16 de maio de 2016

#LendoSandman: Espelhos Distantes


Espelhos Distantes reúne quatro histórias que refletem sobre a natureza do poder e o papel dos governantes - em particular, imperadores. Todas elas têm nomes de meses, sendo que três delas - Três Setembros e um Janeiro, Termidor e Agosto foram publicadas entre os arcos Estação das Brumas e Um Jogo de Você. Ramadã, em virtude de atrasos das artes do fascículo, foi publicado apenas após o arco Vidas Breves.


Como todas essas histórias estão intimamente ligadas em sua reflexão, vou fugir um pouco ao cronograma original do Projeto para falar de Ramadã também hoje.

A primeira história da coletânea Espelhos Distantes é Termidor, que ocorre em junho de 1794 e segue a grande aventura de Lady Johanna Constantine a serviço de Morpheus, visando o resgate da cabeça de Orpheus na França pós-Revolução.

Em todo caso… Morpheus, por motivos que talvez descobriremos em breve, não pode agir diretamente para salvar o filho, necessitando de um agente que faça seu serviço sujo. Johanna, que conseguiu emboscá-lo em uma de suas reuniões com Rob Gadling (vide Homens de Boa Fortuna), demonstrou suficientemente sua competência para que ele tenha decidido por fazê-la sua agente nesse caso.

Assim é que Johanna deixa o conforto de sua mansão - que, ironias do destino, será mais tarde comprada por Roderick Burgess e servirá de prisão para Sonho… - para se infiltrar entre os franceses numa época não particularmente simpática a estrangeiros e aristocratas por lá.

A data escolhida aqui é significativa: estamos à véspera do final do mais sangrento período da Revolução, o Terror, presidido pela figura de Robespierre, frente ao Comitê de Salvação Pública. Sob o governo de Robespierre, mais de 17 mil pessoas foram guilhotinadas, incluindo a família real francesa. A queda de Robespierre é conhecida como o Golpe de Termidor, que levaria ao poder um general corso, posteriomente conhecido como... o Imperador Napoleão Bonaparte.

Termidor trata do resgate de Orpheus, sim, mas a verdade é que esse não é o centro da discussão. Gaiman vai fundo aqui na relação entre tiranos, ideologias e, claro, sonho. Robespierre foi um dos idealizadores da Revolução, um legítimo campeão do povo, fervoroso defensor da igualdade e liberdade, do sufrágio universal e da abolição da escravatura. Era conhecido por seus aliados como “O Incorruptível”.

O problema é que Robespierre não entendia moderação… e assim é que seu Comitê de Salvação Pública passa a enxergar traidores da Revolução por todos os lados, transformando-se num instrumento de assassinato de massa, levando o povo a uma espécie de histeria coletiva.

Robespierre caiu e, caindo, tornou-se vilão na História - parte de uma narrativa muito próxima a que ele mesmo criou para Maria Antonieta, que não era nem de longe a criatura frívola que passou aos livros de história. Ele foi do tipo mais perigoso de ditador: aquela que realmente acredita em seus ideais, que está fazendo o melhor por seu povo e não alguém que está atrás do poder pelo poder.

Tiranos idealistas sempre são capazes de justificar que quaisquer meios são aceitáveis para alcançar o sonho. Ainda que para isso seja necessário destruir todos os outros sonhadores.


Podemos apenas tentar imaginar a canção de Orpheus, mas creio que ela esteja intimamente ligada com todas essas questões de que acabamos de falar. O efeito dela é algo como… Lady Macbeth após o assassinato do rei, confrontando afinal a realidade de seus crimes e incapaz de suportá-los.

É essa verdade que faz St. Just e Robespierre perderem as palavras no momento em que delas mais precisavam. Se a canção de Orpheus os fez perder a fé que estavam fazendo o que era certo e justo, então como poderiam se fazer ouvir?

Gaiman, aliás, se supera nessa cena. Mais uma vez, ele bebe na tradição do teatro grego - para ser capaz de usar seu poder, Orpheus necessita de um coro e que melhor coro que as cabeças cortadas das infindáveis vítimas do Terror criado pelo próprio Robespierre?

Acho um pouco curioso que Robespierre encha a boca nessa história para falar de era da razão contra a superstição, porque ele era uma das vozes da Assembléia contra o fim da religião. Robespierre acreditava num ser superior e era radicalmente contra a onda de ateísmo que surgiu à época. Talvez porque a cabeça de Orpheus não caiba em sua idéia de religião... Enfim...

A história seguinte de Espelhos Distantes viaja um pouco mais distante no tempo. Agosto trata do primeiro imperador romano, Augusto, sobrinho e filho adotivo de Júlio César. Aconselhado por Morpheus em um sonho, Augusto passa um dia disfarçado de mendigo, pedindo esmolas na rua e assim poder fazer planos longe da vigilância de quaisquer olhos divinos.

Há duas profecias sobre o futuro de Roma: uma que a coloca como um Império a se estender sem limites por milênios e outra em que são impostos limites que a levam à Queda. Augusto necessita desse dia em que se torna invisível aos olhos dos deuses para planejar qual dessas profecias seguir.

O óbvio, claro, seria que Augusto deseja que Roma seja eterna e abarque o mundo inteiro em suas fronteiras. Mas, se assim fosse, porque ele precisaria fazer seus planos escondido? E porque ele se deixaria levar pelo conselho do deus que estabelece limites?


Vingança seria a palavra-chave nesse caso. Através dos flashbacks de Augusto, nos é revelado que César - o grande César que inspirou muito da glória de Roma - abusou sexualmente do sobrinho.

Contudo, restringir Agosto a uma história de vingança também nos faz cair no óbvio e Gaiman costuma fugir do lugar-comum. Sendo assim, sobre o que afinal é essa história?

O Império Romano em sua forma física de fato caiu, transformando-se em ruínas sob as armas de diversos povos bárbaros. No entanto… no entanto, seu ideal nunca foi de fato destruído. Boa parte da cultura ocidental se fundamenta na tradição romana. Nossa língua, nossas instituições públicas, nossas noções de cidadania. Diabos, eu me formei em Direito em 2009 ainda estudando direito romano.

Culturalmente, o Império nunca deixou de existir e seus braços se estenderam por todo o mundo. Apenas os gregos influenciaram tão fortemente a sociedade como conhecemos - e essa influência veio filtrada pelos romanos.

Roma é chamada de a Cidade Eterna. E caminhar pelas ruínas do Capitólio ou visitar o Coliseu, mesmo enfiada entre centenas de outros turistas, traz uma sensação de volta ao tempo. Há lugares em Roma em que você caminha sem ouvir o barulho de carros ou do resto da vida cotidiana com que estamos acostumados. Roma caiu, sim, mas nunca chegou realmente ao fim.

De outro turno, não conheço nada sobre César que diga que ele tivesse algum tipo de relacionamento para além de mentor, com o sobrinho, quando este ainda se chamava Caio Otávio. Já li em algum lugar que houve quem o acusasse de se ‘prostituir’ para o rei da Bitínia - a crítica não era ao fato de que César tivesse um homem como amante, mas que ele fosse a parte ‘submissa’ da relação, quando essa submissão diminuía a importância de Roma para o resto do mundo.

Muita gente sem ter o que fazer com tempo sobrando para ficar julgando o que o povo faz entre quatro paredes, não é mesmo?

O caso é que um relacionamento entre César e Caio Otávio poderia ser considerado algo normal para o contexto da época, especialmente numa relação de mentor e pupilo. Lembro-me de ter lido a biografia romanceada do Imperador Adriano e ter me admirado com o fervor apaixonado do velho imperador para com seu jovem mancebo, especialmente porque esse fervor foi feito muito público após a morte do rapaz.

O contexto pode ser normal, mas é meio óbvio que Caio Otávio, na história de Gaiman, não entrou nesse relacionamento de forma consensual. César simplesmente tomou para si aquilo que desejava - afinal, ele foi um conquistador por toda a vida, acostumado a tomar posse de povos e nações, porque não de um garoto que estava sob sua guarda?

Augusto foi um governante sábio. O maior dos imperadores de Roma. Em seu tempo, o mundo conheceu paz, a Paz de Augusto. Ele transformou uma cidade de casebres em um império de mármore. Foi ele que nos deu a Cidade Eterna.

Vingança? Eu diria que essa não é a verdadeira motivação de Augusto. Não; o ataque (porque não existe outra palavra para usar aqui) de César ao sobrinho, que além de ser vulnerável pela sua posição de dependente do homem, estava ainda enfraquecido pela doença e não tinha como reagir para além de aceitar o estupro, ensinou ao futuro imperador que era necessário haver limites.

Não se trata meramente de vingança, mas de responsabilidade.

São duas as profecias sobre o futuro de Roma. Na minha interpretação, o que Augusto planejou não foi um caminho ou outro, mas sim os dois. Ele plantou as sementes para a queda do Império quando limitou a expansão militar - o que significou a diminuição da oferta de escravos para trabalhar e produzir, e deixou um exército enorme e muito bem treinado ocioso. Ao mesmo tempo, ele escreveu o nome de Roma nas páginas da eternidade: suas idéias vivem.

Claro que, se no processo, ele pode mandar uma grande dedada para César, isso é apenas um bônus no grande esquema das coisas...

O terceiro conto da antologia é Três Setembros e um Janeiro e conta a história, ABSOLUTAMENTE REAL, de Joshua Abraham Norton, o primeiro e único imperador dos Estados Unidos.

Pois é, quando você acha que a realidade não pode ser mais estranha que a ficção, figuras como Norton surgem à sua frente. Pesquisando sobre ele, descobri inclusive que existe uma campanha para renomear a Bay Bridge em São Francisco de Imperador Norton.

Três Setembro e um Janeiro é uma história particularmente importante por aquilo que nos revela sobre os Perpétuos, em especial o relacionamento dos irmãos mais novos com Sonho.

Norton inicia a história como uma criatura de Desespero: tendo se metido numa especulação com arroz que o fez perder tudo o que tinha, Norton flerta com o suicídio. Desespero chama Sonho e lhe propõe um jogo: seria o irmão mais velho capaz de salvar Norton?

Já descobrimos que Desespero, sendo irmã gêmea de Desejo, teve alguma participação em esquemas anteriores contra Sonho - Nada e, possivelmente, Rose Walker. Considerando o fato de que os Perpétuos existem desde o início do Universo, é razoável pensar que eles se metam em jogos como esse para lidar com o tédio de uma longa existência.

Só que existe algo mais nas palavras de Desespero. Uma corrente de recriminação e bem pouco velada hostilidade. Sob o ponto de vista de Desespero, Sonho é responsável pelo outro irmão, o Pródigo, ter ido embora.


Em algum ponto do passado, as atitudes de Morpheus foram interpretadas como uma abandono por seus irmãos mais novos. Poderia ser esse o motivo para Desejo querer destruí-lo?

Aliás, se havia alguma dúvida sobre a importância das Fúrias e seu papel frente a Sonho no jogo que tem sido orquestrados a milênios por Desejo, essa história também serve para resolvê-las de vez. O plano de Desejo, definitivamente, é fazer com que Morpheus derrame sangue da própria família e com isso seja morto.


Desespero culpa Sonho. Desejo talvez também o culpe ou tenha comprado a briga da irmã gêmea. Delírio, que uma vez foi Deleite… sua transformação também poderia ser atribuída a alguma ação de Morpheus? Embora não seja tão agressiva quanto Desespero, Delírio também parece possuir uma tensão em seu relacionamento com Sonho.

Teorias, teorias...


Ao final da história, Morpheus é o vencedor da aposta. O sonho de Norton o mantém são, ainda que seja, no fundo, uma loucura. Tendo um propósito e uma responsabilidade, Norton se mantém longe de Desespero e Desejo. Não importa que seja tudo uma ilusão: ele acredita em seu sonho e assume seu papel com uma dignidade que não é vista todo dia em governantes pelo mundo.

E qual é a lição aprendida por Desespero? Que sonhos, claro, são mais que fumaça e espelhos.

Esse é um tema que tem sido trabalhado em quase todas as histórias até aqui: a necessidade do sonho, das histórias. Sem sonhos não há infernos, porque não há esperança. Sem sonhos não existe desejo nem desespero e nem mesmo delírio.

Isso me lembra uma passagem do prefácio de Frank McConnell em The Sandman: Book of Dreams, que explica como os Perpétuos se derivam uns dos outros:
Estar consciente de qualquer maneira é estar consciente do tempo e do passar do tempo: do Destino. E saber isso é saber que o tempo deve ter um fim: imaginamos a Morte. Em face à certeza da morte, nós sonhamos, imaginamos paraísos onde ela não existe: “Morte é a mãe da beleza”, escreveu Wallace Stevens. E todos os sonhos, todos os mitos, toda a estrutura que construímos entre nós mesmos e o caos, apenas porque elas são coisas construídas, devem, inevitavelmente, serem destruídas. E nós nos voltamos, desesperados em nossa perda, à breve, mas deliciosa alegria do momento: nós desejamos. Todo o desejo é, obviamente, a esperança de uma satisfação impossível, pela própria natureza das coisas, de um deleite ilimitado; então desejar é sempre desesperar, realizar que o desejo-pelo-deleite é apenas, ao final de tudo, o delírio de nossa ilusão mortal de que o mundo é grande o suficiente para conter nossa mente. E então, nós retornamos às histórias – aos Sonhos.
Esse encadeamento é a melhor explicação que já encontrei para as escolhas de Gaiman para as ‘idéias em envoltórios de carne’ que são os Perpétuos. E, ao meu ver, também joga algumas luzes no relacionamento conturbado dos irmãos mais novos com Morpheus.

Encerrando o arco temos Ramadã, originalmente o nono mês do calendário islâmico. Como o calendário islâmico é lunar, esse período normalmente varia em comparação com o calendário gregoriano, que é o que nós usamos.

Ramadã reflete muito de perto o estilo de narrativa d’As Mil e Uma Noites. Al-Rashid, como todos os outros governantes que acompanhamos até o momento, foi um personagem real - o quarto califa de Bagdá, renomado como guerreiro, administrador e poeta, contemporâneo de Carlos Magno, com quem mantinha relações diplomáticas - mas também é um dos protagonistas nas histórias de Sherazade, representando o ideal de líder para a cultura árabe.

Al-Rashid ama sua Bagdá, seu reino das maravilhas. No entanto, a despeito de toda a grandeza de Bagdá e de todo o poder que ele possui, ele sabe que, mais cedo ou mais tarde, sua cidade cairá. Ele viu vezes sem conta, em suas viagens, outros impérios que outrora tinham sido tão grandes quanto o seu, sumirem entre as areias do tempo. O que fazer então para preservar esse momento perfeito no tempo?

Um pacto com o Príncipe das Histórias, é claro.

Entregar sua Bagdá perfeita numa garrafa de vidro é apenas a aparência do real desejo de Al-Rashid. O que o califa negocia com Morpheus é transformar sua cidade num ideal, num sonho, numa inspiração. Seu pacto é não ser esquecido e ele não é esquecido… justamente por causa d’As Mil e Uma Noites.


Assim como a Roma de Augusto, a Bagdá de Al-Rashid mantém-se eterna em nossa imaginação, um lugar em que tudo é possível. Um lugar de tapetes voadores e lâmpadas mágicas e ovos de fênix.

Isso significa ter aberto mão dessa magia antes do tempo… mas, em compensação, mantendo acesa a chama. A Bagdá de Al-Rashid é uma inspiração e um consolo na Bagdá moderna, devastada pela guerra. À época em que Gaiman escreveu essa história, a guerra do Golfo, mas quantas vezes mais desde então ela foi bombardeada? E mesmo assim… ela sobrevive.

Ao final de Espelhos Distantes, creio que posso dizer que o que todas essas histórias têm em comum não são apenas os títulos tirados de meses do ano, nem o fato de serem protagonizadas por figuras históricas reais, todos eles líderes de seus povos (ou sob a ilusão de serem um líder…). O que Gaiman realmente nos diz com essa coletânea é que é preciso ter responsabilidade com o poder.

É preciso ter responsabilidade porque ser o governante de uma nação é mais que um trabalho; é uma vocação. Uma vocação pela qual desejos individuais muitas vezes devem ser sacrificados. Robespierre, Augusto, Norton e Al-Rashid sublimam seus caprichos e ambições por aquilo que creem ser um bem maior. Eles podem nem sempre estarem corretos, mas não se pode dizer que eles não tenham dado seu sangue pela causa em que acreditavam.

Ao mesmo tempo, em seus papéis de líderes, eles são os responsáveis por darem aos seus súditos sonhos para que eles possam segui-los. É o sonho da Liberdade, Igualdade e Fraternidade, ou de uma cidade eterna, de um governante íntegro, de uma era que servirá como inspiração para todas as gerações futuras.

Gaiman nos convida a mirar esses espelhos de terras e épocas distantes e refletir sobre o que eles significam para nós mesmos. Talvez por isso seja tão importante encerrar essa coletânea com Ramadã, saindo dos sonhos para uma terrível realidade. Porque as histórias servem para nos dar esperança, bem como a possibilidade de mudança. Esses sonhos permitem que lutemos por aquilo que acreditamos.

Quão maravilhoso é isso?

Ok, então, acho que por hoje é isso. Daqui a duas semanas estamos de volta com a análise de Um Jogo de Você. Lembrem-se de participar do debate acompanhando o projeto no Pipoca Musical e também na comunidade All About Gaiman.


A Coruja


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4 comentários:

  1. Venho acompanhando suas análises e sua escrita é excelente. Tá sendo ótimo pra mim. Não tenho o que acrescentar, a não ser um elogio. Parabéns!

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  2. Obrigada, Felipe! Eu tenho adorado participar do projeto, só a releitura de Sandman já vale, mas ainda poder participar da conversa com outras pessoa que também gostam dele não tem preço XD

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  3. Nossa, uma baita resenha. Ainda não li esse. Gosto bastante do "Sandman - os caçadores de sonhos", que é feita a partir de uma fábula japonesa.
    Coloquei esse na minha lista agora, obrigado.

    naciadelivros.blogspot.com

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    Respostas
    1. Eu li as duas versões de caçadores de sonhos, a em quadrinhos e em formato de romance e sou apaixonada. É uma das histórias mais delicadas da série Sandman. Na verdade, gosto de tudo o que Gaiman escreveu...

      O legal de Espelhos Distantes é que são histórias fechadas, que você consegue ler e entender mesmo sem acompanhar os arcos principais da série.

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