7 de outubro de 2021

Projeto Agatha Christie: A Noite das Bruxas


Poirot sacou a caderneta e fez uma anotação.

- O que está escrevendo aí?

- Coisas que me aconteceram no passado.

- O passado parece assustá-lo.

- O passado é o pai do presente - disse Poirot, sentencioso, e estendeu a caderneta para Mrs. Oliver. - Gostaria de ler o que escrevi?

- É claro. Diria que não terá qualquer significado para mim. As coisas que acha importante anotar são diferentes das minhas.

Publicado originalmente em 1969, A Noite das Bruxas traz não apenas Hercule Poirot investigando o caso, como também a escritora de mistérios e alter ego da própria Christie, Ariadne Oliver. Foi um dos últimos romances trazendo o famoso detetive belga como protagonista.

Tudo começa numa festa de Halloween, com uma adolescente conhecida por inventar histórias para chamar a atenção para si dizendo que presenciou um assassinato quando mais nova - embora não entendesse à época o que realmente estava acontecendo. Ninguém acredita nela, claro, e as coisas teriam ficado por aí, não fosse o fato de que, horas depois, Joyce é encontrada morta, aparentemente afogada num barril de maçãs.

Ariadne, que estava na festa, sente que as coisas não se encaixam como deveria, e vai atrás de Poirot para resolver o caso. E aí temos um mergulho no passado - porque se Joyce realmente viu um assassinato acontecer, então a chave para resolver o caso é descobrir o que está por trás de mortes e desaparecimentos sem explicação que aconteceram anos atrás.

Embora a crítica da época não tenha sido muito elogiosa, eu gostei do mistério principal de A Noite das Bruxas - foi bem amarrado, especialmente na forma como passado e presente se encontram. Dei-me conta de quem era o assassino um capítulo antes da revelação - mais importante, contudo, foi desvendar a verdade por trás das afirmações de Joyce, e essa eu percebi quase de imediato quando a pista necessária foi introduzida - e assim, dou-me um ponto inteiro por conseguir solucionar o caso.

Entendo, contudo, que há coincidências e detalhes do enredo que simplesmente pularam do nada para dentro da história e que parecem presentes apenas para sensacionalizar o final. Foram escolhas que achei desnecessárias, minúcias que não fariam diferença no grande esquema das coisas.

Algumas outras questões são mais problemáticas: há uma insistência de vários personagens que o crime cometido teria sido cometido por algum pervertido fugido de um manicômio judicial ou coisa parecida - essa correlação entre crimes sexuais e deficiência mental me deixou desconfortável. Além disso, a Inglaterra de então tinha passado por uma recente reforma legislativa que abolira a pena de morte e muitos personagens expressam censura à novidade, com opiniões bem preconceituosas sobre o assunto. Bem, isso não é uma novidade; Agatha Christie costuma jogar muito com diferenças de classe e, nesse aspecto, como em muitos outros, ela nos oferece um recorte interessante de seu tempo.

Ao final, não sei se realmente classificaria esse livro para a minha lista do All Hallow’s Read - fiquei guardando a leitura dele para coincidir com o mês de outubro -, já que, exceto pelo fato de o assassinato ocorrer na noite de dia das bruxas, não há muito que ligue o caso ao folclore da data. Seja como for, foi uma boa leitura para o Projeto Agatha Christie.

Nota:
(de 1 a 5, sendo: 1 – Decepção; 2 – Mais ou Menos; 3 – Interessante; 4 – Recomendo; 5 – Merece Releitura)

Ficha Bibliográfica

Título: A Noite das Bruxas
Autor: Agatha Christie
Tradução: Bruna Beber
Editora: Harper Collins
Ano: 2020

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