21 de fevereiro de 2012

Desafio Literário: Fevereiro - Nome Próprio || Orlando

Pois, uma vez que a doença da leitura se instale no organismo, enfraquece-o, tornando-o presa fácil desse outro flagelo que habita no tinteiro e apodrece na pena. O infeliz dedica-se a escrever.
Faz já algum tempo que eu estava querendo pegar alguma coisa da Virginia Woolf. Eu a conhecia dos ensaios e crítica literária (acho-a brilhante em O Leitor Comum e Um Teto Todo Seu) e de um romance curto e bem divertido - Flush, memória de um cão, que é simplesmente adorável.

Então surgiu o convite da Saraiva de ser moderadora do Clube do Livro deles e me pediram para indicar os títulos que eu gostaria de trabalhar na coleção de bolso - Orlando estava na lista e não hesitei em pegá-lo para ler (ainda por cima que cabia no tema do Desafio Literário).

Minha conclusão final é de que, embora o livro seja muito, muito bom, ele não se prestaria ao Clube do Livro num primeiro momento – é uma leitura densa, intensamente reflexiva e, ponto mais importante: não tem enredo.

Essa conclusão parece contraditória, não? Mas vou trocar em miúdos a história. O protagonista do livro, Orlando, começa como um rapazote nos tempos de Elizabeth I; lá pelas tantas, enquanto embaixador em Constantinopla, se transforma em mulher, avança no tempo, passa por toda a era vitoriana chegando até o século XX – e não existe explicação para essas mudanças ou a implícita imortalidade de Orlando.

Não há porque ou como ou quando. O que existe é um fluxo constante de consciência, um fluxo que nunca pára, nunca dorme, nunca descansa. Orlando está sempre pensando, refletindo, observando, e isso não muda com a troca de sexo ou o passar dos séculos. O que muda, para Orlando, é como o espírito da época o influencia, inquieta-o, em meio a sua maior constante numa existência inteira de inconstância: o desejo de escrever, de criar e, com isso, de se libertar.

Em todas as suas ‘encarnações’ é isso que Orlando procura. É com isso que ele sonha, é isso que deseja e é por isso que carrega sempre consigo, como um talismã junto ao peito, o poema em que trabalha quase que desde antes de a história começar.

Orlando não é uma leitura rápida, do tipo que você termina e depois vai passear. Em vez disso, é um livro que te prende à cadeira com o peso de suas implicações, mesmo muito depois de terminá-lo. É um livro que não te dá respostas prontas e que comportará muitas releituras de minha parte antes que se possa haver certezas e julgamentos.

Os riscos são altos. Não é todo mundo que tem paciência para um livro como Orlando. Mas, se você tiver coragem de se arriscar, tenha certeza: a recompensa será excepcional.

Nota: 5
(de 1 a 5, sendo: 1 – Péssimo; 2 – Ruim; 3 – Regular; 4 – Bom; 5 – Excelente)

Título: Orlando
Autor: Virginia Woolf
Tradutor: Laura Alves
Editora: Nova Fronteira/Saraiva
Ano: 2011
Número de Páginas: 234


A Coruja


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6 comentários:

  1. UAU!!! Se um livro é complexo pra você imagina pra nós reles mortais ignorantes...

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  2. Parece complexo mesmo, talvez por isso não seja um dos mais famosos da autora. Gostei de conhecer um pouco mais da história.
    bjo

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    1. A despeito de nem sempre ter uma prosa fácil, ele realmente vale à pena. Eu recomendo.

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  3. Adorei ler Orlando, e fiquei com vontade de comprar uma coleção de livros da Virginia Wolf. Me interesso muito por literatura escrita por mulheres.

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    1. Eu gosto muito dos ensaios da Virginia sobre literatura e sobre mulheres na literatura... sou louca para conseguir "O Leitor Comum"...

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