9 de março de 2021

Os Mortais Mais Perversos do Mundo de Lore


Yes, our world is still full of dangerously irrational people—people that allow hate and jealously and their own deep insecurities to drive them toward monstrous actions.

Descobri o podcast de Lore quando o primeiro volume da coleção derivada do programa saiu aqui pela Darkside. Adorei a prosa de Mahnke - que mantém a oralidade, o tom informal do produto original - e a forma como ela casa com as ilustrações de M. S. Corley, pelo que me empolguei para ir atrás do volume seguinte.

A princípio, Wicked Mortals funciona bem: seus primeiros capítulos são uma interessante coleção de crimes e criminosos reais, alguns bem conhecidos - como H. H. Holmes - e outros que nunca foram solucionados. Certamente dá para entender porque essas histórias se encaixariam no título de ‘mortais malignos’.

Lá pela metade, contudo, o autor parece perder o foco, detendo-se em contos mais folclóricos - quando no começo trabalhara com casos reais e bem documentados - e personagens que se encaixam muito mais no perfil de vítima que de algoz. Especialmente neste segundo caso, o sensacionalismo da apresentação me deixou de pé atrás. Se ele queria apresentar situações de histeria coletiva e mentalidade de rebanho dentro da estrutura sugerida pelo título, errou o tom.

Não pude deixar de comparar com Lady Killers, de Tori Telfer, uma leitura parecida que fiz ano passado, e que me agradou bem mais na abordagem sensível que fez. Tratar de crimes reais não é fácil, porque estamos mergulhando no que há de mais sombrio na natureza humana. Mas é preciso enxergar o contexto do que aconteceu - e não estou falando aqui de encontrar desculpas para esses criminosos.

Um bom exemplo do que quero dizer: Mahnke e Telfer falam de Erzsébet Báthory em seus livros. Contudo, enquanto o primeiro apresenta rapidamente a lenda da condessa sádica e se compraz nos detalhes mais escabrosos, quiçá até aumentados pela lenda; a segunda não deixa de lembrar que os acusadores da cruel Báthory lhe deviam um bocado de dinheiro e se beneficiaram do estrago feito à sua reputação.

Não duvido que Báthory cometeu uma boa parte dos crimes que lhe foram imputados. Mas há maneiras e maneiras de contar uma história. Desumanizar personagens como ela, transformá-los em monstros e demônios de contos folclóricos, diminui o peso de seus crimes, porque, de certa maneira, estamos colocando-os fora da nossa esfera de julgamento natural. É como querer negar que nós, outros seres humanos, temos essa capacidade de sermos cruéis, dada a oportunidade ou circunstância.

Enfim, voltando a Wicked Mortals... em termos de coesão, esse segundo título da série deixa algo a desejar. Não se costura bem o tema geral que é apresentado pelo título do livro, temos uma colcha de retalhos de histórias que são, sim, interessantes, mas que não dialogam num mesmo volume. E, onde o tom mais jocoso de Mahnke funcionou em Criaturas Estranhas, aqui, tratando de casos e pessoas reais, soou-me desrespeitoso com aqueles que se tornaram vítimas.

Aos interessados, sempre bom lembrar que além do podcast, Lore também foi adaptado numa série disponível na Amazon Prime, com duas temporadas até o momento. Para quem gosta de sustos e arrepios, recomendado.

Nota:
(de 1 a 5, sendo: 1 – Não Gostei; 2 – Mais ou Menos; 3 – Gostei; 4 – Gostei muito; 5 – Excelente)

Ficha Bibliográfica

Título: The World of Lore: Wicked Mortals
Autor: Aaron Manhke
Ilustrações: M. S. Corley
Editora: Del Rey
Ano: 2018

Onde Comprar

Amazon


A Coruja





____________________________________

 

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Sobre

Livros, viagens, filosofia de botequim e causos da carochinha: o Coruja em Teto de Zinco Quente foi criado para ser um depósito de ideias, opiniões, debates e resmungos sobre a vida, o universo e tudo o mais. Para saber mais, clique aqui.

Cadastre seu email e receba a newsletter do blog

powered by TinyLetter

facebook

Arquivo do blog