21 de março de 2011
Desafio Literário 2011: Março - Romance Épico || The Well at the World's End
"Son," said the elder, "true it is that the water of that Well shall cause a man to thrive in all ways, and to live through many generations of men, maybe, in honour and good-liking; but it may not keep any man alive for ever; for so have the Gods given us the gift of death lest we weary of life. Now our folk live well and hale, and without the sickness and pestilence, such as I have heard oft befall folk in other lands: even as I heard the Sage of Swevenham say, and I wondered at his words. Of strife and of war also we know naught: nor do we desire aught which we may not easily attain to. Therefore we live long, and we fear the Gods if we should strive to live longer, lest they should bring upon us war and sickness, and over-weening desire, and weariness of life. Moreover it is little that all of us should seek to the Well at the World's End; and those few that sought and drank should be stronger and wiser than the others, and should make themselves earthly gods, and, maybe, should torment the others of us and make their lives a very burden to be borne. Of such matters are there tales current amongst us that so it hath been of yore and in other lands; and ill it were if such times came back upon us."
Ralph hung his head and was silent; for the joy of the Quest seemed dying out as the old man's words dropped slowly from his mouth. But he smiled upon Ralph and went on: "But for you, guests, it is otherwise, for ye of the World beyond the Mountains are stronger and more godlike than we, as all tales tell; and ye wear away your lives desiring that which ye may scarce get; and ye set your hearts on high things, desiring to be masters of the very Gods. Therefore ye know sickness and sorrow, and oft ye die before your time, so that ye must depart and leave undone things which ye deem ye were born to do; which to all men is grievous. And because of all this ye desire healing and thriving, whether good come of it, or ill. Therefore ye do but right to seek to the Well at the World's End, that ye may the better accomplish that which behoveth you, and that ye may serve your fellows and deliver them from the thralldom of those that be strong and unwise and unkind, of whom we have heard strange tales."
Quem acompanha o Coruja já deve ter ouvido falar no meu projeto pessoal de conhecer os grandes mestres da fantasia a. T. (antes de Tolkien). Já passaram por aqui a injustamente desconhecida Hope Mirrlees e o magistral T. H. White – e outros mais estão a caminho.
Morris é um desses grandes – um mestre de mestres, uma vez que é inspiração reconhecida de autores como Tolkien (que fala dele em cartas à esposa) e Lewis (que chegou a escrever ensaios sobre o autor). O mais conhecido de seus livros é The Well at the World’s End, que conta a épica jornada do príncipe Ralph de Upmeads atrás do Poço do Fim do Mundo, guardado por uma jovem de rara beleza, cujas águas conferem não apenas longevidade como transformam o próprio destino de quem as toma.
O livro foi publicado em 1896 e tem uma linguagem no melhor estilo “balada medieval”. Eu até teria reclamado, não fosse o detalhe que ele foi o terceiro livro do mês nesse estilo – e depois de quase enfiar a cabeça na parede tentando ler Shakespeare em inglês, a linguagem de Morris foi fichinha.
Entendo a escolha que ele fez para a forma de contar sua história. The Well at the World’s End é uma obra que se insere na tradição romântica medieval, inclusive nos temas – amor cortês, cavalheirismo, justas... Posso perfeitamente imaginá-la sendo cantada por um bardo com o acompanhamento de um alaúde – o texto tem uma musicalidade tão viva, que você a sente mesmo lendo (atividade normalmente silenciosa).
A oralidade, aliás, é uma característica que sempre identifico com a idéia de épico. Lembremos sempre que Homero – o primeiro autor épico – não escrevia, até porque, pela tradição histórica, ele era um bardo cego. A Ilíada e A Odisséia foram criadas sendo declamadas, não escritas.
Ralph, nosso protagonista, é o filho caçula do rei Peter, do pequeno reino de Upmeads. Upmeads não é apenas um reino minúsculo, mas também é tão pacífico que, para seus quatro jovens príncipes, chega a ser tedioso. Tanto que, em vez de estarem fazendo intrigas entre si para ver quem será o próximo a sentar no trono, eles anseiam pela oportunidade de poder subir num cavalo e sair a esmo pelo mundo em busca de aventuras.
O rei Peter percebe que é chegado o momento de soltar os filhos no mundo. Assim, ele os leva até os limites da cidade, entregando a cada um deles um cavalo, um criado e um saco de moedas... para então observar que eles devem tirar a sorte no palitinho – três deles partirão, um em cada direção, e o quarto, que tirar o menor palito, ficará em casa para cuidar dos pais na velhice e se tornar herdeiro do trono.
A Ralph cabe o menor palitinho. E assim, contrariado, ele vê os irmãos partirem e volta para casa com o pai, para alegria de sua mãe, a rainha. Mas vamos ser sinceros: Ralph não seria um herói se passasse o resto da história atrás da saia da mãe. É claro que ele vai desobedecer ao pai e partir em sua própria jornada – que ocupa ¾ do livro, com o ¼ restante sendo a viagem de volta, da qual a volta dos Hobbits em O Senhor dos Anéis é um eco bastante reconhecível.
A despeito dessa ‘rebeldia’ Ralph é amado e respeitado por todos. Ele é gentil, cortês, corajoso. É admirado tanto por homens quanto por mulheres. Na verdade, ele faz sucesso tanto com a feiticeira manipuladora quanto com a sábia Donzela da Abundância. Mesmo o vilão (e, curiosamente, o temido Lorde de Utterbol se chama Gandolf) o admira e onde quer que ele chegue, faz amigos que o seguirão até o fim do mundo.
E essa não é uma figura de linguagem.
Raph é o arquétipo perfeito do Herói. E é um personagem complexo, a despeito desse manto de perfeição: comete erros, engana-se... apaixona-se perdidamente e falha em salvar a vida da mulher amada. Mas, ainda que guarde e respeite a memória desse primeiro amor, ele se dá uma chance ao lado de Ursula, que o ama o suficiente para segui-lo até o final da jornada – e até para consolá-lo quando ele é confrontado por essas lembranças.
Convivem ainda na história a religião e o sobrenatural. O mundo criado por Morris é clara e obviamente cristão, mas é também povoado de feiticeiros, demônios e criaturas mais velhas que o Homem, que pululam pela ‘Floresta Perigosa’.
Tive a constante impressão de que essa Floresta é algo como um mundo paralelo dentro do mundo do livro. Um dia, você pode atravessá-la em segurança de ponta a ponta; em outro, ela é tão vasta e labiríntica que um homem pode vagar por anos sem encontrar a saída.
Em diversos aspectos, The Well at the World’s End me faz pensar nos contos do Rei Arthur. A forma como Ralph conquista corações e mentes lembra muito o carisma do jovem soberano de Camelot; bem como a lealdade que Arthur inspira em todos os seus cavaleiros. Também a mistura de temas mundanos e religiosos, a idéia do amor cortês (sem maridos traídos, contudo), a busca por algo místico e poderoso... todos são temas bastante familiares.
A verdade é que The Well at the World’s End é um verdadeiro trabalho de ourivesaria. Não à toa, aliás, já que Morris era metido a artesão, constantemente preocupado com a busca pelo belo, pela perfeição. A cada passo que Ralph dá em sua jornada, nos deparamos com o Maravilhoso, o Sobrenatural, o Fantástico. E nos surpreendemos em como alguns desses passos nos são familiares.
Se Tolkien é o pai da Fantasia como gênero literário, Morris é um dos avôs na certidão de nascimento. Seus livros são uma verdadeira aula para todo amante da fantasia – e deveriam ser mais conhecidos do grande público. Infelizmente, assim como a maior parte dos autores que tenho vasculhado nesse baú, apenas um pequeno público especializado tem conhecimento deles.
Uma vez que acho ainda pouco provável darmos de cara com esse livro no Brasil e uma vez que ele já entrou em domínio público conforme a legislação de direitos autorais, faço minha parte e deixo aqui o link para download da obra em inglês no Project Gutenberg.
Um pouco de paciência é recomendada... e um bom dicionário da língua. Mas o esforço vale à pena.
E aqui terminamos os livros do tema de março do Desafio Literário 2011. Curiosamente, os três títulos escolhidos foram lidos (ou ouvidos) em inglês e todos são épicos do gênero fantasia (esse último não é coincidência). Mês que vem teremos ficção científica. E, pelas sinopses que escolhi, mais fantasia. Assim sendo... até abril, pessoal!
Nota: 5
(de 1 a 5, sendo: 1 – Péssimo; 2 – Ruim; 3 – Regular; 4 – Bom; 5 – Excelente)
Ficha Bibliográfica
Título: The Well at the World's End
Autor: William Morris
Hospedagem: Project Gutenberg
Ano: 1896
A Coruja
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Sobre
Livros, viagens, filosofia de botequim e causos da carochinha: o Coruja em Teto de Zinco Quente foi criado para ser um depósito de ideias, opiniões, debates e resmungos sobre a vida, o universo e tudo o mais. Para saber mais, clique aqui.
Pelo trabalho de tessitura que o texto parece evocar, deve ser mesmo uma obra-prima. Obrigada pela dica!
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