25 de setembro de 2012
Clube do Livro (setembro): Nas Montanhas da Loucura
O tema desse mês no Clube do Livro, proposto pela Boba da Corte, nossa querida Régis, foi insanidade - e a coisa foi toda insana do começo ao fim, porque tanto deu empate na votação dos livros indicados quanto na votação de desempate, de forma que terminou por ficar decidido que leríamos os dois ganhadores.Não era sangue, mas um fluido espesso de coloração verde-escura que parecia desempenhar o mesmo papel. Quando Lake chegou a este ponto, todos os 37 cães já estavam no canil ainda incompleto próximo ao acampamento, e mesmo a distância os animais começaram a latir furiosamente quando farejaram o odor acre e penetrante.
Agora, como já fiz aqui uma resenha de Storm Front, então dessa feita, vou tratar de Nas Montanhas da Loucura, do Lovecraft.
Esse livro já estava a algum tempo na minha lista. Já fizemos esse ano uma leitura lovecraftiana no Clube e não houve meio termo ou unanimidade no grupo - quem não amou, detestou, mas todos terminaram a experiência com emoções bem fortes...
Logo dos primeiros parágrafos, Lovecraft já dá o tom da história num estilo que lhe é muito próprio: você tem a narrativa em primeira pessoa, num formato quase epistolar e o uso de uma linguagem seca, exata, científica, que lhe dá a impressão de não estar tratando apenas com dados ficcionais.
Por essas questões de coincidências, logo na primeira página, quando ele fala "continente antártico", me lembrei de A Narrativa de Arthur Gordon Pym e assinalei a página para pesquisar se Poe se inspirara em Lovecraft para escrever seu único romance (até porque, quando li o Pym, ao final, eu só conseguia pensar em Cthulhu...).
Dé: Isso seria uma coisa interessante de se ver. Poe se inspirando em um cara que nasceu 40 anos depois da morte dele. =P
Algumas páginas adiante, porém, é o Lovecraft que faz menção a Poe - de forma que cheguei a conclusão que Poe é anterior e os tons de pesadelo que são sussurrados no final dessa noveleta talvez tenham sido os motores por trás da criação de Nas Montanhas da Loucura.
Conclusão final (cretina) da Lulu: Nas Montanhas da Loucura é uma fanfic de A Narrativa de Arthur Gordon Pym.
É no segundo capítulo que as coisas realmente começam a esquentar e aqui entra um recurso do Lovecraft que adoro: os personagens que contam as histórias de pesadelos dele, os narradores, na maior parte das vezes tiveram um contato apenas periférico com a verdadeira ameaça... e isso foi o suficiente para levá-los às raias da insanidade.
Dé: Esta é, provavelmente, uma das razões que o horror de Lovecraft é tão eficiente. Ele transmite seus próprios medos para suas obras. No caso específico de Nas Montanhas da Loucura, o medo que o autor tinha do frio foi um dos fatores que passam o clima da história.
Dos livros de Lovecraft que já li, Nas Montanhas da Loucura foi onde ele chegou mais perto de nos fazer confrontar com suas criaturas da infância do universo - mas mesmo se temos de relance os terríveis shoggoth, a impressão da ameba tentacular gigante (realmente não consigo pensar de outra forma...) perde espaço para o que quer que Danforth tenha visto para além das montanhas - um horror que era temido até mesmo pelos Antigos.
Arrisque-se por sua conta e risco... E tema por sua sanidade...
A Coruja
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Livros, viagens, filosofia de botequim e causos da carochinha: o Coruja em Teto de Zinco Quente foi criado para ser um depósito de ideias, opiniões, debates e resmungos sobre a vida, o universo e tudo o mais. Para saber mais, clique aqui.
Ah, Tio Love... ele usa para suas obras o recurso de apoio mais poderoso que existe: a imaginação do leitor! \o/
ResponderExcluirSim. Acho que essa é a parte mais fascinante do Lovecraft, a forma como ele é capaz de colocar o leitor a serviço da história, de deixar tudo apenas contornado e nos deixar terminar o serviço em nossas próprias cabeças. O cara tem de ser muito corajoso para não escrever tudo e assim ter absoluta certeza de que o leitor está entendendo as coisas 'como devem ser; tem de ser muito corajoso para deixar as coisas em aberto e mexer tanto com as nossas cabeças.
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