15 de agosto de 2011
Desafio Literário 2011: Agosto - Clássico da literatura brasileira || A Luneta Mágica
Chamo-me Simplício e tenho condições naturais ainda mais tristes do que o meu nome.
Nasci sob a influência de uma estrela maligna, nasci marcado com o selo do infortúnio.
Sou míope; pior do que isso, duplamente míope, míope física e moralmente.
Miopia física: — a duas polegadas de distância dos olhos não distingo um girassol de uma violeta.
E por isso ando na cidade e não vejo as casas.
Miopia moral: — sou sempre escravo das idéias dos outros; porque nunca pude ajustar duas idéias minhas.
De todos os livros que nos foram impostos nos tempos de segundo grau, o preferido – meu e de muitos colegas da época – era A Moreninha, de Joaquim Manuel de Macedo. É uma história gostosa de ler, extremamente charmosa com seus bailes e saraus, rapazes de casaca, flertes inocentes, promessas e filosofias de amor na linha de Don Juan de Marco.
Há, inclusive, um filme inspirado no livro, com Sonia Braga no papel principal, o qual perdi a conta de quantas vezes assisti e que sempre me faz querer sair cantando por aí “Paquetá, Paquetá...”.
Assim, como meu objetivo desse mês era fugir do óbvio (Machado, Alencar, Jorge Amado, Graciliano Ramos...), escolhi esse título mais obscuro para o Desafio Literário 2011 - e, por coincidência, pouco depois de tê-lo colocado na lista, ganhei o bendito num sorteio.
Comecei o livro cheio de expectativas... e lá pelas tantas, estava avançando quase que obrigada, só por teimosia mesmo, porque detesto começar um livro e largá-lo sem saber o final.
Na verdade, talvez se ele não fosse para o DL, eu teria pulado direto para o último capítulo... Mas persisti e dos persistentes será o reino dos céus (acho que estou confundindo alguma coisa aqui...).
A Luneta Mágica quer se reputar uma fábula moralista. Para tanto, serve-se de um protagonista “míope física e moralmente”, que recebe das mãos de um mago armênio (??) lunetas que permitem enxergar a essência de todas as coisas e pessoas (???!) – sucessivamente, uma que lhe dá a visão apenas do mal, outra que lhe dá a visão apenas do bem e a terceira que lhe proporciona a visão do bom senso.
*Por que cargas d’água um armênio? E por que lunetas? Eu sou míope e não enxergo um palmo adiante do nariz e certamente não gostaria de lunetas. Não são práticas. Porque não pelo menos um pince-nez? Isso não tem lógica...*
Assim, Simplício, que, além de cego, é puro de coração – reproduzindo a idéia de que a ignorância se equivale à inocência – enxerga primeiro apenas vaidade, ambição e egoísmo, depois apenas nobreza, amor e desprendimento, até que se alcance um equilíbrio.
Esse equilíbrio, porém, não é encontrado a partir das experiências pelas quais passa Simplício. Basicamente, ele não muda, sendo apenas levado por aquilo que cada luneta lhe mostra, sem nunca tirar uma lição de nada disso.
Por si só, o livro já é enfadonho. Mas ao elaborar uma teoria de moralismo que não se sustenta pelo aprendizado e aperfeiçoamento, mas pela ignorância do protagonista apoiado nas ‘muletas’ que são suas lunetas – e que se enxerga, em vários momentos, como Eva sendo tentada no Paraíso – ele me decepcionou muito.
Preferia ter continuado com os saraus românticos e moças casadoiras...
Nota: 2
(de 1 a 5, sendo: 1 – Péssimo; 2 – Ruim; 3 – Regular; 4 – Bom; 5 – Excelente)
Ficha Bibliográfica
Título: A Luneta Mágica
Autor: Joaquim Manuel de Macedo
Editora: Martin Claret
Ano: 2006
Número de páginas: 189
A Coruja
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Sobre
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"Por si só, o livro já é enfadonho." Adorei isso! Gostei de sua resenha, esse é o tipo de livro que só quem vai ler são os estudiosos de Macedo,rs
ResponderExcluirbjs
Jussara
Carambolas eu tinha alta atração por este livro por causa do título, mas ai vem dona Lu e me joga na cara que o livro reproduz a idéia de que a ignorância se equivale à inocência e acaba com todas as minhas ilusões deste ser um livro super super. Risquei da lista sem dó nem piedade ;)
ResponderExcluirestrelinhas coloridas...
Pelo título, eu arriscaria. Mas, sendo o que é pelo o que você relatou, acho que vou me abster. Beijocas
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