14 de maio de 2009
Reformas, reformas... - Parte I
Quando estava voltando do calçadão hoje (que estava cheia de uns tipos estranhos), parei numa das banquinhas de água de coco. Enquanto bebia, dei uma olhada nas manchetes dos jornais que havia por ali e a primeira coisa que saltava aos olhos era uma manchete sobre a confusão do novo ENEM.
Enquanto lia sobre a reforma do sistema vestibular, com uma gramática que recentemente passou por uma reforma ortográfica, pensei nas notícias que tinha assistido na noite anterior, sobre os projetos de lei 4.006 de 2008, que quer reformar o código florestal e 6.264 de 2005, que institui o chamado Estatuto da Igualdade Racial.
Apesar de não parecer, existe uma questão em comum em todos esses extremos reformistas e chegarei a ela mais tarde. E, sim, se você é a favor dessas reformas, talvez não vá gostar muito do que virá a seguir, mais, bem, é minha opinião, meu blog e eu posso falar o que bem entender aqui.
Então, como diria Jack, o estripador... vamos por partes.
1) A Reforma Ortográfica
A língua de um povo faz parte de seu patrimônio cultural. Não é algo material, mas que evolui com a sociedade, com a entrada de novos grupos étnicos. A língua brasileira é uma mistura do português, com o tupi (e outras línguas indígenas) e vários dialetos africanos e, em cada Estado da federação, ganha outras peculiaridades por conta dos ciclos de imigração.
Querer nivelar por baixo nossa língua para que ela possa estar em "harmonia" com os outros países que falar português não é apenas um desrespeito a cultura e história do nosso povo, mas também, e com o perdão da palavra, uma burrice.
Se fosse assim tão fácil planejar, reformar uma língua; se é para todo mundo falar do mesmo jeito, então há muito era para o esperanto estar no currículo de todo o mundo. Já tivemos mais de 120 anos para aprender aquela que seria a "língua universal" e, contudo, ela ainda hoje permanece uma curiosidade.
Aqui entre nós, eu prefiro aprender quenya.
O Brasil é considerado um país de analfabetos funcionais. Considerando que já é complicado pessoas que passaram dez, doze anos na escola escreverem em português correto, o que acontecerá agora que elas têm de reaprender o que não aprenderam direito antes?
Não estou falando aqui dos alunos de escolas públicas, para quem nosso pensamento imediatamente se volta quando se fala em deficiências na educação; dou o exemplo da escola que estudei, que era considerada uma das melhores do Recife, onde no terceiro ano, uma colega pediu que eu desse uma olhada em sua redação.
Ora, uma pessoa que chegou ao terceiro ano e pretende fazer vestibular, é de se esperar que tenha um mínimo de conhecimento da escrita. Que domine não apenas sintaxe, ortografia e gramática, como tenha algum estilo, alguma coesão, alguma capacidade de argumento.
Caza. Casa com z. Casa, habitação, moradia. Com z. No terceiro ano de uma escola particular. Não consegui passar do primeiro parágrafo.
Isso para não falar dos exemplos que vi na faculdade. Direito na federal é um dos cursos mais concorridos. Era de se esperar que um estudante de direito soubesse, no mínimo, escrever.
Qual a lógica de uma reforma ortográfica que iguale nossa língua ao modo como falam em Angola? Timor Leste? Seriam interesses econômicos? Afinal, a economia, o dinheiro é que rege o mundo.
Mas, se fosse assim, não seria mais lógico investirmos no inglês e espanhol? Estados Unidos, Espanha, França, Holanda, são apenas alguns dos maiores investidores estrangeiros em nosso país. E, se for uma questão de olhar para o futuro brilhante - para usar um clichê bastante ridículo - não deveríamos então estar fazendo fila nos cursinhos de mandarim?
Existe algum motivo lógico para essa reforma ortográfica? Não, não falo de ideologias, mas de lógica, simplesmente lógica. Qual o acréscimo, os ganhos que temos dessa reforma? Que afinidades tão grandes temos com Guiné-Bissau e São Tomé e Príncipe? Ainda que se argumente de sermos nações irmãs a Portugal, vocês viram os portugueses sendo a favor da reforma?
Há qualquer coisa de podre no reino da Dinamarca...
Continua...
Enquanto lia sobre a reforma do sistema vestibular, com uma gramática que recentemente passou por uma reforma ortográfica, pensei nas notícias que tinha assistido na noite anterior, sobre os projetos de lei 4.006 de 2008, que quer reformar o código florestal e 6.264 de 2005, que institui o chamado Estatuto da Igualdade Racial.
Apesar de não parecer, existe uma questão em comum em todos esses extremos reformistas e chegarei a ela mais tarde. E, sim, se você é a favor dessas reformas, talvez não vá gostar muito do que virá a seguir, mais, bem, é minha opinião, meu blog e eu posso falar o que bem entender aqui.
Então, como diria Jack, o estripador... vamos por partes.
1) A Reforma Ortográfica
A língua de um povo faz parte de seu patrimônio cultural. Não é algo material, mas que evolui com a sociedade, com a entrada de novos grupos étnicos. A língua brasileira é uma mistura do português, com o tupi (e outras línguas indígenas) e vários dialetos africanos e, em cada Estado da federação, ganha outras peculiaridades por conta dos ciclos de imigração.
Querer nivelar por baixo nossa língua para que ela possa estar em "harmonia" com os outros países que falar português não é apenas um desrespeito a cultura e história do nosso povo, mas também, e com o perdão da palavra, uma burrice.
Se fosse assim tão fácil planejar, reformar uma língua; se é para todo mundo falar do mesmo jeito, então há muito era para o esperanto estar no currículo de todo o mundo. Já tivemos mais de 120 anos para aprender aquela que seria a "língua universal" e, contudo, ela ainda hoje permanece uma curiosidade.
Aqui entre nós, eu prefiro aprender quenya.
O Brasil é considerado um país de analfabetos funcionais. Considerando que já é complicado pessoas que passaram dez, doze anos na escola escreverem em português correto, o que acontecerá agora que elas têm de reaprender o que não aprenderam direito antes?
Não estou falando aqui dos alunos de escolas públicas, para quem nosso pensamento imediatamente se volta quando se fala em deficiências na educação; dou o exemplo da escola que estudei, que era considerada uma das melhores do Recife, onde no terceiro ano, uma colega pediu que eu desse uma olhada em sua redação.
Ora, uma pessoa que chegou ao terceiro ano e pretende fazer vestibular, é de se esperar que tenha um mínimo de conhecimento da escrita. Que domine não apenas sintaxe, ortografia e gramática, como tenha algum estilo, alguma coesão, alguma capacidade de argumento.
Caza. Casa com z. Casa, habitação, moradia. Com z. No terceiro ano de uma escola particular. Não consegui passar do primeiro parágrafo.
Isso para não falar dos exemplos que vi na faculdade. Direito na federal é um dos cursos mais concorridos. Era de se esperar que um estudante de direito soubesse, no mínimo, escrever.
Qual a lógica de uma reforma ortográfica que iguale nossa língua ao modo como falam em Angola? Timor Leste? Seriam interesses econômicos? Afinal, a economia, o dinheiro é que rege o mundo.
Mas, se fosse assim, não seria mais lógico investirmos no inglês e espanhol? Estados Unidos, Espanha, França, Holanda, são apenas alguns dos maiores investidores estrangeiros em nosso país. E, se for uma questão de olhar para o futuro brilhante - para usar um clichê bastante ridículo - não deveríamos então estar fazendo fila nos cursinhos de mandarim?
Existe algum motivo lógico para essa reforma ortográfica? Não, não falo de ideologias, mas de lógica, simplesmente lógica. Qual o acréscimo, os ganhos que temos dessa reforma? Que afinidades tão grandes temos com Guiné-Bissau e São Tomé e Príncipe? Ainda que se argumente de sermos nações irmãs a Portugal, vocês viram os portugueses sendo a favor da reforma?
Há qualquer coisa de podre no reino da Dinamarca...
Continua...
A Coruja
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Sobre
Livros, viagens, filosofia de botequim e causos da carochinha: o Coruja em Teto de Zinco Quente foi criado para ser um depósito de ideias, opiniões, debates e resmungos sobre a vida, o universo e tudo o mais. Para saber mais, clique aqui.
Como eu já disse por aí, essa reforma é uma estupidez, porque enquanto nós prosseguiremos olhando as vitrines, os portugueses ainda estarão a olhar as montras... Uma falta de respeito essa reforma com as particularidades de cada povo!
ResponderExcluirAqui deste lado (Portugal) também tentaram implementar um acordo. Conseguiram foi que as pessoas reclamassem porque não mudariam "óptimo" para "ótimo" nem que a vaca tussisse. E olha que isto aqui também é bastantemente povoado de analfabetos funcionais.
ResponderExcluirEu cá prefiro manter tudo como estava antes. Português é português, brasileiro é brasileiro, cada um com as suas características.