7 de setembro de 2009
Terry Pratchett (Parte III) - O primo do vizinho do amigo do irmão...
Cheguei de viagem, pessoas! Consegui avançar nessa cruzada de escrever sobre Pratchett enquanto estava em Gravatá, mas, muito provavelmente, novas partes só semana que vem. Essa semana estou inundada de trabalho, tenho a prova da OAB no domingo e quarta é MEU ANIVERSÁRIO!!!! AEWWWWWWWWWWWWW!!!
Ok, sem mais delongas que ninguém veio aqui para saber do meu aniversário... ou da porcaria do meu celular que enlouqueceu e vou ter de trocar o número (na véspera do meu aniversário é triste!).
Fazer uma lista de personagens do Discworld é algo como a tarefa de Sísifo no mito: uma verdadeira história sem fim. Não que eles sejam inumeráveis, mas porque escrever sobre cada um deles com todos os detalhes dignos de suas biografias – além de algumas expectativas e suspeitas – certamente daria alguns tantos volumes.
Além disso, qual é realmente a graça de mastigar tudo para vocês quando é muito mais interessante que vocês leiam e descubram por si mesmos todos esses detalhes intrigantes que fazem os personagens de Pratchett tão... bem, personagens de Pratchett.
De toda forma, vou falar sobre alguns dos personagens, nem que seja a título de curiosidade – a propaganda é a alma do negócio e se eu fizer propaganda o suficiente, conseguirei mais leitores viciados em Pratchett para discutir comigo. Fiz a coisa toda de cabeça - sem internet para pesquisar e sem os livros fisicamente comigo para xeretar.
Tenham em mente que o rol a seguir não é exaustivo (ou, como dizemos no Direito, numerus clausus e eu tenho de parar de pensar em latinismos) e peço antecipadamente desculpas àqueles que, sendo fãs de Pratchett, não encontrem na lista seu personagem favorito. Acabei por colocar mais os personagens dos livros que já saíram em português, mas volta e meia, pode ser que eu me saia com uma citação a livros ainda não lançados por aqui.
Por sinal, alguém sabe quando a Conrad vai tomar vergonha na cara e lançar Small Gods? Ele era o próximo da lista, não é? Tenho quase certeza, quase certeza...
Mas vamos ao que interessa!
A Universidade Invisível
Talvez pelo fato de Rincewind ter sido o primeiro grande personagem de Discworld com quem eu tenha tido contato, ele é sempre o primeiro em minha mente quando penso em Pratchett.
Mas antes que eu fale de Rincewind, é melhor que eu explique o que é a Universidade Invisível. O que, aliás, me faz lembrar que foi lançado (ou, ao menos, já está em pré-venda) agora em setembro o novo livro da série, Unseen Academicals, em que os magos da Universidade Invisível decidem jogar futebol.
Em todo caso... A Universidade Invisível é o lugar onde os magos vão para aprender magia. E, não, ela não é invisível. Fica plantada em Ankh-Morpork, a maior cidade do Disco e, possivelmente, a mais mal-cheirosa também.
A Universidade – e o mundo dos magos – é comandada por uma espécie de “confraria” de oito magos (o número oito é conhecido como o número mais mágico do Disco), em que temos como líder máximo o Arqui-chanceler.
Muitos personagens passaram pelo papel de Arqui-chanceler, um cargo de extremo poder, cujos ocupantes geralmente duram pouquíssimo tempo, morrendo, normalmente, por causas bastante violentas.
Em todo caso... alguns dos magos que se destacam e que posso me lembrar de cabeça aqui são, obviamente, Rincewind, em cuja cabeça se refugiou um dos Oito grandes feitiços, foi expulso da Universidade, virou herói, foi readmitido, sumiu no Calabouço das Dimensões, foi invocado como um demônio pelo único demonólogo do Disco, virou herói de novo, e está sempre às voltas com Morte, que tem uma particular simpatia por esta criatura que está sempre e sempre a escapar de sua foice.
Se houver uma maneira de fugir de uma enrascada, Rincewind há de encontrá-la. E, se não houver, pode ter certeza de que, ainda assim, ele conseguirá fugir. Rincewind é, muito simplesmente, um especialista em fugas.
E, claro, não podemos esquecer da Bagagem, presente que Rincewind recebeu de Duasflor – o primeiro turista do Disco – feita com madeira de pereira sábia. Ela é, muito provavelmente, o acessório mais homicida do mundo. E tem pernas. Centenas, milhares de perninhas. Como uma centopéia.
Há outros dois magos que estão na minha lista de favoritos, pelos quais tenho um particular apreço: Windle Poons, o matusalém de O Senhor da Foice que tenta, de todas as formas, morrer (situações altamente bizarras em que o pobre se mete...) e, por último, mas não o menos importante (definitivamente), o Bibliotecário.
Se você não sabe quem é o Bibliotecário... bem, imagine um orogotango de dois metros de altura. Um orogotango extremamente inteligente, que conhece sua biblioteca com a palma de suas patas, sabe caminhar pelo Espaço-L sem se perder, é membro honorário da Guarda Municipal... E sempre lhe responderá qualquer coisa com um “Ook”.
Este é o Bibliotecário. Ele era humano, mas por conta de um acidente envolvendo o Oitavo (o livro mais mágico de todos os livros mágicos do Disco) e Rincewind, terminou por se transformar em outra espécie de primata e desde então resistiu a todas as tentativas de trazê-lo a sua forma original.
Oook!
Estranhas irmãs, estranha confraria
Os livros estrelados pelas bruxas são, sem dúvida alguma, meus favoritos. Tudo começou, é claro, com Vovó Cera do Tempo, com Eskarina a tiracolo, desafiando o machismo da Universidade Invisível.
Mais tarde, Vovó Cera do Tempo estava de volta numa tríade formada ainda por Tia Ogg e Magrat em Estranhas Irmãs, numa paródia do trio de bruxas que prevê a ascensão e queda de Macbeth.
Coisas que você precisa saber sobre essas três:
1. Vovó Cera do Tempo é a irmã boa, ainda que sua irmã Lily seja a fada-madrinha. Tecnicamente, ela não gosta muito do título.
2. Apesar de não parecer, Vovó Cera do Tempo é, muito provavelmente, a mais poderosa bruxa da época em toda a Ramtops. E, ainda que bruxas não gostem muito de coisas como hierarquia, se há uma líder entre as bruxas, essa será Vovó Cera do Tempo.
3. Tia Ogg tem o mais incrível repertório musical já ouvido no Disco. Além disso, de uma forma ou de outra, parece que todo mundo nas Ramtops tem alguma espécie de parentesco com essa poderosa e admirável senhora.
4. O mascote das bruxas – ou de Tia Ogg, para ser exata – é Greebo, um adorável gatinho, muito doce e delicado. Ao menos, na visão de sua dona. Para o resto do mundo, Greebo é a cria de satã.
5. Magrat é o arquétipo de bruxa wicca – se o chapéu faz uma bruxa, Magrat não é apenas chapéu, mas também anéis, correntes, pulseiras, sabás à meia noite e tudo o que há de mais clichê no assunto. Mais tarde na história, Magrat se tornará rainha.
Há várias outras bruxas com posições importantes nas histórias do Disco... Após o casamento da Magrat, assume a posição de "Donzela" do trio (não sei se vocês conhecem a divisão dos arquétipos da tripla Deusa - 'Crone', 'Mother' e 'Maiden') Agnes Nitt, que sofre de desordem de múltiplas personalidades (huahuahua...) e que, ao que me parece, tem um certo parentesco com Agnes Nutter, de Belas Maldições.
E tem ainda Vovó Aching... e Tiffany Aching, que além de bruxa, tem uma certa... amizade com os Nac Mac Feegle (são uma espécie de elfo... mas, por conta de parentescos escoceses e alemães, não sei se eles estão mais para elfos ou para brownies... se bem que brownies não vivem exatamente em famílias... mas os elfos originais gostam de comer crianças... e nessa história de burcar a etimologia mitológica eu já, já estou no samba do crioulo doido com o Ponte Preta).
Ah, vão s'embora ler, vão... Aliás, se quiserem saber mais sobre bruxas, cabeçologia e a Tiffany, há um post em Coisas Geek de um Hobbit Inútil. Recomendado!
A vida em Ankh-Morpork
Há, provavelmente, muito a dizer sobre Ankh-Morpork, a maior cidade do Disco. Ao longo dos anos, ela foi conquistada muitas vezes, recebendo seus conquistadores de braços abertos que, quando percebiam, já tinham perdido todo o dinheiro que tinham nas tavernas e de uma forma ou de outra, se incorporado à população habitual da cidade.
Ankh-Morpork possui uma organização burocrática admirável – em muitos aspectos, graças ao gênio de seu Patrício, Lorde Vetinari. Todas as profissões estão divididas em guildas – incluindo aí a Guilda dos Assassinos e a Guilda dos Ladrões.
Caso visite Ankh-Morpork algum dia, após observar os pontos turísticos mais importantes e ter presenciado ao menos uma briga de taverna, não se esqueça de experimentar as salsichas de Dibbler “Cavando- a-própria-Cova”.
Com sorte, você sobreviverá à intoxicação alimentar. E talvez até haja alguns legítimos pedaços de porco em sua aquisição. Quem sabe?
Você poderá também mandar cartas ou resolver seus problemas financeiros com Moist Von Lipwig, ex-criminoso profissional.
E, claro, como eu poderia esquecer da Guarda? Capitão Vimes é um dos meus personagens favoritos, com seu problema de ser um pouco... sóbrio demais. Vigilantes e protetores da cidade *ahan*, temos ainda o guarda Cenoura (o verdadeiro herdeiro da coroa), Cabo Nobbs (que tem de andar com uma carteira confirmando sua espécie) e Sargento Colon (eu não imagino de onde tenha vindo o nome...)
Um mundo com ausência de cor
Por força do poder da crença, alguns conceitos abstratos acabam por tomar formas antropomórficas... tal como Morte.
Morte é um personagem interessante. Por mais de uma vez, ele acabou se envolvendo com humanos, tomando parte não apenas de suas vidas, como também de suas histórias. Não apenas Morte sente uma certa empatia com a raça humana como também está meio que cercado de humanos em seus domínios...
Primeiro, temos Albert, o fundador da Universidade Invisível e, uma vez, muito tempo atrás, o maior mago do Disco. Por diversos motivos – entre os quais o medo de morrer – Albert acabou indo parar no mundo de Morte – onde o tempo não passa -, onde tomou para si a tarefa de cozinheiro e cuidados com a casa em geral.
Depois, temos Ysabell, filha adotada de Morte, que passou décadas com 16 anos, até que Morte adotou um aprendiz, Mort. Ysabell e Mort se apaixonaram, deixaram os domínios de Morte e tiveram uma filha, Susan, que é, sem dúvida, uma das personagens mais interessantes da série.
Ok, já falei um bocado dos personagens, entreguei alguns detalhes, mas espero ao menos ter aguçado o suficiente a curiosidade de vocês para que procurem ler os livros.
Aproveitando o ensejo, vou dividir com vocês algumas coisas que encontrei enquanto pesquisava para escrever esses artigos. Terry Pratchett escreveu algumas histórias curtas que foram disponibilizadas na internet. Há algumas em português, outras só são encontradas em inglês, mas, de uma forma ou de outra, esse é um belo quitute para quem quer que esteja me lendo – tanto aqueles que já conhecem quanto aqueles que vão entrar no mundo criado por Pratchett agora.
Então, vamos lá...
Teatro da Crueldade
A Morte e O Que Vem a Seguir
A Collegiate Casting-Out of Devilish Devices
Troll Bridge
Tive crises de riso especialmente com Devilish Devices. De alguma forma, a coisa me pareceu inteiramente atual e crível... leiam lá para entender... E o filósofo discutindo com Morte sobre a teoria da mutliplicidade dos universos... MUITO BOM.
Mas, bem, por hoje é só. Mas ainda não acabamos, não...
(Continua em Quantos Anjos Podem Dançar Numa Cabeça de Alfinete?)
editado - links corrigidos (toda vez o blogger faz isso com meus links... que coisa ¬¬)
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Sobre
Livros, viagens, filosofia de botequim e causos da carochinha: o Coruja em Teto de Zinco Quente foi criado para ser um depósito de ideias, opiniões, debates e resmungos sobre a vida, o universo e tudo o mais. Para saber mais, clique aqui.
Muito bom, muito bom! Uma confissão: eu ainda não li "A Luz Fantástica" e nem "Eric"...heresia, eu sei, mas ali da Universidade Invisível eu sou fã mesmo é do Munstrum Ridcully. E as bruxas...ah, as bruxas são demais, já disse o quanto adoro elas. E nunca havia reparado nas duas Agnes...e me fez lembrar da Anathema Device! E a Morte...dá pra escrever todo um tratado sobre ele e suas dúvidas existenciais. Sobre a etimologia dos Nac Mac Feegle, chame-os do que quiser, mas não perto deles. No livro eles fazem uma piada sobre alguém que chama eles de "pixies" e se dá mal...os Nac Mac se referem a eles mesmos como "pictsies", que eu imagino que tenha a ver com os as tribos pictos. Mas chega de teorias, vou lá ler as histórias que você linkou. A propósito, já leu "The Sea and the little fishes"? http://www.esnips.com/doc/4c7c2b41-c240-4e07-97fd-3b447f0ab764/The%20Sea%20And%20Little%20Fishes
ResponderExcluirEstou ralmente morrendo de vontade de ler esses livros todos, mas infelizmente só ano que vem, vestibular chegando, não dá tempo v.v Mas vou ler as histórias que vc linkou, o problema é que 'Teatro da Crueldade' e 'A Collegiate Casting-Out of Devilish Devices' não abriu... deu erro ou sei lá... snif...
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