31 de maio de 2021

A Vertigem das Listas: Dez Verborrágicos Personagens


Lulu: Sabe aqueles personagens que falam, falam, falam, às vezes até nos momentos mais inconvenientes? Eles falam quando estão nervosos, quando estão empolgados, dão verdadeiras preleções quando vão explicar alguma coisa (quando um sim ou não seria suficiente para responder à questão), costumam sair-se por tangentes cada vez mais prolixas de livre associações e possivelmente monologam mesmo quando estão sozinhos, tentando fazer sentido da torrentes de pensamentos que passam por suas cabeças?

Não, eu não estou me descrevendo. Bem, talvez um pouquinho. Ok, bem mais que um pouquinho. Pelo menos por escrito (não sou tão falante de viva voz. Pelo menos, acho que não?), sei que falo demais.


Ísis: Talvez não te estejas descrevendo, mas certamente descreveste a mim. ^^’

Lulu: Bem-vinda ao time… sabia que havia uma razão para gostar de você XD

Enfim, tem gente que acha personagens assim um saco, mas tenho um lugar especial no meu coração para eles - e não apenas porque me identifico com a situação, mas porque me divirto muito com as tiradas e tagarelices deles. Personagens que falam demais acabam falando o que não devem, o que rende situações peculiares e frequentemente hilárias.

Assim é que decidi dedicar o vertigem desse mês e fazer uma lista de Dez Verborrágicos Personagens para nosso (meu?) deleite.

1. Começo o vertigem da vez com uma das personagens da minha infância… Desconfio, aliás, que parte da minha prolixidade seja decorrente dela, que sempre foi uma particular favorita minha. Falo, claro, de Emília, Marquesa de Rabicó, a boneca de pano de Narizinho, do Sítio do Pica Pau Amarelo. Emília, desde que tomou uma certa pílula falante, nunca deixou de dizer exatamente o que lhe passava pela cabecinha. E, embora haja momentos em que ela fale muita besteira (o que lhe rendeu a alcunha de “torneirinha de asneiras”), a verdade é que Emília não se contenta com explicações fáceis, está sempre questionando, questionando e enxergando as coisas por um ângulo novo e surpreendente. E a verdade verdadeira é que, mais de uma vez, a capacidade de Emília de pensar rápido e enrolar seu interlocutor com discursos ditos na lata foi o que salvou o dia.


2. Minha próxima escolha é uma personagem que nem sempre é devidamente admirada pelos leitores da obra original… falo, claro, de Mrs. Bennet, a matriarca da família Bennet em Orgulho e Preconceito. Aliás, acho que devo adicionar aqui Mrs. Bennet E seus pobres nervos, porque ela sempre faz questão de nos informar a todos da situação deles. Enfim, Mrs. Bennet fala pelos cotovelos, é muitas vezes bastante inconveniente, até chega a envergonhar as filhas (ao menos aquelas com alguma noção de decoro…), mas esquecemos muitas vezes a posição dela, como mãe de cinco moças solteiras, sem grande fortuna, que não herdarão sequer a casa em que vivem (já que ela passa ao próximo parente homem - no caso, o detestável Mr. Collins). Ela tem suas razões para falar de seus nervos. De toda forma, seus discursos sempre me causam muito riso.


3. Próxima escolha da lista vai para um personagem de musical… Hamilton, da montagem homônima, que trouxe para os palcos a vida de Alexander Hamilton, um dos principais personagens da fundação dos Estados Unidos. Hamilton é um orador de fantástica retórica, capaz de - como dizem lá na minha terra, “dar nó em pingo d’água” com sua lábia. Numa das canções logo ao início da peça, Aaron Burr, que depois viria a assassinar Hamilton num malfadado duelo, aconselha “talk less… smile more” ao que o personagem retruca com a fantástica verbosidade do hip hop My Shot. Na verdade, muitas das canções que o Lin-Manuel Miranda escreveu para Hamilton são um desafio de fôlego para falar tudo e rápido. Adoro!


4. Todo vigarista tem que ser bom de lábia, saber levar sua vítima na conversa. Assim é que minha próxima menção para a lista vai para um vigarista dos mais inteligentes, que, com base em sua capacidade de contar uma boa lorota, ganha a incumbência de reerguer o sistema postal, o sistema bancário e organizar toda uma indústria em torno do sistema ferroviário. Falo de Moist von Lipwig, criado por Terry Pratchett para sua série Discworld. Moist não ganha o cargo à toa, e havia muitos riscos (como término imediato da própria vida) em não se endireitar e utilizar seus dons para o crescimento de Ankh-Morpork. O que ele faz com uma boa dose de terror (pelas ameaças sutis do Patrício), astúcia e capacidade de vender a própria mãe se assim for necessário.


5. Pensei muito sobre com quem terminar minha breve (ou não tão breve) lista de personagens verborrágicos. Temos aqui uma boneca que fala pelos cotovelos, uma mãe numa missão, um arrivista e um vigarista. Está faltando algo de adorável para meu rol de escolhas, de forma que ficarei aqui com Anne Shirley, protagonista da série de livros (adaptada também pela Netflix) Anne de Green Gables. Anne é uma daquelas personagens que comeu o pão que o diabo amassou, mas não deixou seu sofrimento alterar seu apetite pela vida e sua esperança de uma vida melhor. Sua genuína apreciação por tudo que a cerca - uma apreciação que nunca é feita de boca fechada, diga-se de passagem - é realmente cativante.


Ísis: Essa vai ser difícil porque fora personagens que já mencionamos inúmeras vezes, não consigo lembrar de muitos outros… Mas vamos lá.

6. Para alguém que pode voltar no tempo (mas deve evitá-lo), o Flash está frequentemente atrasado - pelo menos o da série de TV. Dito isso, Barry Allen é bastante inteligente e social, o que o faz falar muito quer esteja trabalhando como perito criminal, quer esteja conversando com amigos ou mesmo alguém que acaba de conhecer - talvez especialmente alguém que acaba de conhecer. Tenho a impressão que o da série de TV acabou tranquilizando-se e já não fala mais tanto, mas eu também adoro a versão do Ezra Miller do filme da Liga da Justiça. Porém, o Flash dos filmes animados da Liga da Justiça me parece ser o mais tagarela, e talvez até por isso (!!) o que mais gosto.


7. Vou citar algo aqui que eu detesto, mas definitivamente está nessa lista. O Burro do filme Shrek. Rapaz, eu já não gosto dos filmes do Shrek em geral (assisti aos 4), mas se tem um personagem que eu goste menos que o Shrek, é o Burro. Entre outras coisas, o fato dele tagarelar demais me irrita. Considerando o que disse sobre Barry Allen acima, será que existe uma tênue linha entre tagarelice irritante e tagarelar de forma cativante?


8. Vou deixar bem claro que nunca gostei da Rachel de gLee. Admito que cheguei a não odiá-la em alguns momentos, mas nunca cheguei a gostar da personagem. Dadas as “recentes” acusações à atriz, talvez tivesse alguma razão… Independentemente. Em geral prefiro a voz e as músicas cantadas pela Amber (Mercedes), mas admito que Lea Michelle tem um excelente domínio e até uma certa versatilidade vocal. Gostava da maioria das músicas que ela cantava, e sempre achei impressionante o quanto Rachel e Quinn (Diana Agron) falavam bem claramente. Não gosto da personagem Rachel, mas admiro e até invejo a dicção e o fôlego dessa mulher… e ela usava não só pra cantar, como também pra fazer uns discurso (egocêntricos) e soltar umas falas quilométricas que eram perfeitamente entendíveis. Sensacional.


9. Eu recentemente (Janeiro de 2021) li Pride & Prejudice (Orgulho e Preconceito) afinal! Já havia assistido à série e várias vezes ao filme, mas foi só ao ler o livro que vi o quão Mr. Collins é tagarela. Ele é um grande puxa-saco, mas não faz por mal, e suas intenções são quase puras. Apesar de ser um personagem criado para ser o chato da história, não consegui pensar mal dele. Nada do que ele fez foi com malícia - pelo contrário - e no fim não prejudicou ninguém. Simultaneamente, ele também sabe ser grato (embora de forma exagerada), e eu gosto muito disso em pessoas e em personagens. Assim, indico Mr. Collins como um legítimo vomitador de palavras porque quando ele começa, pode avançar umas cinco páginas sem medo de perder muito.


10. Eu vou me repetir porque, enfim, eu amo o Stiles, praticamente o único humano normal da turminha do Scott de Teen Wolf. Sim, temos uns caçadores que são humanos, mas esses já tiveram treinamento e sabem se virar, e também estudaram para poder exercerem suas profissões. Stiles foi jogado nesse mundo do nada e tem habilidade atlética bem reduzida, e ainda assim foi ele quem foi atrás de toda informação que podia achar para se informar a respeito do mundo sobrenatural, só para poder ser útil ao melhor amigo em vez de ficar para trás. Nas palavras de Stiles, “sou um saco de [...] pele e ossos; minha única defesa é sarcasmo”, defesa essa que ele usa muito bem e inúmeras vezes. Ele e Isaac, aliás, eram ótimos em soltar umas frases em momentos inoportunos.



Lulu: Espero que não tenham nos achado tão prolixas na lista de hoje. Sei que nem todo mundo acha essa característica assim tão simpática quanto eu. Mas, enfim, compartilhem conosco se tem algum personagem particularmente verborrágico que você admira. E até o próximo vertigem!

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