14 de junho de 2018
Agência nº1 de Mulheres Detetives
Mma Ramotswe tinha uma agência de detetives na África, no sopé da colina Kgale. O patrimônio da agência era: uma pequenina van branca, duas escrivaninhas, duas cadeiras e uma velha máquina de escrever. Havia ainda um bule em que Mma Ramotswe - a única mulher detetive em Botsuana - preparava seu chá de rooibos, uma erva nativa. E três canecas - uma para ela própria, uma para a secretária e uma para o cliente. Uma agência de detetive precisa de mais alguma coisa? Agências dependem de intuição e inteligências humanas, ambas bem presentes em Mma Ramotswe. Mas esses são itens que ninguém jamais pensa em incluir num inventário, é claro.
Descobri Agência n. 1 de Mulheres Detetives por acaso, num passeio ao sebo. O título fez-me lembrar de uma amiga que é fã de romances policiais e comprei-o com a vaga intenção de enviá-lo para ela. Antes que isso acontecesse, porém, comecei a folheá-lo e logo me perdi na leitura.
A história gira em torno de Preciosa Ramotswe, que após uma série de tragédias pessoais - a morte do pai, um relacionamento abusivo, a perda de um bebê - decide montar uma agência de detetives - sendo ela mesma a primeira e única detetive de seu país, Botsuana, bem ao sul do continente africano. Leitora de Agatha Christie, Preciosa aprende os meandros de sua nova função na base da necessidade, à medida em que vão surgindo casos - e descobre que ser uma detetive significa ser um misto de terapeuta, conselheira e abelhuda profissional.
Entre os casos que investiga neste volume estão o de um pai perdido que pode ser um falsário; um marido que talvez seja adúltero e até o de uma jovem namoradeira. Mas o maior de seus desafios será o desaparecimento de um garoto, por muitos dado como morto em algum ritual secreto de vodu.
A princípio, o livro me fez pensar nos mistérios de Miss Marple - e a Ramotswe tem muito da intuição e poder de observação da velhinha detetive -, mas a verdade é que ela é sua própria criatura. Embora às vezes pareça bem mais velha em função dos sofrimentos que já viveu, ela tem apenas 34 anos, é inteligente, pragmática e bem disposta. Ela se revela nas frases curtas, no humor confortável e no calor afetuoso que parece transbordar das páginas que se vai passando. Ramotswe tem voz e é na voz dela que a história nos é contada.
Isso é um pouco surpreendente quando se vê de relance o nome do autor. Mas, embora Alexander McCall Smith tenha nacionalidade britânica, ele nasceu no Zimbábue e fez carreira como professor (de direito!) em Botsuana. Smith conhece a sociedade, o mundo que descreve na história e, talvez mais importante, sabe sair de cena para que o leitor enxergue apenas a narradora. Em sua forma episódica de contar a história, alternam-se capítulos que contam do passado de Preciosa, com outros mais filosóficos, enquanto se costuram casos por entre as reflexões da protagonista.
Agência n. 1 de Mulheres Detetives não é um livro extraordinário, daqueles que te faz ficar virando páginas freneticamente para descobrir o criminoso, que te faz até perder a noite de sono para ver a conclusão do caso. Ele tem o ritmo das xícaras de chá que Ramotswe serve aos seus clientes e vai bebendo enquanto reflete sobre os mistérios que eles lhe apresentam. Isso, contudo, não significa que não seja um bom livro, confortável como se sentar numa poltrona favorita e também bebericar sua própria xícara de chá.
Nota:
(de 1 a 5, sendo: 1 – Não Gostei; 2 – Mais ou Menos; 3 – Gostei; 4 – Gostei muito; 5 – Excelente)
Ficha Bibliográfica
Título: Agência nº1 de Mulheres Detetives
Autor: Alexander McCall Smith
Tradução: Carlos Sussekind
Editora: Companhia das Letras
Ano: 2003
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Parece ótimo! Uma agência de detetives femininas e ainda fã de Agatha Christie? Já vai pra listado de desejados do Skoob. :-)
ResponderExcluirÉ um livro muito delícia mesmo, Tatá. Vou enviar pra ti ;)
ExcluirOlá Lulu você poderia enviar o livro para mim nino meu email giselisilv3@gmail.com agradecerei se enviar
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