29 de junho de 2021

A Vertigem das Listas: Dez Histórias para Celebrar a Diversidade


Ísis: Quem melhor que eu para apresentar o tema da vez: Dez Histórias para Celebrar a Diversidade! Bem, certeza tem inúmeras opções melhores, vez que só porque gosto de BL, não quer dizer que atenda ao critério. Ainda assim, sou fã do gênero desde criança, então minhas indicações certamente refletirão isso. Let’s go!

1. Shoujo Kakumei Utena, o filme. Pra não dizer que só apontei BLs. Possivelmente o segundo mais famoso casal lésbico de animes, perdendo para Haruka e Michiru, de (Bishoujo Senshi) Sailor Moon. Utena é uma jovem forte de espírito e fisicamente também, que sonha em ser um príncipe e salvar uma princesa. Acaba sendo convidada a estudar na academia Ohtori, onde mais tarde descobre que o anel que a guiou até ali é o símbolo de que ela é uma das duelistas em nome do Fim do Mundo, e quem ganhar fica noivo da Anthy, a noiva da rosa. Ambas acabam desenvolvendo uma amizade que as leva a superar vários obstáculos enquanto aguardam o Fim do Mundo. O filme fica meio louco no final, mas tanto essa versão como a série de TV são uma mistura interessante de shoujo e shounen.

2. Super Lovers, de Kanbe Akira, pela polêmica de apresentar uma história romântica com uma criança e conseguir fama suficiente para ter duas temporadas de TV. Pior que eu adoro, apesar de normalmente não gostar desse tipo de casal. Em minha defesa, pegaram uma dubladora que eu adoro para dar vida ao pirralho… E o “adulto” é uma criatura adorável cheia de complexos (a começar por sentir-se culpado pelo acidente de carro que matou os pais ADOTIVOS dele, e que tinham filhos naturais), outra fraqueza minha.

3. Kakumei no Hi, de Tsuda Mikyo (Zaou Taishi). Devo ter mencionado esse título antes, mas é sobre um rapaz durão (Kei) que descobre lá pelos 14 anos que é hermafrodita e que na puberdade tem desenvolvido mais os órgãos femininos, e aí acaba optando por virar menina. Imediatamente surgem pretendentes que já eram apaixonados por ele ainda como homem, parcialmente devido ao rosto andrógeno que já tinha, somada à personalidade “macho” contrastante ao rosto delicado. É um dos meus mangás preferidos devido à fantasia com a qual lidam com a questão.

4. Yellow, da Tateno Makoto. Sempre indicarei Yellow em listas que incluam mangás BL, vez que é um dos meus BLs preferidos. Eu adoro a história de como os personagens principais trabalham juntos, e confiam um no outro, mesmo um sendo gay e o outro não. Sendo Yellow um BL, contudo, algo tem que acontecer e começa com Goh sendo apaixonado por Taki desde o começo, e sempre tenta convencê-lo a dar-lhe uma chance. Taki, porém, não quer conversa alguma, em parte porque esconde um segredo que eventualmente irá envolver todos ao redor. Tem só quatro volumes originalmente, embora mais dois tenham sido publicados depois como epílogos. É uma leitura relativamente rápida, portanto, e muito boa.

5. Trepidei um pouco na minha última escolha porque a história ainda está sendo publicada, então não sei qual será o resultado final. Dito isso, lá vai um spoiler sobre um BL chamado Ookami no Hanayome (A Noiva do Lobo), Kana Riyuma: o/personagem principal é um hermafrodita, e isso ganhou um enorme peso no volume no 3° e mais recente volume. Estou ansiosa pra ver inquérito acontece em seguida, mas até agora estou adorando a história de como Rui (principal) é forçado(a) casar-se com um dos príncipes do país vizinho, o País dos Lobos. Só que muita coisa acontece depois que ele(a) chega naquele país, entre tentar esconder sua identidade do próprio noivo, a tornar-se refém e ter seu passado descoberto, é uma leiteira que tem me cativado. Achei interessante também porque é a única história que conheço até hoje que tem um hermafrodita em vez de ex-hermafrodita e não é animação para adultos. Estou ansiosamente esperando o próximo volume.


Lulu: Junho é o mês do Orgulho LGBTQ+, então faz sentido celebrar a diversidade, não é mesmo?

Confesso que não tinha parado muito para pensar nessa questão de dar diversidade às minhas leituras até começar a utilizar a planilha do Book Riot para anotar as leituras do ano. Ela te convida a anotar vários dados extras sobre as suas leituras, incluindo protagonistas e autores que fazem parte de várias minorias. Foi depois de ver as estatísticas do meu primeiro ano usando a planilha que me dei conta de quão uniforme era minha estante. Como eu quase não saía do eixo anglo-saxão (ainda tenho dificuldades com isso, a maior parte dos autores que leio continua a ser inglês ou americano), com uma maioria de homens brancos, muitos deles já mortos e repletos de esqueletos no armário (de misoginia a imperialista, é fácil encontrar os pecados dos autores que consideramos cânones ocidentais).

Acredito que a leitura te ensina empatia e, quanto mais você enxerga o ponto de vista do outro, mais você exercita essa capacidade. Eu passei então a fazer um esforço de inclusão - já tinha refletido um pouco sobre como o mercado escolhe o que vai ser publicado, e que, se os leitores não procurarem e assim formarem público leitor (e consumidor), as editoras vão continuar publicando apenas mais do mesmo. Eu não deixei de ler o que me interessa, incluindo os clássicos (e sempre tentei fazer uma leitura crítica deles, de toda maneira), mas passei a buscar conscientemente, dentro dos temas que me interessavam, autores que estivessem fora do eixo cultural mais “padrão”. Em outras palavras, mais mulheres, autores gays, trans e não binários, mais escritores indígenas, asiáticos, africanos, livros lançados de forma independente, etc.

Enfim, é um aprendizado. Sei que tenho muito mais para explorar e descobrir - e expandir meu horizonte de leituras, e descobrir novas vozes... E também é um prazer, porque encontrei histórias e autores apaixonantes que talvez tivessem passado ao largo do meu radar se eu não tivesse me conscientizado e saído da minha ‘zona de conforto’.

São essas histórias que vou trazer para a lista de hoje do vertigem.

6. Começo minha lista com o romance de Alex, o filho da Presidente dos Estados Unidos e Henry, Príncipe da Inglaterra, no delicioso Red, White and Royal Blue. Eu me diverti demais com essa leitura, foi um dos melhores livros do ano passado. Não só pelo romance, que é muito bem pensado, ou pelos personagens, que são incrivelmente carismáticos, mas também por todo o contexto político da história - e, coincidentemente, eu o li na época da eleição dos Estados Unidos, o que me fez refletir sobre um bocado de coisas que estavam acontecendo no enredo em contraste com a realidade do noticiário.

Engraçado que lendo a opinião de outras pessoas, cheguei à conclusão de que eu talvez não tivesse gostado tanto se tivesse lido a tradução em português… mas, bem, há uma razão para eu preferir romances em inglês.

A Casey McQuiston se identifica como não binária e bissexual, além de sofrer de transtorno de déficit de atenção com hiperatividade (o Alex também tem algo de TDAH). Ela usa da própria experiência para escrever o romance e acho que isso é uma das coisas que o torna tão interessante. O livro não recebeu nenhuma grande campanha de marketing quando foi lançado, mas cresceu no boca-a-boca, ganhou vários prêmios (incluindo o Goodreads Choice Awards) e teve os direitos comprados pela Amazon para virar filme. Ele surfou numa onda crescente de romances jovens com temática LGBTQ+, e superou todas as expectativas da Casey.

O livro novo dela, One Last Stop, saiu agora no início do mês e já devorei. Resenha em breve!

7. Para fazer companhia à Ísis e indicar um anime nessa lista - o único que assisti nos últimos anos, porque me conquistou de cara pela temática, pelos personagens, pelas interações, pela trilha sonora, pelas apresentações de patinação no gelo - vamos de Yuri!!! on Ice. Eu gosto do Yuuri e gosto do Victor, acho fenomenal o plot twist, a forma como trabalharam a ideia de um narrador não confiável… e sim, gosto muito do relacionamento dos protagonistas, como eles evoluem junto, como o romance deles funciona. Fazia muito tempo que eu não tinha paciência para assistir animes (eu não tenho paciência para acompanhar uma série por anos e centenas de capítulos, não importa quão boa seja a história…), mas Yuri!!! on Ice valeu à pena. Fora que é curtinho, dá para assistir os doze episódios num dia e, embora eu quisesse muito uma continuação (quando vão anunciar a data de Ice Adolescence?), acho que ele consegue contar sua história bem redondinha com uma única temporada.

8. Minha próxima indicação é outra leitura que fiz ano passado e que vi muita gente comparar a um abraço caloroso - algo que todos precisávamos à época do lançamento do livro, que mais ou menos coincidiu com o início da pandemia. Estou falando de The House in the Cerulean Sea, que tem todo um elenco de personagens apaixonantes, uma mensagem poderosa contra preconceito e, claro, o relacionamento de Linus e Arthur, razão pela qual o romance entrou nessa lista. Eu também li dele The Extraordinaries, que me levou a paroxismos de gargalhadas - haverá uma continuação agora em julho, Flash Fire, que estou empolgada para ler também.

O T. J. Klune é assexual e neurodivergente, experiências que influenciaram também nas suas escolhas para histórias e personagens. Ah, sim, e ele coloca o Terry Pratchett como uma de suas grandes influências literárias. Como eu poderia não gostar dele?

9. O romance epistolar entre duas agentes rivais na noveleta É assim que se perde a guerra do tempo me conquistou completamente. Os vislumbres que temos de Red e Blue em diferentes pontos do Tempo, são fascinantes - os universos, a História em que elas se envolvem para fazer avançar os objetivos de cada uma de suas facções -, mas são as cartas trocadas pelas duas, que começam como provocações irônicas e avançam por uma troca de pensamentos que é tanto visceral quanto poética que realmente me conquistou. É interessante observar que, embora ambas se identifiquem por pronomes femininos, há uma fluidez de gêneros, considerando o fato de que elas assumem quaisquer outras formas necessárias ao serviço que precisam fazer e à época em que estão estacionadas.

10. Termino minha lista com um clássico - que, embora não seja uma leitura muito leve, considerando o estilo da autora e toda a simbologia envolvida no enredo, parece-me uma excelente pedida para celebrar a diversidade de que estamos falando hoje. Sim, claro, estou falando de Orlando, de Virginia Woolf, livro, aliás, que é também considerado uma carta de amor para Vita Sackville-West, amiga e amante de Virginia.

Orlando possui um protagonista aparentemente imortal, que pula de época em época e a cada novo tempo troca de sexo. Não que ir dormir num corpo masculino e acordar num corpo feminino faça diferença para seus anseios e desejos mais arraigados. Não há muitas explicações para a longa vida de Orlando, para a forma como ele começa na Inglaterra elizabetana e termina no século XX, nem como ocorrem as mudanças de gênero. Mas isso não é importante no grande esquema das coisas. Aproveite as reflexões, o desejo criativo de Orlando, seu anseio por liberdade e sua absoluta fluidez e adaptabilidade a cada época e corpo que possui.

Infelizmente acabou o espaço na lista, mas gostaria de indicar como hors concours Oscar Wilde, o divino Oscar. Eu não poderia esquecê-lo aqui...


Ísis: Amei todas as indicações, e como já me deste dois desses livros, começarei pelos mesmos. Mas quero esse último também! ^^

Adorei saber que resolveste diversificar seus autores! Que excelente ideia! Tem algum exemplo de algum ponto de vista que tenha te sido surpresa?


Lulu: Todos eles foram, Isinha. Mas destaco dois.

O Alex tem uma voz bem moderna, mas o que me chamou a atenção nele foi a exploração do cenário político, que não era algo que eu esperava de um YA cujo foco é romance, e não construção de mundo fantástico.

O Linus é um protagonista de meia-idade, funcionário público ligado a um sistema extremamente burocrático - que num universo de crianças com superpoderes, utiliza de seu conhecimento dos mecanismos da burocracia para protegê-las.

Eles me surpreenderam, sim, sem dúvida.


Ísis: E é buscando coisas novas assim que a gente aprende a crescer! Aplaudo sua iniciativa. Vamos celebrar o mês da diversidade então! Porém, antes de irmos, pergunto ao leitor: alguma sugestão de leitura para ampliarmos a diversidade dessa lista ou das nossas leituras em geral?


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