30 de agosto de 2020

A Vertigem das Listas: Dez Jovens Heroínas nas Quais se Inspirar


Lulu: Estava outro dia pensando em personagens que servem como modelo de conduta e fonte de inspiração, como parte de um contexto maior acerca de diversidade e da importância de se enxergar nas histórias que consumimos. Esse é sempre um debate interessante, e já escrevi sobre o assunto cá no Coruja.

Seja como for, tais pensamentos - que muitas vezes me aparecem no momento em que desligo a luz e puxo as cobertas pra cima - inspiraram o tema do vertigem desse mês (se eu pulei da cama e escrevi rapidinho no escuro um garrancho que no dia seguinte estava inelegível? Claro que sim!), somados a comentários acerca da minha função de “madrinha literária” dos sobrinhos. Assim, segue a lista de Dez Jovens Heroínas nas quais se Inspirar (heróis, afinal, existem aos montes… quando eu era menina, não tinha tantas escolhas à minha disposição…).

1. Começo minha lista pela Tiffany Aching, criada Terry Pratchett, numa das subséries de Discworld. Isso porque, da primeira vez que terminei de ler Os Pequenos Homens Livres, imediatamente pensei “queria ter lido esse livro quando criança”. Tiffany é inspiradora: inteligente, pragmática, determinada, com um potencial imenso e fascinante. Nós acompanhamos seu crescimento ao longo da série, seus erros, acertos, decepções. Pratchett sabia escrever jovens heroínas interessantes, tendo sido reconhecido por isso com indicações a prêmios como o Amelia Bloomer Award - que indica livros com temática feminista para jovens leitores. A Daphne, do maravilhoso Nation, também merece uma menção honrosa nessa lista, mas como só tenho espaço para cinco indicações… ficarei com a Tiffany como minha nomeada oficial, por ter consciência de assumir seus erros e as consequências deles e não ter medo de trabalho duro e de ser exatamente quem ela deseja ser.

Novas capas da série da Tiffany, desenhadas por Laura Ellen Anderson.

2. Minha segunda indicação é de uma heroína pouco conhecida cá no Brasil, mas muito lembrada lá fora como uma protagonista feminina pioneira para jovens leitores: falo de Alanna de Trebond, da série The Song of the Lioness de Tamora Pierce. O primeiro livro foi publicado em português, mas depois disso, não houve mais notícias sobre o assunto, o que é uma lástima. Alanna deseja ser um cavaleiro, tendo um enorme talento para as artes do combate, e acaba se travestindo como o irmão para realizar seu sonho. Há questões muito interessantes sobre identidade e gênero e se aceitar que perpassam a jornada de Alanna; como uma expoente do arquétipo de donzela guerreira, Alanna merecia ser mais conhecida por aqui. Alanna é corajosa, inteligente e não escuta quem diz a ela que “isso é coisa de menino”. Ela faz o que quer fazer e segue seus sonhos.


3. Continuo essa lista com um clássico que me marcou profundamente - outro daqueles livros que li adulta e senti por não ter conhecido mais jovem: falo de Jane Eyre, da Charlotte Brontë. Eu poderia ter citado também a maioria das protagonistas da Austen e elas também caberiam bem nessa lista, mas há algo de intenso, apaixonante, vulnerável e tão íntegro em Jane Eyre que tive como não preferi-la. Embora tenha um final feliz, é uma história de sofrimento, sobre as dores de achar seu lugar no mundo, sobre família e amor-próprio, e também sobre se respeitar e ser fiel a si mesmo. Jane tem uma coragem impressionante, inclusive de abrir mão do que lhe aparenta ser uma grande felicidade por não acreditar ser correto. Lições para levar para a vida.


4. Minha próxima escolha é a Sara Crewe, de A Princesinha. Estou com o livro da Frances Hodgson Burnett aqui para ler ainda (é um dos próximos da lista), mas conheço a personagem por causa do filme de 95, que passou vezes sem fim na Sessão da Tarde. Sara tem uma imaginação pujante, está sempre contando estórias; tem de lidar com luto, malícia e inveja, vai de uma garotinha rica com todos os seus desejos atendidos para uma vida de servidão brutal logo após perder o pai - e supera os obstáculos sem perder sua capacidade criativa, sua compaixão e sua ternura. A Burnett tem outra garotinha inspiradora em O Jardim Secreto; Mary apela bem para meu lado rabugento de ser. As duas merecem estar nessa lista, definitivamente.


5. Vou dizer que tive muita dificuldade em decidir qual a última personagem que eu colocaria aqui. No final, decidi-me por uma pequena notável que se tornou uma das minhas favoritas desde a primeira leitura: Scout Finch, do maravilhoso O Sol é para Todos, da Harper Lee. Scout tem seis anos, vivendo uma série de aventuras de verão com o irmão e o amigo Dill, quando um crime envolvendo racismo acontece na cidade. Seu pai se torna advogado da causa, e é através dos olhos de Scout que assistimos essa trama se desenrolar. É uma história de cortar o coração, mas necessária. A inocência, a coragem, a admiração pelo pai, a empatia, tudo isso num enredo doloroso sobre injustiça e preconceito fazem de Scout uma inspiração importante para essa lista.



Ísis: Não já fizemos esse tema, não?

Lulu: Não exatamente. Fizemos um tema parecido chamado “damas astutas”, mas leve em consideração que a essência daquele tema permitia inclusive personagens vilanescas. Aqui estamos falando de jovens heroínas, personagens que nos servem de modelo, daquele tipo “quando crescer quero ser igual a…”. São aqueles livros que lemos ou queríamos ter lido mais jovens, que queremos apresentar às novas gerações, que temos, como dito no título, como uma inspiração.

Ísis: Ah, tá. Tem que ser menor de idade, basicamente, né?

Lulu: Não necessariamente. Há personagens na minha lista que começam a história crianças, mas que acompanhamos até a vida adulta. O importante, creio, é a lição que elas nos deixam e como fazem-nos sentir representadas.

Para facilitar: pense em personagens que você conheceu ou queria ter conhecido quando você era mais nova, por que elas te apresentaram a conceitos e sentimentos que você acha importante - pense no que elas te ensinaram e que importância essas lições tiveram pra você. ‘Inspiração’, lembra? Essa é a palavra-chave aqui.


Ísis: Vamos lá então…

6. Minha primeira é a Nausicaä, do filme do estúdio Ghibli cujo título é o nome da heroína. Eu amo esse filme por vários motivos, entre eles a temática ambiental que semeia a narrativa. A protagonista é a princesa de uma pequena vila, mas ela é inteligente, gentil, ágil, curiosa, corajosa e exploradora. É raro eu gostar de personagens femininas de anime/manga, mas Nausicaä é definitivamente uma das minhas favoritas!


7. O motivo de eu não gostar de personagens femininas de manga/animes é que elas tendem a cair em uma das duas (ou três) categorias: ou são violentas, briguentas e irritantes, batendo em tudo e todos, às vezes sem razão alguma; ou são muito pastéis, geralmente boazinhas, caladas e, às vezes “gélidas”; ou são cheias de energia e permanentemente felizes, às vezes manifestando-se como parte da primeira categoria, que é a que eu realmente detesto. A Isuzu (Rin) de Fruits Basket se encaixa nas duas primeiras categorias, simultaneamente, mas algo sobre essa égua (pun intended) cativou-me sem piedade. Eu esperei muito até animarem um dos meus momentos favoritos do manga, e quando finalmente o assisti há uns dois meses atrás, gritei feito louca. Rin é linda, alta, esbelta, estilosa, geniosa e determinada. Eu admiro o que ela foi capaz de arriscar e de fazer para proteger quem ela ama. Como ela é uma das últimas personagens a aparecer na história (lá pelo décimo volume), é fácil relevar o papel dela, mas definitivamente ela é minha preferida (o Kyo e o Haru estão empatados no pódio masculino).


8. A gente já nomeou a Hermione Granger de Harry Potter em inúmeras listas, por isso eu relutei em citá-la, mas venhamos e convenhamos que ela é uma excelente personagem. Esperta, inteligente, expõe sua ideias e incrivelmente habilidosa, é graças a ela que o herói da saga se safa de várias situações perigosas. Hermione tem tanta determinação e coragem quanto a dupla “principal” Harry e Ron, mas sem ela os dois teriam morrido ou falhado antes ou mesmo de começarem qualquer aventura.


9. Eu assisti Fullmetal Alchemist já tem mais de uma década, mas lembro bem da Winry, uma personagem que mal aparecia na história, mas não deixou de impressionar com sua habilidade e inteligência. Ela era amiga de infância dos protagonistas, e apesar de não participar das aventuras dos mesmos, ambos a apreciam e recorrem a ela em vários momentos. Winry é leal, corajosa, hábil e inteligente, além de muito bonita. Difícil exemplo de seguir, mas parabéns para quem conseguir segui-la! :)


10. Falando em personagens que mal aparecem mas que me ficaram na memória, recentemente assisti ao remake de She-ra. Não gostei muito da protagonista (mas não a detestei), detestei a antagonista e achei legal alguns outros personagens. Definitivamente amei Netossa e Spinerella, mas vou indicar a primeira porque temos *um pouco* mais de tempo com ela na tela para poder entendemos melhor sua personalidade. Nem uma das duas aparecem muito, embora suas participações aumentem a partir da terceira temporada. Netossa é uma das princesas do poder e ela pode…. jogar redes. Sim, é ridículo quando colocado assim, mas eu acabei amando o poder dela e é meu preferido depois do de teletransporte. Ela é competitiva e espirituosa, mas é também leal, protetora, bondosa, e ágil. Céus, eu tenho um arquétipo preferido….. ^^’



Lulu: E assim terminamos a lista desse mês! E vocês, que jovens heroínas os inspiram? Compartilhem com a gente!



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