Aquela coisa minúscula caiu no chão; aquela coisa insignificante que podia romper equilíbrios e derrubar uma sequência de pequenos dominós, depois grandes dominós e finalmente gigantescos dominós ao longo dos anos e através do Tempo. Aquilo poderia alterar o mundo.

Quando você vê uma antologia que se entitula “as melhores história de tal e tal gênero”, você sempre deve levar essa classificação com um grão de sal e uma boa dose de desconfiança: afinal, o que é bom para uns pode não ser para outros e a seleção de contos aqui passa pelo gosto pessoal dos organizadores. Não há como ser objetivo, a não ser que você decida fazer uma pesquisa global com todo mundo que já leu uma história daquele tipo na vida. A despeito disso, quando vi os autores citados na capa dessa antologia, decidi que queria lê-lo e eis então que ele aparece no nosso Desafio Corujesco de junho.

(O fato de tê-lo conseguido através de uma troca do Skoob também ajudou um bocado para essa escolha…).

Há histórias em que viajamos ao futuro e outras tantas, ao passado; há aquelas em que a viagem no tempo é o centro das atenções, com explicações científicas extensas sobre o assunto e outras em que a viagem é um meio acessório para contar a história. Há dinossauros e paradoxos; trapaceiros, caçadores e cientistas; humor e tragédia. Considerando que temos um tema uniforme para todos os títulos escolhidos para o livro, é interessante comparar como cada autor trabalha a ideia de viagem no tempo.

Conhecia já de outras antologias dois dos contos apresentados, Um Som de Trovão, que é por muitos considerado uma das melhores narrativas de Ray Bradbury e Vigia de Incêndio, da Connie Willis, que foi minha primeira experiência com os Historiadores e me deixou coçando para ler O Livro do Juízo Final. Todos os outros me eram novidade, embora alguns autores, como Arthur C. Clarke , Joe Haldeman e Richard Matheson me fossem familiares. Aliás, minha maior surpresa dessa antologia foi descobrir que o mesmo Matheson responsável por escrever o açucarado Em Algum Lugar do Passado foi o autor de Eu sou a Lenda. Só senti falta do Philip K. Dick nessa antologia; O Pagamento é uma das melhores histórias de manipulação do tempo que li até hoje…

Como gosto de humor, sarcasmo e personagens vingativos, minhas histórias favoritas foram Arma para Dinossauros, de L. Sprague de Camp, que começa muito parecida com Um Som de Trovão, com safáris organizados para o passado, a fim de caçar dinossauros, mas que em vez de lidar com paradoxos e efeito borboleta, trazem o conceito de que o tempo é capaz de se organizar sozinho, com consequências bem dolorosas para quem tenta trapaceá-lo; e também o delicioso Leviatã, de Larry Niven, que me pareceu ecoar o tom de O Guia do Mochileiro das Galáxias, com viagens ao passado que partem para dimensões paralelas e buscas por animais mitológicos (e posso morrer de rir com a identificação óbvia da cachalote caçada?).

Ao final das contas, gostei bastante do livro. Os contos apresentados são, de fato, excelentes - minha experiência com antologias costuma ser meio morna, mas aqui o interesse se manteve por toda a leitura - e com pontos de vista e contextos extremamente diferentes. É um bom volume para se ler tanto como divertimento como estudo da evolução desse conceito tão caro à ficção científica. E agora tenho mais uma lista de autores de que quero ler mais coisas.

Vou precisar de um vira-tempo para dar conta de ler tudo o que tem nessa lista...

Nota:
(de 1 a 5, sendo: 1 – Não Gostei; 2 – Mais ou Menos; 3 – Gostei; 4 – Gostei muito; 5 – Excelente)

Ficha Bibliográfica

Título: As Melhores Histórias de Viagens no Tempo
Autor: Vários
Tradução: Gilson Cesar Cardoso de Sousa
Editora: Jangada
Ano: 2016

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