24 de novembro de 2020

Vermelho, Branco e Sangue Azul: um romance entre a Casa Branca e o Palácio de Buckingham


Mas o fato é que... pular de penhascos é meio que o meu lance. É essa a escolha. Eu amo o Henry, com tudo isso, por causa de tudo isso. De propósito. Eu amo o Henry de propósito.

Vermelho, Branco e Sangue Azul entrou no meu radar quando venceu o prêmio de melhor romance e melhor livro de estreia no Goodreads Choice Awards do ano passado (eu tiro muitas das minhas leituras desse prêmio, já perceberam?). E isso sem a ajuda de uma campanha de marketing massiva: o sucesso foi todo de propaganda de boca, alguém que lia, gostava e recomendava para outras pessoas. Para além disso, esse ano eu tentei conscientemente diversificar minhas leituras (qualquer dia desses escrevo mais sobre o assunto no blog) e ele se encaixava muito bem nesse processo: a autora é bissexual, trata-se de um romance LGBTQ+, e o protagonista é birracial, de família parte americana, parte mexicana.

Ok, então, em termos gerais, do que se trata a história? Nosso narrador é Alexander Diaz-Claremont, filho da Presidente dos Estados Unidos, que tem um histórico de animosidades com Henry, o Príncipe de Gales - animosidades que, aparentemente, partem só do lado do Primeiro Filho da América. Alex acaba causando um incidente internacional no casamento do irmão de Henry e é forçado a uma amizade de aparências com o príncipe, algo necessário para não prejudicar a campanha de sua mãe, que concorre à reeleição. O que era para ser só um arranjo de relações públicas acaba se tornando uma amizade verdadeira, um caso secreto e, por fim, um triunfo do amor acima das aparências.

A trama é clichê e previsível e não apenas pelas coincidências entre o enredo e fatos da vida real (quando Alex e Henry começaram a trocar e-mails, a primeira coisa que me veio à cabeça foi o uso da campanha do Trump dos e-mails da Hillary... Ali já me preparei para eventos traumáticos). A despeito disso, o livro de Casey McQuiston é uma prova de que quando você usa um clichê de forma bem pensada, ele funciona. Sério, clichês são o que são por um motivo. Pessoalmente, eu adoro comédias românticas em que o casal começa se detestando e, à medida em que convivem e se conhecem de verdade, acabam se apaixonando - e essa evolução do relacionamento de Alex e Henry foi divertida, romântica e muito bem concebida.

Alex investigando sua própria identidade, descobrindo-se bissexual e recebendo o apoio da família contrasta muito com Henry tendo de lidar com a censura da avó rainha e do irmão mais velho, com a necessidade de esconder e reprimir sua personalidade em função do que a Coroa espera que ele represente. Construindo a compreensão de si mesmos e de sua relação em cima do legado de outras figuras históricas abarcadas na comunidade LGBTQ+ (e o uso dos trechos de cartas reais para falar aquilo que eles ainda não estão preparados para expressar me deixou realmente encantada), os dois entendem que suas experiências são universais, que o mundo não vai acabar quando elas vierem à público.


Não posso nem começar a imaginar o impacto que isso pode ter para uma pessoa na mesma situação dos dois, que está se descobrindo e precisa ser lembrado de que não está sozinho e que, embora algumas pessoas possam não aceitar, muitas outras o farão. Vermelho, Branco e Sangue Azul, nesse aspecto, é um abraço. Seu sucesso orgânico é mais uma prova de quanto precisamos de diversidade, quanto as pessoas precisam se ver nas histórias que consumimos.

Para além do romance, o enredo também acompanha o envolvimento político de Alex na campanha da mãe. Pessoalmente, esse foi um dos detalhes que me pescou: Alex tem uma consciência política e ética muito forte, além de enormes ambição e idealismo. De certa maneira, o livro me encontrou no momento certo, porque eu o li alguns dias depois da eleição do Biden: muito do espírito do final da história se refletia no que estava acontecendo no mundo real. De certa maneira, cenas do noticiário - da festa dos democratas, a derrota do Trump e a falta de limites que os Republicanos tiveram nessa eleição - ecoavam nas palavras de McQuiston. Acho que eu nunca tinha lido um romance YA que se encaixasse num cenário político contemporâneo - e o fizesse tão bem quanto aqui.

Para além do humor, dos encontros e desencontros, da boca suja do Alex e das nerdices de Henry, dos perus do dia de ação de graças, de um elenco de personagens secundários tão divertido e cativante quanto os protagonistas, Vermelho, Branco e Sangue Azul tem uma mensagem de esperança, acolhimento, mudança. Coisas de que andamos precisando (de que precisamos sempre).

Nota:
(de 1 a 5, sendo: 1 – Não Gostei; 2 – Mais ou Menos; 3 – Gostei; 4 – Gostei muito; 5 – Excelente)

Ficha Bibliográfica

Título: Vermelho, Branco e Sangue Azul
Autor: Casey McQuiston
Tradução: Guilherme Miranda
Editora: Seguinte
Ano: 2019

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A Coruja


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