12 de junho de 2017
Histórias Reais Mais Incríveis que a Ficção: a tragédia do USS Jeannette
Muito tempo atrás, li Ex-Libris: Confissões de uma Leitora Comum, da Anne Fadiman, e me diverti com a confissão da autora em um dos ensaios, de que gostava de colecionar livros sobre viagens ao Pólo. Não lembro agora exatamente se era o Sul ou o Norte, nem como ela explicou o interesse, mas sei que a declaração dela me deixou uma impressão forte o suficiente para que, quando vi o lançamento de No Reino de Gelo, imediatamente me lembrei dela e o livro entrou, assim, como quem não quer nada, na minha lista de futuras leituras. Aí na Black Friday do ano passado encontrei o bendito em promoção por pouco mais de dez reais e coloquei-o no carrinho para completar o frete grátis da Amazon, bem despretensiosamente.Em 8 de julho de 1879, De Long e uma tripulação de 32 homens zarpam de São Francisco no USS Jeannette com o ambicioso objetivo de alcançar o Ártico pelo estreito de Bering, em vez da até então conhecida rota ao longo da costa da Groenlândia. No entanto, apenas dois meses após a partida o Jeannette fica totalmente preso a uma enorme banquisa, e assim permanece por quase dois anos, flutuando ao sabor da maré em meio ao oceano congelado. Quando, na primavera de 1881, parece que o navio finalmente se libertará de sua prisão, um violento choque com um bloco de gelo força os homens a abandonarem a embarcação. Horas mais tarde, o Jeannette afunda, e sua tripulação se vê obrigada a vencer a pé e em pequenos botes os mil quilômetros de oceano congelado que a separam do norte da Sibéria e da frágil tentativa de sobrevivência.
Enfrentando os terríveis efeitos do frio e da neve, a fome, ferozes ursos polares e labirintos de gelo, a tripulação segue rumo a um destino incerto. Com reviravoltas impressionantes, No Reino do Gelo é uma fascinante história de heroísmo e determinação num dos locais mais implacáveis do planeta.
O que tenho de mais importante a dizer após terminar a leitura dele é obrigada, Anne Fadiman e Amazon, pela oportunidade de me fazer conhecer essa história. Sério, muito obrigada.
No Reino de Gelo conta os detalhes do antes, durante e depois da expedição do USS Jeannette ao Pólo Norte em 1879, numa época teorias parecidas com histórias de Jules Verne eram aceitas como perfeitas possibilidades científicas: o pólo norte seria um mar aberto temperado logo após um círculo de gelo protetivo que provavelmente tinha uma abertura em função de correntes marítimas quentes indo naquela direção; talvez houvesse uma civilização perdida secreta, ou mesmo subterrânea, no melhor estilo Viagem ao Centro da Terra. A narrativa de Hampton Sides se fundamenta em rigorosa pesquisa, e mistura cartas, diários recuperados de membros da expedição e jornais da época para reconstituir uma aventura que não ficaria deslocada em algum grande blockbuster moderno.
A história do navio e sua expedição, por si só, - a coragem e ambição de explorar o Ártico, até então um terreno completamente desconhecido, numa época em que não havia GPS, nem rádio e os barcos eram movidos a vapor quando não tinham bons ventos a seu favor e isso num mar coalhado de icebergs no melhor estilo campo minado - são suficientes para deixar o leitor tenso e interessado. Mas a isso ainda há de se somar um elenco de personagens brilhantes e excêntricos, do multimilionário James Gordon Bennett Jr., dono do jornal New York Herald, que financiou toda a expedição (e, caramba, quero ler uma biografia desse cara!), ao capitão De Long, determinado e tragicamente heróico; sua leal esposa Emma, e o cartógrafo alemão August Petterman; e os tripulantes do navio, em especial George Melville e suas incansáveis tentativas de resgatar os companheiros separados na costa siberiana.
Na verdade, por boa parte do livro fiquei com vontade de parar e utilizar algumas dessas personalidades para criar personagens para contos meus. E os títulos dos capítulos também entraram numa lista para futuras inspirações. Há tantos motivos para se empolgar com esse livro - pela história, pela pesquisa, pelas imagens que evoca - que não mais dizer por qual dessas qualidades todas mais me apaixonei. Precisarei ler mais livros sobre explorações em continentes perdidos, sobre aventureiros excêntricos, para chegar a uma conclusão sobre o assunto.
Como bem dizia Borges, toda prosa é ficção e No Reino de Gelo se lê como o melhor tipo de ficção, por mais reais que sejam os fatos narrados: é uma história de coragem, resistência, amizade, lealdade, de aventura e perdas, mas também de sobrevivência. É uma história que nos inspira a também fazer o melhor que pudermos, a enfrentar um dia de cada vez e continuar em frente. Afinal, se homens como De Long e sua tripulação são capazes de passar dois anos presos num iceberg, à deriva no mar ártico; naufragar, atravessar icebergs a pé em condições bastante precárias inclusive por causa das temperaturas e depois, em alguns botes, chegar até a Sibéria sem perder a fé no engenho humano, então nós, que vivemos com todos os confortos possíveis na era moderna, somos perfeitamente capazes de sobreviver aos obstáculos do cotidiano, não é mesmo?
Nota:
(de 1 a 5, sendo: 1 – Não Gostei; 2 – Mais ou Menos; 3 – Gostei; 4 – Gostei muito; 5 – Excelente)
Ficha Bibliográfica
Título: No Reino de Gelo
Autor: Hampton Sides
Tradução: Berilo Vargas
Editora: Intrínseca
Ano: 2016
Onde Comprar
Amazon || Cultura || Saraiva
A Coruja
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Sobre
Livros, viagens, filosofia de botequim e causos da carochinha: o Coruja em Teto de Zinco Quente foi criado para ser um depósito de ideias, opiniões, debates e resmungos sobre a vida, o universo e tudo o mais. Para saber mais, clique aqui.
Eu já tinha gostado da Sinopse, mas depois de ler sua resenha fechei o pedido, estou ansiosa para o livro chegar e embarcar nessa leitura!! Obrigada.
ResponderExcluirLi três vezes de tão bom que é
ResponderExcluirQue bom que gostou! Eu já reli também e sempre me dá a impressão de que daria um daqueles filmes do qual não conseguimos desgrudar os olhos...
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