15 de setembro de 2020

A Princesinha: Um conto sobre força, gentileza e amizade


"Eu suponho que deva ser muito difícil ser um rato", ela refletiu. "Ninguém gosta de você. As pessoas pulam e fogem e gritam, 'Oh, um rato horrível!' Eu não gostaria que as pessoas gritassem e pulassem e dissessem, - 'Oh, uma Sara horrível!', na hora que me vissem. E colocassem armadilhas para mim e fizessem de conta que se tratava de um jantar. É tão diferente ser um pardal. Mas ninguém perguntou a esse rato se ele queria ser um rato quando foi criado. Ninguém disse, 'Você preferia ser um pardal?'"

Esse livro está na minha lista para ler desde que descobri que a história dele se originara de um livro, e não do filme que assisti vezes sem fim na Sessão da Tarde. Não lembro quando fiz tal descoberta (talvez quando li pela primeira vez O Jardim Secreto?), e estive mais de uma vez para ir atrás da edição em inglês, mas adiei tanto que o livro afinal saiu traduzido, numa bela edição da Martin Claret. Em um caso clássico de paixão à primeira vista pela capa, coloquei ele no topo das minhas prioridades para aquisição… e aí levei quase um ano para finalmente lê-lo.

Estou feliz, contudo, por tê-lo adiado. Isso significou descobrir o livro pela primeira vez num momento em que andava precisando de uma história exatamente como essa: de esperança, superação, sobre como ser gentil não significa ser fraco; um daqueles contos para aquecer o coração, como uma boa xícara de chá (ou chocolate, a depender de sua preferência) e meias nos pés num dia de chuva e ventania. A Princesinha é um abraço, um livro que te acolhe; um mundo em que existem injustiças, sim, mas a bondade é recompensada. Ele não é um livro feliz sempre, mas é genuíno, com coisas que, às vezes, precisamos ser lembrados para continuar em frente.

Sara Crewe, uma criança precoce, é deixada num internato na Inglaterra pelo pai, um oficial inglês na Índia. Órfã de mãe, Sara é adorada pelo pai, que a mima de maneira absurda. A despeito disso, a garota cresce generosa e gentil com todos, afeita aos livros e com uma extraordinária imaginação e capacidade de criar histórias. Seus contos e sua postura - amada ou odiada a depender de quem se pergunte - rendem-lhe a alcunha de princesa. Tudo estaria bem, não fosse a súbita morte do pai e perda da fortuna da família, que fazem com que a diretora do internato - que nunca gostou da maneira madura e penetrante com que a menina a observava - transforme Sara numa criada sem quaisquer direitos. Do melhor quarto da casa, Sara é enviada para o sótão, para o frio, a fome, a servidão e uma carência quase completa de afeto.

O luto de Sara é profundo. A despeito de sua queda, contudo, ela não se deixa vencer. Por mais que o tantos - a senhorita Minchin, algumas das meninas da escola, a cozinheira e outros criados - obstinadamente tentem quebrar seu espírito, ela não deixa de lado seus princípios, sua compaixão, sua criatividade. E exatamente por isso, ela toca as pessoas ao seu redor, impacta a vida delas. Suas pequenas ações tornam o mundo melhor e há quem reaja a isso e melhore as coisas para Sara também.

Nossa protagonista se questiona no princípio do livro se ela é uma boa garota porque nunca teve dificuldade de sê-lo; na segunda parte da história a questão é respondida por cada um de seus atos. Como Sara mesmo diz, ela nunca tentou ser menos que uma princesa - no sentido de nunca ter perdido as estribeiras mesmo diante de indizível crueldade; de manter-se cuidando daqueles que a admiravam; e de buscar levar o bem a todos, ainda que sua própria situação fosse digna de pena. Por tudo isso, Sara é uma personagem que inspira respeito por sua postura, seu altruísmo, sua autenticidade e doçura.


O livro segue o enredo de que eu me lembrava do filme até um certo ponto. Contudo, o filme tentou dar um fim de conto de fadas em que tudo se resolve perfeitamente; diferente do livro, que é mais agridoce, ainda que satisfatório. Gosto das duas versões, mas acho que hoje preferiria a do livro. A Princesinha, no final das contas, é uma daquelas histórias que te partem o coração, mas aquecem a alma e, se te fazem chorar, é um choro que limpa e renova.

Nota:
(de 1 a 5, sendo: 1 – Não Gostei; 2 – Mais ou Menos; 3 – Gostei; 4 – Gostei muito; 5 – Excelente)

Ficha Bibliográfica

Título: A Princesinha
Autor: Frances Hodgson Burnett
Tradução: Vera Lúcia Ramos
Ilustrações: Bruna Assis Brasil
Editora: Martin Claret
Ano: 2019

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