5 de outubro de 2016
#AllHallowsRead: Vamos falar de Bradbury
Um dos mais celebrados escritores do século XX, Ray Bradbury foi um autor extremamente prolífico, tendo trabalhado com diversos gêneros literários - só entre contos e noveletas, foram mais de 600 histórias, além de romances, peças de teatro, ensaios, poemas e roteiros adaptados. Suas obras mais conhecidas são a distopia Fahrenheit 451, bem como sua coletânea de contos de ficção científica As Crônicas Marcianas, e a fantasia Algo Sinistro Vem Por Aí.
Bradbury esteve no meu radar por anos - seu nome aparece em toda lista de clássicos da literatura contemporânea. Além disso, ele é um favorito do Gaiman, e essa é a melhor indicação/referência que se poderia ter. Contudo, não foi até muito recentemente que comecei a lê-lo e não sei se minha reação é ficar triste por não ter tido a chance de crescer lendo as histórias dele ou se me alegro porque tenho ainda tanta coisa dele para ler no futuro.
O fato é que Bradbury é… fascinante. Seja escrevendo terror, suspense, ficção científica ou pura fantasia, seu estilo é reconhecível: objetivo, mas de uma liricidade impressionante, sempre capaz de capitalizar as emoções trazidas pela narrativa. Ler Bradbury nos provoca risos e lágrimas, calafrios e arritmia; seus cenários são vívidos e apaixonantes. Ele nos convida a refletir a sério em muitas de suas histórias, mas em outras, ele só quer nos divertir.
Já li e resenhei cá no blog Algo Sinistro Vem por Aí, A Árvore do Halloween, A Cidade Inteira Dorme e outros contos e As Crônicas Marcianas. Estou agora às voltas com Fahrenheit 451, que será o tema do próximo encontro do Clube do Livro de Bolso, bem como a coletânea The October Country - este último uma leitura bem apropriada para o All Hallow’s Read, e que chegou a ser traduzida aqui no Brasil na década de 80. E em todas essas histórias do autor com que tive contato até hoje, o que mais me chamou a atenção foi justamente a poesia que se derrama em cada parágrafo, em cada jogo de mãos.“Passando a porta, chegava-se a uma sala vazia e silenciosa e no centro da sala vazia, estava uma mulher idosa.
Seus olhos estavam costurados com fio resinado vermelho. O nariz estava selado com barbante preto encerado. As orelhas estavam também cozidas, como se uma libélula fina feita com agulha tivesse costurado todos os seus sentidos. Ela estava sentada, imóvel, na sala deserta.”
- O Homem Ilustrado -
Não há como se furtar dessa realidade: as histórias de Bradbury são simplesmente… belas. Não importa se estamos lidando com realidades pós-nucleares, colonização marciana ou circos malditos; se no cerne da questão está o apartheid ou uma crítica cultural ou na História e tradição do dia das bruxas: o ritmo das palavras com que ele nos apresenta esses contos tem sempre a musicalidade de um poema.
Assim é que nesse mês das bruxas e dentro do espírito do All Hallow’s Read, Ray Bradbury é minha primeira indicação de autor para ler e para presentear. Chamo a atenção particularmente para Algo Sinistro Vem Por Aí (que já resenhei aqui), com seu circo de horrores repleto de personagens de pesadelo e a tentação do carrossel, com dois amigos leais e um pai cansado, numa noite em que tudo parece possível.
Ainda, se você está preparando uma maratona de filmes para a época, a Disney produziu em 1983 um filme inspirado nesse livro, com o roteiro adaptado pelo próprio Bradbury. Vale à pena dar uma olhada!"Para esses seres, o outono é a estação normal, o único clima que eles conhecem, sem nenhuma outra escolha. E de onde eles vêm? Da poeira. E para onde vão? Para a sepultura. Será que o sangue corre em suas veias? Não, o que corre é o vento noturno. [...] Ele vasculham a tempestade humana em busca de almas, comem a substância da razão, enchem as tumbas com pecadores. E eles avançam, rastejando como besouros, infiltrando-se, fazendo todas as luas ficarem sombrias e toldando todas as águas claras. A teia de aranha os percebe, treme e se rompe. Assim são as pessoas do outono."
- Algo Sinistro Vem Por Aí -
Por fim, quem mais aqui já leu Bradbury? Vocês têm uma história favorita para me indicar também, dentro do espírito do All Hallow’s Read? Deixem aí suas sugestões nos comentários!
A Coruja
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