11 de agosto de 2016

Para ler: Estação Onze

Todos os trailers da Sinfonia Itinerante estão assinalados com esse nome, SINFONIA ITINERANTE grafado em letras brancas dos dois lados, mas o trailer da frente leva dizeres adicionais: Porque sobreviver não é suficiente.
Vinte anos após a ‘Gripe da Geórgia’ ter quase obliterado a humanidade da face da terra, um grupo de atores e músicos percorre as comunidades remanescentes, apresentando concertos e peças de Shakespeare. É a Sinfonia Itinerante e esse é o mundo pós-apocalipse.

Estação Onze primeiro me chamou a atenção quando o livro foi indicado a melhor ficção do Goodreads Choice Awards de 2014. Uma distopia futurista que tenha Shakespeare como uma de suas bases não só é algo muito diferente do que costumam encontrar no gênero pós-catástrofe como se revela como uma história de foco humano e intimista e não uma aventura-corrida-contra-o-tempo-e-zumbis (nada contra esse tipo de histórias, mas às vezes é bom variar).

A história aqui é contada de forma fragmentária, usando vários personagens que, à primeira vista, nada têm em comum, no antes, durante e depois da grande epidemia. Fragmentada como são as memórias e as tentativas de construção de uma nova identidade de uma sociedade que está tendo de se reinventar completamente.

O conflito fica por conta das diferentes visões que os sobreviventes têm do que aconteceu: aqueles que aceitam que é necessário seguir adiante e se adaptar sem esquecer aquilo que os faz seres humanos e aqueles que procuram um sentido, uma causa, um culpado, sem conseguir enxergar a realidade: o que aconteceu não foi um castigo divino e aqueles que conseguiram escapar da doença e do caos que se seguiu não são escolhidos predestinados.

Nesse contexto, faz todo o sentido do mundo que os personagens se voltem para Shakespeare. Primeiro, porque a experiência de um teatro e orquestra itinerante numa época de doença e morte é algo que moldou muito da experiência do bardo - que viajou com sua trupe pelo interior quando os teatros de Londres foram interditados por causa da peste. Segundo, porque poucos autores nos confrontam com nossa própria humanidade como ele. Shakespeare recria o humano como centro do universo - não são mais os deuses que manipulam as escolhas de seus preferidos, como nas tragédias clássicas, mas é o homem que se torna responsável por suas escolhas e seu destino.

Estação Onze não é um épico barulhento em que todos estão correndo por suas vidas, mas a calma após a tempestade. É uma história que assombra em seus silêncios, nas solidões que revela e na forma como explora o caráter humano em tempos difíceis. Não é uma história linear com finais fechados e perfeitos - poder-se-ia até argumentar que não é exatamente uma história, mas sim uma narrativa de fatos, um encadeamento de cenas que revela um pouco do que seja essa existência no extremo do que conhecemos hoje.

É um livro triste, e até desolador em alguns momentos, mas poético e esperançoso em seu final.

Nota:
(de 1 a 5, sendo: 1 – Não Gostei; 2 – Mais ou Menos; 3 – Gostei; 4 – Gostei muito; 5 – Excelente)

Ficha Bibliográfica

Título: Estação Onze
Autor: Emily St. John Mandel
Tradução: Rubens Figueiredo
Editora: Intrínseca
Ano: 2015

Onde Comprar

Amazon || Cultura || Saraiva


A Coruja


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3 comentários:

  1. Oi...
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    Então passo aqui para te avisar que Coruja em Teto de Zinco Quente foi um dos meus 15 blogs indicados.
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    https://naciadelivros.blogspot.com.br/2016/08/premio-dardo-bloggers-recebimento-e.html

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  2. Tem algum tempo que li esse livro, e lembro que quando vi depois o que as pessoas reclamavam dele, não entendi. Amei a história! Eram histórias de gente com problemas e fins que ficam mal resolvidos, exatamente como é na vida real, o tipo de coisa que causa um arrependimento tardio. E por ser pós-apocalipse sem todo o clichê de uma historia do gênero, com o plus de ter uma compania de teatro intinerante representando shakespeare, achei a história ainda mais original e interessante. Me deu vontade de saber mais sobre todos os personagens, seja porque me cativaram ou porque me deixaram curiosa!

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    Respostas
    1. Eu acho que o problema do pessoal não se identificar bem com a história é a forma como ela é contada de maneira fragmentada... o que torna um pouco mais difícil de acompanhar. Ou talvez seja porque vão ao livro com uma expectativa diferente... também amei a história, bom encontrar mais gente que tenha sido tocado por ele!

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