17 de novembro de 2012
Do Gênesis ao Apocalipse: Eu sou a Lenda
Esse é o último livro que leio no projeto Do Gênesis ao Apocalipse. Isso porque o próximo número dessa coluna viria no dia 22 de dezembro e ou o mundo acaba dia 21 e não faz sentido deixar resenhas programadas para o dia seguinte, ou o mundo não acaba e a razão de existir dessa coluna se perde. Caso o mundo não termine (seja em fogo, seja em água, seja no espaço de tempo de um piscar de olhos), então escreverei uma postagem especial sobre a experiência que tive com esse espaço.
Passados esses detalhes, vamos ao que interessa: o Fim do Mundo!
Passei um bom tempo pensando em que tipo de livro escolher esse mês, sobre como eu via a possibilidade de fim, se eu pensava realmente num ponto final apocalíptico entre combates divinos, ou algo como um recomeço. Se era uma questão de religião ou de ciência. Se preferia um livro antigo, talvez até bíblico, ou algo mais pulp fiction com sangue e entranhas nas paredes.O que o levou a selar a casa, instalar o freezer, o gerador, um forno elétrico, um tanque de água, construir uma estufa, uma oficina, queimar as casas vizinhas, colecionar discos, livros, e montanhas de comida enlatada, e mesmo, parecia fantástico pensar nisso, até pendurar um mural na parede?
Seria a força da vida algo mais do que palavras, seria algo tangível, governando sua consciência? Como se a natureza, de alguma forma, o fizesse reagir a todas as adversidades?
Fechou os olhos. Porque pensar se não havia resposta?
Depois de muito olhar o que havia de disponível na estante, decidi por algo que ainda não tinha lido antes, mas que conhecia vagamente pela sinopse do filme que nele se inspirou (e que não assisti, mais por uma questão de falta de tempo que qualquer outra crítica). Matheson seria, com o seu já clássico Eu sou a Lenda.
De todas as possibilidade de ‘the end’ que eu podia ter na cabeça, curiosamente aquela que eu achava mais crível de acontecer foi a que serviu de mote para esse título. Não exatamente na parte dos vampiros/zumbis, veja bem. Mas a possibilidade de uma arma biológica saindo do controle, voltando-se contra a população, matando indiscriminadamente, sem cura – ou tempo para encontrar uma cura – lançando a sociedade no caos e histeria até que não restasse ninguém: sim, isso faz sentido pra mim.
Eu sou a Lenda é ambíguo nessa questão, até porque vemos a história se desenrolar pelo ponto de vista de Robert Neville, um sobrevivente aparentemente imune à doença que se espalhou por todo o mundo matando e depois fazendo os mortos se levantarem sedentos de sangue. Mas do que sabemos – houve uma guerra e depois vieram as tempestades de areia que traziam os esporos da bactéria que logo acabaria com a civilização – dá para inferir causa e efeito.
A narrativa é intensa; a solidão e absoluta falta de alternativas do protagonista, opressora. Ter esperança é apenas se sabotar para uma nova decepção. Por tudo o que Robert sabe, ele pode ser o último humano no mundo. Do que então adianta persistir? Sobreviver? Não há razão – não há razão para a praga, não há razão para os vampiros e não há razão por trás da continuidade de sua existência. Então por que continuar? Por que não se entregar aos vampiros que todas as noites rondam a casa e tentam provocá-lo a sair? Ou por que não enfiar de uma vez uma bala na cabeça?
A resposta talvez seja prosaica e dependerá de cada leitor. Não sei se teria a força de vontade – ou absoluta teimosia – de Neville. Entre as perdas dos entes queridos, a constante pressão do medo, a solidão e o tédio, não creio que seria capaz de resistir tanto quanto ele.
O final não é apenas surpreendente, mas também genial. Eu sou a Lenda é uma ficção científica de alto nível, que se desprende de muitas noções pré-concebidas do gênero ‘vampiros/zumbis/lobisomens/outras criaturas sobrenaturais’ que vemos hoje em dia e te acerta em cheio na cara. Para ler e reler, independente de crenças apocalípticas – é um livro para te fazer sentir, pensar e temer.
A Coruja
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