1 de março de 2016
Para ler: Caçadores de Trolls
A primeira coisa que me chamou a atenção nesse livro foi o nome de um dos autores: eu gosto pra caramba da estética do Del Toro – sendo particularmente apaixonada pelas criaturas de O Labirinto do Fauno. Por um golpe de sorte, embora o livro seja um lançamento até bastante recente, encontrei-o disponível para troca no Skoob e ele já estava a caminho para mim quando li a notícia de que a história seria adaptada para uma série da Netflix com a DreamWorks Animation.Os trolls existem nesse planeta há tanto tempo quanto os humanos - foi isso que me contaram e que traduzi para Bola. Historicamente, a primeira menção a eles foi registrada na Noruega, no século IX, quando as nefastas criaturas começaram a aparecer em canções, versos populares e histórias que eram contadas às crianças malcomportadas para mantê-las na linha. Segundo o folclore nórdico, os trolls estão entre os Seres das Trevas, as mais puras personificações do mal. Eles correm por entre os dedos dos pés de Ymir, o mítico gigante do gelo de seis cabeças cujo corpo assassinado deu origem ao universo em que vivemos: os ossos viraram as montanhas; os dentes, as rochas; e assim por diante."
E assim foi que no meu ‘retiro literário carnavalesco’, Caçadores de Trolls sequer chegou a entrar na estante, saindo da caixa do correio direto para a pilha em minha cabeceira.
Confesso que num primeiro momento, logo que comecei a ler, quase tirei o livro da fila para dar lugar a outra prioridade, não fosse o mistério da ‘epidemia de caixas de leite’ que surge no prólogo. As cinquenta primeiras páginas são bastante previsíveis com um protagonista que não consegue se adequar na escola, sofre com bullying por parte da turma popular do colégio... e é um claro candidato à jornada do herói. Até peça de teatro tem pelo meio e fiquei na expectativa do momento em que Jim irromperia em alguma melodia pop chiclete e tudo se revelasse um musical adolescente.
Então temos nosso primeiro vislumbre do mundo dos trolls... Ou melhor, vislumbre não, porque Jim cai sem qualquer sutileza no meio de um mercado do Mundo Inferior e cria uma confusão de proporções quase épicas.
As criaturas que Jim encontra em sua ‘visita’ – ou melhor dizendo, sequestro – têm uma aparência bastante lovecraftiana, e podem ser bastante inteligentes. O que é curioso, porque estupidez é uma característica que costuma identificar trolls, como Bilbo Bolseiro bem poderia atestar.
Mais que isso, elas têm História. O livro já tinha me fisgado quando Jim é arrastado pelo alçapão sob sua cama, mas é no momento que Pisca-pisca, o troll tentacular que é um dos responsáveis pelo sequestro do nosso relutante herói, começa a contar a história dos trolls e sua relação com o folclore humano (e as pontes! Sempre as pontes!), caí de amores.
Caçadores de Trolls não é terrivelmente diferente de outras séries de adolescentes heroicos sobre os ombros dos quais repousam o destino do mundo. O roteiro segue quase palavra por palavra o roteiro da “Jornada do Herói” de Campbell. Mas ele compensa pela construção de mundo – uma construção que deve ser aprofundada, visto que esse é o primeiro volume de uma série.
Aliás, ganha pontos comigo também pelo fato de que embora se trate de uma série, a história do primeiro volume se basta, não é necessário esperar pelo próximo para saber o que acontecerá a seguir.
O livro tem personagens e cenários saídos de pesadelos, mas o humor onipresente o torna uma leitura até bastante leve, o que faz bastante sentido, considerando a audiência para a qual ele é voltado.
Por fim, merece destaque o projeto gráfico: o livro é visualmente muito bonito, da capa, às ilustrações que permeiam a obra. É daqueles volumes que dá até gosto ter na estante. Previsível, mas divertido, é um bom sessão da tarde.
Nota:
(de 1 a 5, sendo: 1 – Não Gostei; 2 – Mais ou Menos; 3 – Gostei; 4 – Gostei muito; 5 – Excelente)
Ficha Bibliográfica
Título: Os Caçadores de Trolls
Autor: Guillermo Del Toro e Daniel Kraus
Tradução: Edmundo Barreiros
Ilustrações: Sean Murray
Editora: Intrínseca
Ano: 2015
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