15 de setembro de 2015
Para ler: A Canção de Alanna - A Primeira Grande Aventura
Ela adormecia no momento em que caía na cama para acordar ao alvorecer e treinar um pouco mais. Estava determinada a vencer Ralon, pois significaria que finalmente teria conquistado o seu lugar entre os garotos. Significaria que ela podia fazer qualquer coisa que os meninos maiores e mais fortes faziam.
Não sei onde, exatamente, cruzei com o nome de Tamora Pierce pela primeira vez, mas creio que deve ter sido algum artigo sobre representatividade feminina em literatura fantástica. Mais recentemente, a Scifigrl47 – uma ficwriter que acompanho e que está sempre tocando no assunto de diversidade e representatividade nos quadrinhos – escreveu um post falando sobre como Pierce foi uma importante leitura de formação para ela; como foi importante encontrar uma heroína como Alanna de Trebond para ter como modelo.
Coincidentemente, à mesma época a editora Única traduziu o primeiro volume da série Song of the Lioness e eu não tive como resistir a essa tentação.
Se você assistiu Mulan (que, por sinal, é meu filme favorito da Disney...) provavelmente vai achar a sinopse de A Canção de Alanna: A Primeira Grande Aventura familiar. Alanna de Trebond quer DESESPERADAMENTE ser um cavaleiro e, se para isso for necessário trocar de lugar com seu irmão gêmeo e se apresentar perante a corte como Alan, então é exatamente isso que ela vai fazer.
Alanna é uma personagem muito interessante e bem construída. Ela sempre demonstrou talento para as artes de combate – mais até que seu irmão, Thom, que deseja na verdade ser um mago. Pela natureza do estado em que cresceram, uma região de fronteira, Alanna foi ensinada a se defender e se destacou o bastante em seus estudos que impressionou o servo responsável por ensiná-la, Coram, um velho guarda do reino – a ponto de ele aceitar manter a farsa quando ela lhe é revelada.
Isso não significa que ela saiba tudo e seja absolutamente perfeita no que faz. Ao chegar à Corte, Alanna vira alvo de um dos escudeiros mais velhos, que se compraz em tentar humilhá-la a todo momento... “Alan” apanha bastante enquanto treina em segredo para ser capaz de enfrentar seu atormentador, pois se recusa a receber ajuda – embora tenha feito bons amigos dispostos a dar um jeito na situação, incluindo o príncipe herdeiro do trono, Jonathan.
Alanna questiona-se constantemente, mas não desiste daquilo que quer fazer e se esforça incansavelmente para alcançar seu desejo de ser uma cavaleira. Aliás, é exatamente por isso que Alanna acaba se tornando a melhor no que faz: ela está sempre tentando (e conseguindo) provar para si mesma que é capaz de fazer o que é necessário para ser quem ela quer ser.
Durante boa parte do livro, ela tem dificuldades em aceitar sua própria identidade como uma garota – e considerando o lapso temporal ela atravessa o início de sua puberdade nesse primeiro volume da série – mas quando percebe que pode ser aceita como mulher e como guerreira, começa a aceitar seu gênero. Como ainda há mais três volumes acompanhando suas aventuras, eu acredito que parte do seu processo de amadurecimento vá passar por essas questões de identidade e gênero.
Isso é importante, porque Alanna é uma daquelas heroínas para a qual gostaria de ter sido apresentada quando criança (mas que vou apresentar às minhas sobrinhas): uma heroína que nos lembra que ser mulher não nos impede de fazermos o que quisermos fazer, ser quem quisermos ser.
Todo o elenco do livro é muito bom. George, o rei dos ladrões; o príncipe Jonathan e sua trupe leal; Sir Myles e Coram... Há mistério e magia, excelentes cenas de combate, o humor involuntário de uma garota no meio de vários rapazes que acham que ela é um deles... Há deuses e fantasmas, espadas antigas e cidades amaldiçoadas.
Sendo uma contumaz leitora de fantasia, gostei bastante do livro, e não tenho dúvidas que se o tivesse descoberto mais nova, ele teria sido uma daquelas referências que levamos para o resto da vida. Tendo passado um pouco da idade em que posso me identificar completamente com Alanna, enxergo alguns problemas na narrativa – em especial a questão de passagem de tempo, que não tem muitas marcações claras –, mas nada que diminua minha satisfação no conjunto.
Como esse é o primeiro livro de um quarteto, reservo julgamentos finais para quando tiver lido o último volume. De uma forma ou de outra, eu definitivamente recomendo Tamora Pierce e estou bastante ansiosa para ler o resto.
Nota:
(de 1 a 5, sendo: 1 – Não Gostei; 2 – Mais ou Menos; 3 – Gostei; 4 – Gostei muito; 5 – Excelente)
Ficha Bibliográfica
Título: A Canção de Alanna - A Primeira Grande Aventura
Autor: Tamora Pierce
Tradução: Ana Resende
Editora: Única
Ano: 2015
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Como vocêe não me mandou esse?! oO
ResponderExcluir(digital serve; XD)
Como é que eu ia adivinhar que tu querias? Vou ver se encontro depois para te mandar - quero o resto da série...
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