18 de julho de 2018
Fashion Victims - Quando a Fogueira das Vaidades se torna uma expressão literal...
From insidious murder weapons to blaze-igniting crinolines, clothing has been the cause of death, disease and madness throughout history, by accident and design. Clothing is designed to protect, shield and comfort us, yet lurking amongst seemingly innocuous garments we find hats laced with mercury, frocks laden with arsenic and literally 'drop-dead gorgeous' gowns.
Fabulously gory and gruesome, Fashion Victims takes the reader on a fascinating journey through the lethal history of women's, men's and children's dress, in myth and reality. Drawing upon surviving fashion objects and numerous visual and textual sources, encompassing louse-ridden military uniforms, accounts of the fiery deaths of Oscar Wilde's half-sisters and dancer Isadora Duncan's accidental strangulation by entangled scarf; the book explores how garments have tormented those who made and wore them, and harmed animals and the environment in the process. Vividly chronicling evidence from Greek mythology to the present day, Matthews David puts everyday apparel under the microscope and unpicks the dark side of fashion.
Descobri esse livro por indicação da Fernanda, lá do The Bookworm Scientist, que comentou comigo algumas das histórias coletadas pela autora neste estudo. Devorei-o em dois dias e terminei tanto querendo mais, quanto observando as portas do meu guarda-roupa com certo sentimento de paranóia.
Fashion Victims traz uma pesquisa - centrada entre o final do século XIX e o início do século XX - sobre como a moda poderia ser perigosa; como roupas que deveriam ser proteção, conforto ou mesmo vaidade, tornaram-se em armadilhas letais, com ou sem intenção. Alison Matthews David faz isso com maestria, costurando os fatos numa narrativa intrigante, com uma abundância de fotografias de trajes que hoje estão em museus espalhados pelo mundo e recortes de imagens da época (vários deles me eram familiares de duas visitas que fiz ao museu Victoria & Albert em Londres).
Eu conhecia algumas das ameaças descritas no livro - guerra biológica; piolhos, uniformes militares e a febre das trincheiras, o envenenamento por mercúrio na feitura de chapéus apareceu nas minhas pesquisas quando estava escrevendo o especial de Alice no País das Maravilhas; e já tinha também ouvido falar na combinação de cola, umidade e arsênico em papéis de parede, porque existe uma teoria de que Jane Austen morreu por envenenamento com essa substância. Por sinal, recentemente descobriram uns livros na Dinamarca pintados com arsênico, o que, é claro, faz lembrar de O Nome da Rosa.
Muito mais, contudo, foi surpresa. Felizmente, não tenho pijamas de flanela para pegar fogo, minhas meias são todas brancas, moro num país tropical e não preciso usar cachecóis ou echarpes (mas se tiver que usá-los, vou sempre prestar atenção de manter as pontas junto ao corpo) e meu cabelo é sempre curto, o que significa que, possivelmente, não corro o risco de me descobrir usando pentes decorativos explosivos.
Tem coisas que parecem até piada de tão estranho que pode nos parecer hoje em dia. Deixando de lado o humor negro, contudo, o que resta é um retrato assustador de consumismo; exploração insustentável de matéria-prima; falta de controle governamental, com priorização dos ganhos da indústria sobre a segurança dos consumidores; péssimas condições de trabalho, pobreza, desespero e vaidades suicidas.
E antes que pensemos que tudo isso só diz respeito ao passado, é bom pontuar exemplos como cintos feitos com material radioativo escavado de lixos tóxicos na Índia e as superbactéricas que viajam nos jalecos brancos (e gravatas) dos médicos em que confiamos. Lembro-me de uma matéria alguns anos atrás, no Fantástico, sobre o assunto e relembrá-la nessas páginas foi importante.
De mais a mais, embora possa parecer um livro sobre um tema muito restrito, Fashion Victims é fascinante tanto pelos relatos históricos como pelo encadeamento de causas não tão óbvias para consequências desastrosas, e traz algumas reflexões muito atuais sobre nossa forma de consumir e o que isso significa para o mundo. Recomendado.
Nota:
(de 1 a 5, sendo: 1 – Não Gostei; 2 – Mais ou Menos; 3 – Gostei; 4 – Gostei muito; 5 – Excelente)
Ficha Bibliográfica
Título: Fashion Victims: The Dangers of Dress Past and Present
Autor: Alison Matthews David
Editora: Bloomsbury Visual Arts
Ano: 2015
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Não só as meias, mas as roupas íntimas também devem ser brancas. Acho que meias entram na classificação de roupa íntima, não sei.
ResponderExcluirAntes de você usar uma roupa que acabou de comprar é recomendável lavá-la, pode ter bactérias da china.
Conheço pessoas que gostam do cheirinho de livro novo assim como dos livros do sebo. Depois de ler o que você escreveu, vou alertá-las.
:-)
Sim, acho também que meias entram na classificação da roupa íntima.
ExcluirLá em casa lavamos toda roupa após comprar, nunca usamos logo que chega da loja.
Os livros, problema não é tanto o cheiro, mas aquela mania que certas pessoas têm de molhar o dedo, virar a página, levar o dedo de novo à boa... e ir engolindo o que tiver por ali... é assim que se envenenam os leitores em O Nome da Rosa...