23 de novembro de 2021

Sugestões de Presentes para o Leitor em sua Vida


Final de ano chegando, é tempo de conferir as listas de presente - e além dos usuais suspeitos, há sempre um amigo secreto no meio do caminho e nem todo mundo deixa uma listinha conveniente de seus gostos por aí. Para quem tem um leitor em sua vida, a resposta do que dar de presente pode parecer óbvia (livros!), mas já ouvi muita gente se angustiar dizendo "como vou saber qual o livro que fulano ainda não tem?".

De fato, dar livros de presente não é tão fácil quanto se aparenta, especialmente se você não conhece tão bem assim o gosto do presenteado. Para quem não quer se arriscar de jeito nenhum, o mais fácil, claro, é providenciar um cartão presente e deixar que a pessoa escolha por si só. Ainda, caso o presenteador tenha faro de detetive, pode tentar descobrir se a pessoa tem perfil numa rede como o Skoob (que possui uma categoria para marcar nossos livros desejados) ou uma lista de desejos cadastrada na Amazon.

Pessoalmente, gosto de escolher pessoalmente os presentes literários que dou - embora sempre leve em consideração o que sei do gosto do “freguês”. Mais vezes que não, acabo presenteando com meus próprios favoritos: os livros que amo, quero colocar todos para lê-los também. Nesse contexto, penso que todo leitor habitual, quando dá um livro de presente, dá também um pouco de si mesmo. Mas, veja, há um limite tênue entre ser alguém que apresenta novas histórias para alguém receptivo a isso... e o chato que quer doutrinar o povo e impôr seus gostos. Tenham cuidado com isso e não percam de vista as preferências da pessoa presenteada.

Enfim… minha ideia não era exatamente começar a filosofar aqui, mas apresentar uma lista de sugestões de presentes literários (e não apenas livros dessa vez!). Já fiz isso antes aqui, mas desta feita farei um apanhado mais geral de indicações, sem separar por categorias. Enfim, vamos ao que interessa!

Se você não tem nem ideia de por onde começar a descascar o gosto literário do seu presenteado… um livro curto, ilustrado, talvez um conto de fadas, com uma história de acolhimento - ou nenhuma história específica, mas uma mensagem positiva - pode ser uma boa pedida. São livros que não têm um gênero muito específico, e que, pessoalmente, classifico como “abraços em forma de livro”.


Um bom exemplo disso é o infinitamente sensível O Menino, a Toupeira, a Raposa e o Cavalo, de Charlie Mackesy. A edição, em si, já é um presente - capa dura e ricamente ilustrado - e ele traz, em essência, cenas curtas com os personagens do título, tratando de amizade, solidariedade, compaixão, coragem para superar obstáculos. As mensagens do livro são coisas que parecem bastante óbvias, mas que às vezes precisamos escutar repetidas.

Por esses dias, encontrei dois volumes na livraria que folheei (mas não cheguei a ler) e que parecem ir na mesma linha: A Alma Perdida, da nobel literária Olga Tokarczuk e O Grande Panda e o Pequeno Dragão, de James Norbury. Também pode ser uma boa ir atrás deles - ou encontrar alguma pequena antologia de poemas.

Minha segunda indicação é O Ferreiro do Bosque Maior, do Tolkien que recentemente foi lançado numa edição primorosa pela Harper Collins, capa dura de bolso, belamente ilustrada pela Pauline Baynes. Tenho esse conto em inglês, numa edição que reúne vários textos curtos do autor, Tales from the Perilous Realms, mas fiquei babando nessa edição nova. Esse conto fala de uma visita a terra das fadas, e, em termos gerais, pode parecer bastante prosaico. Ele tem uma prosa delicada, daqueles livros de se ler em voz alta e se deleitar no ritmo, nos sons que Tolkien consegue conjurar entre linhas.

No mesmo formato e do mesmo autor, foram lançados também Roverando e Mestre Giles d’Aldeia, que também se encaixariam muito bem nessa lista. E já que estamos falando de Tolkien, eu não poderia deixar de lembrar de Cartas do Papai Noel, que foi relançado numa edição grande, com as cartas e ilustrações originais do autor para os filhos reproduzidas.


Também vale um pouco de metalinguagem nessa lista, e muitos leitores gostam de ler livros sobre livros. Uma História da Leitura, do Alberto Manguel, foi relançado recentemente numa edição de bolso e, do mesmo autor, há o excelente Encaixotando minha Biblioteca (li em inglês e pouco depois lançaram a tradução...), também numa edição de bolso, com um projeto gráfico primoroso. Da Darkside tem Bruxas Literárias, da Taisia Kitaiskaia, que apresenta pequenos e poéticos perfis de importantes autoras ao longo dos tempos, belamente ilustrado. Uma coletânea de ensaios também cabe muito bem em termos de não ficção. Li recentemente Antropoceno: Notas Sobre A Vida Na Terra do John Green, e é um volume bem despretensioso e gostoso de ler, ótimo para figurar nas sugestões do fim de ano.

Se seu presenteado é daqueles que adora tudo o que tem a ver com o natal, claro, não podemos esquecer dos clássicos, que aparecem numa miríade de edições, de todos os tamanhos e formatos, como O Quebra-Nozes (que na edição de bolso da Zahar reúne as versões escritas por Alexandre Dumas e E.T.A. Hoffman); Um Conto de Natal (ou uma canção, ou mesmo um cântico de natal, os títulos diferem, mas a história é a mesma), do Dickens; e Vida e Aventuras do Papai Noel de L. Frank Baum, o mesmo de O Mágico de Oz (que também inclui um conto sobre Papai Noel sequestrado, possível inspiração para O Estranho Mundo de Jack, do Burton).


Esse último título, aliás, foi lançado aqui pela Wish, editora independente e reconhecida pelo apuro na tradução e projeto gráfico de suas edições. Eles estão lançando também este ano a coletânea de contos vitorianos O Natal dos Fantasmas, bem como a noveleta Terror Depois da Ceia, de Jerome K. Jerome (não se engane com o título, Jerome é um autor cômico), que podem ser boas pedidas para colocar no seu saco de Papai Noel.

Enfim, livros de natal para o natal não faltam e tem para todos os gostos, até para quem gosta de um bom crime: está aí Agatha Christie para provar, com O Natal de Hercule Poirot (que estou lendo para o projeto da Rainha do Crime desse mês) e A Aventura do Pudim de Natal. Ou viagens no tempo! Nessa horas, nunca acho demais lembrar da Connie Willis: O Livro do Juízo Final é uma história que se passa no Natal e pega muito da simbologia da época. Se o presenteado lê em inglês, ela tem uma inteira coletânea de contos maravilhosos com tema natalino: A Lot Like Christmas, com direito a aliens, aquecimento global, grupos de canto coral, desastres corporativos e muito humor. Nunca vou me cansar de indicar a Willis para leituras natalinas!

Importante dizer, contudo, que nem só de livros vive um leitor e há outros mimos que podem entrar na lista de presentes. Há um mundo de coisas legais que podem acompanhar uma boa leitura e que deixarão o leitor em sua vida com um sorriso de orelha a orelha.


Marcadores de livros, por exemplo, são uma excelente pedida. Uma visita em qualquer livraria apresenta uma miríade de modelos, mas se você tem alguma habilidade manual, pode até fazer você mesmo... ou procurar alguns mais diferentes pela internet. Adoro os marcadores botânicos da Marcaflor, que é um trabalho artesanal de delicadeza apaixonante. Por si só, eles são um presente ótimo, mas veja só, se seu presenteado tem nome de flor, dá para escolher um marcador com a flor do nome (já fiz isso)! Ou até pesquisar algum dicionário de significado das flores e escolher um marcador com uma planta que diga algo específico - é um presente não apenas pelo gesto de presentear, mas também pela simbologia.

Cerifique-se, claro, de dizer ao seu presenteado o que a flor escolhida significa. A não ser que o leitor em sua vida seja um amante de costumes vitorianos, do tipo que conserva um dicionário de significados em casa, e pode assim pesquisar ele mesmo o que você quis dizer na língua secreta das flores.

Você pode também procurar algum artista cujo traço você goste e verificar se ele não tem uma lojinha com itens como marcadores, outras coisinhas de papelaria, canetas, prints, pins, adesivos e por aí afora… E ecobags! Uma ecobag estampada com tema literário tanto é um presente legal sozinha como pode ser parte e embalagem do presente: coloca um livro dentro e voilá, tá embrulhado! O leitor em sua vida ficará certamente feliz.

Falando de artistas que conheço e já comprei... Sou particularmente apaixonada pelo trabalho da Juliana Fiorese, que tem uma coleção inteira de marcadores inspirados em grandes autores. Recentemente ela lançou uma nova série de itens inspirados em Jane Austen, incluindo cadernos, adesivo e até um diário de leituras.

Cadernos e cadernetas artesanais são legais, não apenas porque você está dando de presente algo único, mas porque também está ajudando um artista independente. Escarafunchando a internet você pode encontrar várias pessoas que trabalham com esse tipo de coisa - tente encontrar alguém na sua região por questões de frete. De cabeça, lembrei aqui do Babadorky (que tem um caderno de receitas muito legal se seu leitor também é um cozinheiro) e da Kaol Porfírio (que trabalha em conjunto com o Babadorky e, pelo que acompanho dela, está trabalhando numa linha inteira de produtos inspirada em O Senhor dos Anéis).

A CCXP tá aí na esquina e o Artists’ Valley é um bom espaço para descobrir artistas independentes e procurar coisas legais e diferentes para presentear o leitor em sua vida - incluindo quadrinhos inéditos, lançados para o evento.

Está muito em cima para fazer algo do tipo, mas fica a dica para o futuro, planejando-se a tempo: muitos desses artistas independentes abrem comissões de tempos em tempos para fazer ilustrações de acordo com o pedido do cliente. Eu tenho uma artista de estimação, a Dani Salamão, que é para quem costumo fazer esse tipo de encomenda. Tenho várias ilustrações dela juntando corujas com alguns dos meus personagens favoritos que ainda hei de emoldurar e colocar na parede - e desenhos originais assim também são uma boa ideia para presentear alguém querido (leitor ou não).


Falando em artes e representações de personagens/autores favoritos... há sempre a possibilidade de amigurumis, bonequinhos modelados em biscuit em variados estilos ou os famosos funkos (Jane Austen, Stephen King, Bram Stoker e Edgar Allan Poe são alguns autores que têm funkos oficiais. De personages, há uma miríade para escolher). Ou ainda, objetos que remetam a saga favorita do seu presenteado. Dá para encontrar por aí pomos de ouro e varinhas; o anel do Aragorn e a gargantilha da Arwen; a pedra mágica da Coraline; o Ankh da Morte dos Perpétuos; relógios de bolso com a efígie do Coelho Branco, os óculos do Crowley e a carteira profissional da Guarda de Ankh-Morpork. Dê uma fuçada na internet e vai encontrar todo tipo de miudeza curiosa.

Canecas e copos de personagens! Há um mundo de canecas estampadas com personagens ou citações - que podem ser encontradas prontas ou mesmo encomendadas (já mandei fazer algumas numa gráfica aqui perto de casa). Recentemente, comprei copos de acrílico com tema de Alice no País das Maravilhas e enchi eles de trufinhas para dar de presente - nada como adoçar o dia com chocolate (podia ser com uma caixinha de chá também, a depender do gosto de quem ganha). Aliás, chá, chocolate, guloseimas de maneira geral são bons presentes para todo mundo. Mas, enfim, sobre os copos, eu encontrei na Shopee, com estampas de todo tipo e várias opções com frete grátis (canecas também). Não é difícil encontrar coisas do tipo online ou em lojas físicas.


É bom, por fim, lembrar que o leitor em sua vida ama palavras - e um presente de palavras não significa necessariamente um livro. Em tempos de distanciamento e hostilidade, penso que a gentileza de uma carta ou um cartão - escritos de próprio punho, com uma mensagem de esperança para o ano que chega - são um presente tão quisto quanto qualquer calhamaço ou edição especial de um livro favorito. Palavras de conforto, de amizade, de carinho; uma carta é uma delicadeza ímpar em tempos de comunicação instântanea. Escreva cartões de natal (ou Yule, ou Véspera dos Porcos, Hanukkah ou simplesmente ano novo, a depender das crenças do presenteado) para o leitor em sua vida. Falando como pessoa que ainda envia e recebe cartões físicos todo fim de ano, abrir o envelope e ler as mensagens enviadas por pessoas queridas realmente aquece o coração.

E chegamos ao fim por hoje. Espero que tenham gostado das sugestões. E que tenham descoberto por aqui alguma inspiração para sua lista de presentes. E, enfim, precisando de mais sugestões, podem me mandar mensagem: adoro fazer um matchmaking literário.


A Coruja


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