17 de maio de 2016
O Laboratório do Bode: Datação Geológica
Tyrannosaurus rex viveu entre 66 e 68 milhões de anos atrás. O
ancestral comum mais recente de todos os hominídeos viveu por volta de 14
milhões de anos atrás. O gênero Homo
(do qual fazemos parte) tem aproximadamente 2,8 milhões de idade. Mas vocês
sabem como esta informação é conhecida? Através de diversos métodos de datação.
Ironicamente, para fazer a
datação de um determinado material, usa-se muito mais química e física do que biologia
propriamente dita. Na verdade, biologia só entra bem no final disso. Para isto,
preciso explicar um pouco de isótopos. E o que são isótopos? Bem, cada elemento
químico é formado por três partes: prótons, elétrons e nêutrons, com cargas
positiva, negativa e neutra, respectivamente. O meio de classificar elemento
químico é o número de prótons e elétrons, com um número variável de nêutrons. O
número de prótons de um elemento define o seu número atômico, a sua posição na tabela periódica, enquanto o
número de nêutron somado ao número de
prótons define a massa atômica, que
pode ou não ser diferente do número atômico.
A esta diferença entre número e
massa atômico damos nome de isótopos, que podem ou não ser estáveis. Isótopos
estáveis não sofrem deterioração no decorrer do tempo, sendo o deutério (isótopo
do hidrogênio) um bom exemplo destes isótopos estáveis. Mas apenas o fato de
existirem isótopos estáveis indica
que existam aqueles instáveis também,
e é a realidade. Isótopos instáveis existem e, na verdade, são muito mais
comuns do que os estáveis. Estes isótopos sofrem degradação ao longo do tempo,
buscando uma forma estável, através da emissão de radiação, que pode se dar
através de duas formas: Emissão alfa (um núcleo de hélio), ou a emissão de um nêutron
ou pósitron. E, mais importante, isto acontece a uma taxa fixa e conhecida.
Cada elemento leva uma determinada quantidade de tempo para decair, e uma das
taxas mais usadas é a chamada meia vida,
ou o tempo para que um elemento decaia pela metade.
Ok, talvez não ESTA meia-vida... |
Como eu disse anteriormente, cada
elemento possui uma taxa de decaimento conhecida e, portanto, uma meia vida
também conhecida e que varia entre frações de segundo, minutos, horas, dias,
anos, séculos e assim por diante. Ao se comparar a proporção entre o isótopo
instável e o estável no material em questão, é possível estimar a idade do
material, atuando como, em uma comparação feita por Richard Dawkins, um
relógio. Porém, para que um relógio possa atuar efetivamente, é necessário
saber quando começar a contar o tempo, ou como zerar o relógio. Para rochas, o relógio é zerado quando a rocha é
formada, devido ao modo como as rochas se cristalizam e os isótopos se estruturam.
Assim sendo, é fácil de saber a
idade relativa de rochas. Através do uso de diversos elementos diferentes, tal
como urânio que decai para chumbo (através da ejeção de núcleos de hélio), é
possível medir diferentes períodos de tempo. Assim sendo, foi possível datar a
idade do próprio planeta Terra (4,54 bilhões de anos, aproximadamente) e definir
a duração das diversas eras geológicas. Por tabela, sabendo a idade da rocha, é
possível saber a idade de um fóssil contido nela. Porém, nem tudo pode ser
datado assim.
Quando se trata de material
orgânico, existe um método de datação bem específico, usando o carbono. Eis que
um isótopo específico de carbono, o carbono-14, é radioativo e sempre renovado
na atmosfera e constantemente absorvido por organismos a uma taxa constante, de
forma que em um organismo vivo, a quantidade de C-14 é praticamente indistinguível
daquela encontrada na atmosfera. Isto, em teoria, faria do C-14 um péssimo
método de datação, uma vez que não haveria como “zerar” o relógio, não é?
Bem, há uma maneira simples de
zerar este relógio, uma vez que o organismo não pode mais incorporar C-14 após
a morte. Assim sendo, ao comparar a proporção de C-14 no material orgânico e na
atmosfera é possível dizer a quanto tempo o organismo esteve vivo. Este pequeno
detalhe tornou possível grandes avanços em paleontologia e arqueologia. Agora
podemos saber a quanto tempo aquela múmia descoberta está preservada, ou quando
um fóssil começou a se formar.
Atualmente, estas técnicas de
datação são utilizadas em diversas áreas da ciência, com diversas aplicações e
repercussões. Biologia, geologia, arqueologia, paleontologia... Todas estas se
beneficiaram com o uso destas técnicas.
O Bode
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Sobre
Livros, viagens, filosofia de botequim e causos da carochinha: o Coruja em Teto de Zinco Quente foi criado para ser um depósito de ideias, opiniões, debates e resmungos sobre a vida, o universo e tudo o mais. Para saber mais, clique aqui.
Nenhum comentário:
Postar um comentário