalhes do enredo, crescendo o clima, a tensão… há versões em prosa e em poesia, tudo acompanhado pelas soberbas ilustrações de Alan Lee.

Li a edição em inglês em e-book, mas agora que a HarperCollins anunciou que vai lançar a obra traduzida, certamente vou comprar quando ele for lançado. Estou ansiosa também pelo lançamento de A Queda de Gondolin, que está previsto para o final de agosto, e completa a trilogia das grandes histórias apresentadas no Silmarillion.


Dear Fahrenheit 451, de Annie Spence
Uma das meninas que participou da última edição do Desafio Retratos Literários colocou esse volume no tema ‘livros sobre livros’ e tanto a capa quanto o título imediatamente me chamaram a atenção. Nele, Annie Spence - uma bibliotecária de Chicago - escreve cartas para os livros que marcaram sua vida como leitora, bestsellers que são sucesso de público na livraria em que trabalha, livros a serem doados, livros que lhe indicaram, livros que encontrou na casa de pessoas que a convidaram para festas…

É um volume curto, leitura rápida, mas simpática. Algumas entradas rendem boas gargalhadas. Terminei com mais alguns títulos na lista de ‘futuras leituras’, e uma certa vontade de repetir o feito e escrever cartas para os livros que me marcaram.


Paris sobre Trilhos, de Ina Caro
Faz tempo que esse livro estava salvo no e-reader para uma futura leitura - provavelmente baixei ele quando estava organizando alguma viagem e depois me esqueci de sua existência… Fato é que estava em busca de algum livro de não ficção para dar conta de uma ressaca literária e meu olho foi puxado para ele.

Confesso que ele acabou me surpreendendo. Esperava algo como um simples guia de viagem; mas Paris sobre Trilhos é um pouco mais que isso: cada parte do livro é dividida num período histórico e a autora te propõe roteiros que são verdadeiras ‘viagens no tempo’, visitando catedrais, palácios e outros pontos de interesse numa ordem cronológica que faz muito sentido. As informações sobre as pessoas por trás dessas construções, o simbolismo de suas escolhas arquitetônicas, a própria evolução da forma de pensar essas construções: está tudo presente aqui, somados a humor, entusiasmo, lembranças pessoais e muitas dicas práticas para organizar a visita do leitor.

Só senti falta de fotos dos lugares que ela menciona. Não sei se a versão impressão não tem imagens acompanhando o texto, mas no e-book havia apenas alguns mapinhas ao início de cada seção. Bem, sempre se podem providenciar fotos na próxima viagem. E agora aprendi também o valor de se ter um binóculo quando está visitando catedrais góticas repletas de minúcias. Da próxima, definitivamente levarei um na mochila.


A Noiva do Capitão, de Tessa Dare
Li A Noiva do Capitão por indicação de uma amiga, que disse que 'parecia uma história que você escreveria'. Comecei de noite numa quarta e só não terminei no mesmo dia porque teria pilates na manhã seguinte e precisaria acordar cedo. E também pelo risco muito real de acordar a casa inteira com as gargalhadas.

Madeline “Maddie” Gracechurch tem fobia de multidões e, para escapar ao seu debute na sociedade inglesa - estamos falando da Inglaterra dos tempos da regência, claro - inventa um noivo escocês convenientemente enviado para lutar no Continente nas Guerras Napoleônicas. Essa mentira dura dez anos, dá a ela liberdade para trabalhar em seus desenhos naturalistas, além de um castelo nas Terras Altas da Escócia. Tudo estaria muito bem não fosse o detalhe do nome inventado de seu oficial ser bastante comum, de forma que suas cartas acabaram de fato chegando ao Capitão Logan MacKenzie, que após o final da guerra aparece para clamar sua noiva.

O enredo é… ridículo e as situações em que os dois protagonistas se metem ao longo da história, também. A Noiva do Capitão simplesmente não se leva a sério, e é justamente por isso que funciona tão bem: entre noivados imaginários, atoleiros, lagostas e falhas de comunicação, o livro se revela um romance rápido, divertido e leve. Não espere muita verossimilhança histórica, mas vale as risadas.


O Filho da Feiticeira, de Kelly Barnhill
Kelly Barnhill surgiu no meu radar quando vi a capa de A Garota que Bebeu a Lua no Goodreads. Não consigo me lembrar qual era o contexto, mas o título me chamou a atenção e a sinopse também. Alguém fez algum comentário sobre traduções, anunciando que esse livro seria trazido para o Brasil e que era ‘da mesma autora de O Filho da Feiticeira’. Por essas questões de acaso, o livro estava disponível para troca no Skoob e foi assim que cheguei nele.

Comecei a leitura sem qualquer expectativa, mas o começo trágico da história - com a perda do irmão gêmeo de Ned, um dos protagonistas - me fisgou. Afinal, me pareceu corajoso começar um livro infanto-juvenil com uma morte, com as reações à perda, do luto à culpa. Quando terminei, decidi que esse era um daqueles volumes que gostaria de ter lido quando criança - para então revisitar adulta.

Barnhill escreve de forma muito sensível e muito serena sobre mortalidade, sacrifícios, sobre o peso da perda naqueles que ficam para trás. O Filho da Feiticeira serve como um excelente gancho para ter uma conversa com as crianças sobre o assunto. A forma como ela trabalha a magia também é interessante, especialmente no que diz respeito à linguagem e vontade; e há imagens de muita força imaginativa, especialmente quando se juntam Áine, Ned e o Lobo. É um livro para compartilhar, sem dúvida alguma.


Viagem ao Centro da Terra, de Jules Verne
Terminando por hoje, mais um clássico do Verne. Já escrevi bastante sobre como Jules Verne foi um dos autores da minha infância, e tenho redescoberto essa afeição com essas edições novas da Zahar. Peguei Viagem ao Centro da Terra para me acompanhar numa bateria de exames que me deixou o dia inteiro plantada em salas de espera e ele foi um excelente companheiro, do tamanho certo para caber na bolsa e para terminar de ler no mesmo dia.

Lembrei-me muito desse livro quando estava às voltas com No Reino do Gelo, porque as teorias da época em que o USS Jeannette tentou conquistar o Pólo Norte não estavam muito longe daquelas que levaram o professor Lidenbrock, seu sobrinho Axel e o infatigável Hans a se enfiar pela cratera de um vulcão extinto na Islândia. Verne testa aqui todo o seu engenho, levando-nos numa aventura através do gelo, do fogo, de mares e florestas subterrâneas e sim, fica claro pela capa, dinossauros.

Quando criança, esse foi um daqueles títulos que me levou a sonhar com aventuras e expedições extraordinárias; adulta, ele continua com o mesmo poder de sedução, com a mesma capacidade de nos fazer mergulhar fundo na história, de perder o fôlego com cada novo perigo que surge. Virei a última página com vontade de ir fazer as malas para a Islândia e começar minha expedição (embora não me empolgue tanto com a possibilidade de ser expelida ao final por um vulcão).


A Coruja


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