20 de outubro de 2020
All Hallow's Read: Vitorianas Macabras
"Corri para casa, de cabelo em pé, com o corpo tremendo. Fiquei fora de mim por mais de uma hora. Seria uma ilusão? Estou perdendo o juízo? Ó Deus, Deus! Estou ficando louco?."
Vou começar dizendo que assim que vi o anúncio desse livro por aqui, fiquei de queixo caído, tanto pela beleza da edição quanto pelo conteúdo. Um ano atrás li Monster, She Wrote, um fantástico volume de referência sobre autoras pioneiras no horror e na ficção científica, e, por causa dele, uma boa parte dos nomes trazidos na coletânea da Darkside me eram familiares - e tinham entrado na minha lista de futuras leituras -, de forma que não tive dúvidas de colocar Vitorianas Macabras entre meus desejados.
A antologia reúne treze contos (e como poderia ser outro número?), além de uma série de extras, como ensaios sobre a era vitoriana, sua fascinação com a morte e o macabro, um pouco sobre a rainha Vitória (com várias referências a biografia escrita por Lytton Strachey, que já resenhei aqui), e indicações de filmes acerca do período. Cada conto começa com algumas linhas biográficas sobre a escritora e uma pequena sinopse preparatória ao conto. Cada detalhe é pensado para adicionar à experiência de leitura - porque é uma experiência, uma descoberta, uma jornada que fazemos a cada página virada.
Alguns nomes do elenco de autoras certamente são familiares aos leitores do Coruja: estão lá Edith Nesbit (famosa pelos contos infantis), Charlotte Brontë (o que é sempre uma boa desculpa para voltar a Jane Eyre) e Elizabeth Gaskell (Norte e Sul é um dos meus romances favoritos da vida) - Gaskell, aliás, é autora de um dos melhores contos da antologia, O Conto da Velha Ama. Conhecidas ou não, fato é que o resgate empreendido por Vitorianas Macabras vem bem a calhar.
O leitor moderno pode achar alguns dos enredos previsíveis, mas é importante frisar que essas mulheres foram pioneiras no gênero, resgatando temas do romance gótico mas dando a eles a marca delas e de sua época. A era vitoriana foi um tempo de enormes contrastes - de tradição e progresso, grande riqueza e inescapável pobreza - e esses contrastes estão presentes não apenas nos contos, mas na própria figura das autoras. O simples fato de escrever (e até de se sustentarem com suas obras) as tornavam transgressoras (aliás, as informações biográficas que o volume traz atiçaram minha curiosidade para descobrir mais sobre muitas delas), e elas abriram caminho para as mulheres não apenas no horror, mas na própria carreira como autoras.
Morte, e o que vem depois dela; fantasmas e vinganças; amores proibidos, tragédias e mistérios inexplicáveis; loucura, delírio ou experiências sobrenaturais; monstros de pedra e janelas ilusórias; a sugestão do pesadelo sob o verniz elegante da sociedade: há de tudo um pouco em Vitorianas Macabras, para todos os gostos e fãs do horror clássico.
Nota:
(de 1 a 5, sendo: 1 – Não Gostei; 2 – Mais ou Menos; 3 – Gostei; 4 – Gostei muito; 5 – Excelente)
Ficha Bibliográfica
Título: Vitorianas Macabras
Autor: Vários
Tradução: Marcia Heloisa e Marina Pereira
Ilustrações: Jennifer Dahbura
Editora: Darkside
Ano: 2020
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A Coruja
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