31 de janeiro de 2016

1 Ano, 365 Contos - Janeiro


Quando falei do Desafio Corujesco de 2016, escrevi que também me proporia um segundo desafio durante esse ano, no qual eu leria um conto todo dia e manteria um diário dessas leituras. A ideia é que não se passasse um dia desse ano sem ler alguma coisa – e não, não estou colocando nesse “alguma coisa” processos do escritório, bulas de remédio e outras eventualidades.

Janeiro foi um mês... complicado. Perdi um amigo extremamente querido e houve dias em que só tinha vontade de ficar na cama olhando para a parede. Mas por mais que precisemos passar pelo período de luto, deixar-se afundar na tristeza também não é o mais recomendável.

Assim é que continuei a ler – até porque, o gosto pelos livros era uma das paixões que eu compartilhava com Duda. E, a despeito de tudo, consegui cumprir meu primeiro mês do 1 Ano, 365 Contos. E assim é que seguem para vocês os meus primeiros registros diários do projeto. Comprei até uma agenda especialmente para escrever minhas resenhas!


(Ainda estou decidindo a melhor formato para o diário, então aceito sugestões).

1 Ano, 365 Contos: Janeiro

Dia 01 – 09h36
Troll Bridge de Terry Pratchett. Lido na coletânea A Blink of the Screen. 20 páginas, 12 min.

É óbvio que eu não poderia deixar de começar o ano lendo Pratchett – afinal, essa tem sido uma longa tradição, que pretendo manter por ainda muito tempo. Li antes mesmo de levantar da cama, antes de ver qualquer mensagem que tenham me mandado da hora que cheguei em casa da festa de Ano pra agora.

Troll Bridge talvez seja o conto mais famoso de PTerry – se não me falha a memória, existe inclusive um curta feito por fãs inspirado nele. Foi publicado pela primeira vez em 1992, na antologia After the King, escrita em homenagem ao Tolkien.

Reencontramos aqui Cohen, o Bárbaro, o mais famoso herói do Disco. Cohen quer enfrentar um troll sob a ponte, em memória de uma época que há muito já se foi. Talvez seja uma missão suicida, uma última tentativa de se provar – ir embora com uma explosão em vez de um suspiro.
“Um dia, você vai morrer,” disse o cavalo. “Pode ser que aconteça hoje.”

“Eu sei. Por que você acha que eu vim até aqui?”
Mas o que termina por acontecer é que ele encontra um companheiro de reminiscências, com quem lembra daquela época em que o mundo ainda era selvagem e inexplorado – quando havia algo pelo que lutar, pelo que acreditar.

Li o conto na edição em ebook de A Blink of the Screen, que vem com breves comentários do Pratchett sobre as histórias e fiquei com essa frase na cabeça:
“Você luta uma guerra para mudar o mundo, e então muda o mundo em um lugar que não tem espaço para você. Aqueles que lutam pelo brilhante futuro nem sempre são, por sua natureza, capazes de viver nele”.
Para fazer pensar. Tinha de ser o Pratchett, não?

Dia 02 – 08h05
Troll Bridge de Neil Gaiman. Lido na coletânea Smoke and Mirrors, traduzida no Brasil como Fumaça e Ilusões. 12 páginas, 11 min.

Não consegui resistir a fazer o paralelo: escolhi esse conto do Gaiman por ter ele o mesmo título do conto do Pratchett que li ontem. Nos dois há trolls sob a ponte esperando por um incauto, e então ocorre um encontro onde há mais melancolia que terror monstruoso.

Na minha opinião, esse é um dos melhores contos do Gaiman e me surpreendi quando tirei o livro da estante para encontrá-lo e dei-me conta de que ele era tão curtinho: na minha memória, ele era enorme, talvez porque tanto tempo se passa entre o início e o fim da história.

A história segue o narrador em três encontros com o troll – na infância, sua inocência e confiança nos contos de fadas o levam a enfrentar a criatura e fechar um acordo; na adolescência, é seu egoísmo e covardia que o salvam. Adulto, a desesperança e resignação que o guiam. Conciso e brilhante. Soube que vai se tornar uma graphic novel esse ano.

Dia 03 – 07h29
Dagon de H. P. Lovecraft. Lido na coletânea Os Melhores Contos de H. P. Lovecraft. 5 páginas, 9 min.

Nada como começar o dia com imagens horripilantes e descrições de fedor de peixe em decomposição. Sério, isso é excelente para abrir o apetite para o café da manhã, Lulu...

Enfim... Em Dagon, Lovecraft condensa vários dos elementos que o tornaram célebre – o terror mais sugerido que descrito, terror esse ligado ao mar e ilhas misteriosas, terror que leva o narrado à loucura. Há aqui o vislumbre de uma sociedade marinha (e devo dizer que a versão lovecraftiana de ‘sereias’ não é nem um pouco sedutora), que cultura alguma criatura ainda mais monstruosa nas abissais profundezas.

A desesperança do narrador alimenta a certeza de que algo está vindo em direção à humanidade e, quando chegar, estaremos ridiculamente despreparados...

Dia 04 – 16h51
O Navio Branco de H. P. Lovecraft. Lido na coletânea Os Melhores Contos de H. P. Lovecraft. 6 páginas, 6 min.

Hoje terminou o recesso e no corre-corre para aprontar as coisas para sair para o escritório, não tomei meu desjejum literário. Em vez disso, estou lendo meu conto diário ao chá da tarde.

O Navio Branco me soou diferente do que conheço de Lovecraft – a história começou me fazendo lembrar da lenda do Holandês Voador, mas a cada ilha visitada eu ia me lembrando mais e mais de Viagem do Peregrino da Alvorada.

Há algo de muito poético nesse conto, repleto de imagens simbólicas: o navio branco, a ave cerúlea, o velho homem barbado e as cidades que representam sonhos e desejos humanos. Claro que quando chegamos à borda do mundo, não pude deixar de me perguntar se por um acaso tínhamos feito uma curva no meio do espaço-tempo e ido parar em Discworld...

Não há nenhum dos Antigos aqui, mas uma Queda da Graça causada pela avareza e arrogância do narrador. Belo conto, surpreendeu-me.

Dia 05 – 18h13
Os Gatos de Ulthar de H. P. Lovecraft. Lido na coletânea Os Melhores Contos de H. P. Lovecraft. 4 páginas, 3 min.

Pensei de não ler nada quando cheguei em casa hoje. Cabeça estourava de dor – creio que das muitas vezes em que irrompi em lágrimas hoje – e a ficha não caiu direito ainda. Pela primeira vez experimentei o luto – um luto verdadeiro, por alguém que eu realmente conhecia e que deixa um vazio imenso pra trás.

Mas, deitada na cama olhando pro teto escuro, achei que era melhor começar a reagir porque a pessoa que perdi hoje não ia querer ser lembrada dessa maneira. Então fui atrás do conto de hoje.

Não sei se é coisa da minha cabeça, mas o fato é que Os Gatos de Ulthar terminou por ser um conto bem a propósito, porque o motor da história é a perda do gatinho preto do garoto cigano.

É um dos contos mais curtos do meu livro e me fez lembrar de Bast do Gaiman – especificamente, Um Sonho de Mil Gatos.

Como se sucedem os acontecimentos, não? Ou talvez a gente apenas reflita nas histórias as referências que queremos ver... Fiquemos, pois, com as memórias.

Dia 06 – 06h50
Celephaïs de H. P. Lovecraft. Lido na coletânea Os Melhores Contos de H. P. Lovecraft. 6 páginas, 5 min.

Mais um dia, mais um conto. Celephaïs fez-me lembrar de Lorde Dunsany, que, por sinal, é confessadamente uma das influências de Lovecraft.

Esse conto fala muito dos ofícios de escritor e sonhador – as descrições das paisagens oníricas do narrador são de assombrosa beleza e contrastam de forma amarga com sua realidade desperta. A cidade de Celepahïs é um lugar que eu gostaria de visitar, certamente.

Fiquei impressionada: esse não é bem o tipo de conto que eu esperava do Lovecraft. Associamos muito o autor às suas criaturas de pesadelo e quando descobrimos que ele não se restringe a isso, nos surpreendemos. É a segunda vez que isso acontece nessa coletânea.

Dia 07 – 19h47
Os Outros Deuses de H. P. Lovecraft. Lido na coletânea Os Melhores Contos de H. P. Lovecraft. 5 páginas, 6 min.

Esse conto retorna ao modus operandi lovecraftiano com que estou habituada, embora as tentativas do (não tão) sábio Barzai de surpreender os deuses em meio aos seus festejos me faça pensar em Órion ou mesmo Prometeu.

A diferença é que não é um acidente nem uma tentativa sincera de progresso – Barzai é movido apenas por sua arrogância, sem nenhuma preocupação com nobreza ou conhecimento. Achei foi pouco sua desventura e Atai provavelmente concorda comigo, já que não reza pelo antigo mestre.

Não tenho muito mais a dizer hoje. Estou exausta e quando fecho os olhos, recursos de todos os tipos dançam atrás das pálpebras. Já posso ir dormir?

Dia 08 – 06h58
A Música de Erich Zann de H. P. Lovecraft. Lido na coletânea Os Melhores Contos de H. P. Lovecraft. 9 páginas, 8 min.

Acordei extremamente cedo hoje para despedidas – meus pais estão agora na estrada e eu fiquei de castigo em casa por conta do trabalho (para que se fala de recesso se durante o suposto recesso apenas se acumulam mais e mais prazos?). Enfim, antes de sair para o escritório, parei rapidinho para ler mais um conto para meu diário.

Gostei desse aqui – reúne as melhores características do conto lovecraftiano, com o horror apenas sugerido, mas nunca totalmente explicado, deixado à imaginação do leitor.

De fato, ganha pontos o crescendo de angústia em torno da cena do concerto infernal. É tão intensa a descrição feita e tão melódica que cheguei a ouvir os acordes da viola de Zann vinda de algum lugar distante (Devo começar a correr para as colinas?).

Pergunta: a Rue d’Auseil fica numa realidade paralela, sim ou com certeza?

Dia 09 – 12h32
O Caso de Charles Dexter Ward de H. P. Lovecraft. Lido na coletânea Os Melhores Contos de H. P. Lovecraft. 130 páginas, 1 hora e 52 min.

Adiantei-me em algumas páginas no livro porque quero aproveitar que é um fim de semana razoavelmente tranquilo para ler os dois contos maiores da antologia.

Hoje tem sido um dia todo de chuva. Estou olhando pela janela enquanto espero o almoço esquentar e está tudo escuro – parece ser crepúsculo em vez de meio dia. O vento sibila ruidosamente na varanda e estou sozinha em casa: há ocasião mais propícia para ler um conto como O Caso de Charles Dexter Ward?

O suspense com que é construída a trama dessa história é dos melhores momentos em que já encontrei Lovecraft. Vampiros, pactos demoníacos, alquimistas, sociedades secretas, necromancia... Há quase que de tudo um pouco.

Sim, porque aqui estamos enovelados em dois grandes dramas. Primeiro, o mistério de Joseph Curwen, suas experiências e o horrível final. Segundo, as investigações do jovem Ward sobre seu antepassado, um interesse que começa como curiosidade genealógica e termina como um mergulho no mundo do oculto.

A certa altura fiquei com receio de que não houvesse um deslinde ao caso, já que é uma característica marcante do autor não dar resoluções fechadas às suas histórias. Mas ao mesmo tempo em que é um conto de horror, O Caso de Charles Dexter Ward é também um mistério de detetives – e o bom doutor Willet cumpre muito bem seu papel de investigador.

É curioso, porque boa parte das descobertas que Willet faz ao longo da história podem ser adivinhadas pelo leitor muito antes de ele nos apresentar suas conclusões. Mas há algo catártico em seu enfrentamento do grande vilão, no momento em que todas as cartas são postas à mesa.

Creio que esse vá se tornar meu favorito dos contos de Lovecraft (exceto por aquele em que aparece o Chtulhu, claro. Mas, bem, é o Chtulhu...).

Dia 10 – 09h20
A Busca Onírica por Kadath de H. P. Lovecraft. Lido na coletânea Os Melhores Contos de H. P. Lovecraft. 103 páginas, 57 min.

É interessante notar como os contos de Lovecraft vão retomando personagens, lugares e temas uns dos outros. Aqui o protagonista menciona o rei Kuranes de Celephaïs, viaja pela cidade de Ulthar e cita a lenda do “homem sábio” que queria ver os deuses dançando sob a lua e acabou por desaparecer do mundo.

Embora haja muitos terrores, este é um conto de aventura, com uma jornada até os confins do mundo. Mais que isso, ele explicita muitos detalhes da mitologia lovecraftiana. Eu finalmente entendi que existe, de fato, uma divisão entre o mundo da vigília e o mundo onírico, com sonhadores de tanto poder que são capazes de sonhar cidades cobiçadas pelos Deuses.

Olá, Gaiman! Opa, não, ainda estamos falando de Lovecraft...

Aqui é possível pular para o lado negro da lua usando um navio, ser resgatado dos asseclas de um Deus do Caos por um exército de gatos, correr pelos mundos inferiores na companhia de ghouls e voar até os confins do Universo em harpias.

Carter tem uma ambição muito semelhante ao do sábio Barzai, de Os Outros Deuses, mas não deseja simplesmente flagrar as divindades num momento de abandono, mas apresentar seus respeitos como o Sonhador (sim, com maiúscula!) que é.

Randolph Carter é um dos poucos narradores que encontrei até o momento que tem nome e talvez por isso ele seja capaz de enfrentar os horrores que encontra em sua odisseia ao invés de mergulhar na loucura.

Fiquei (ainda) mais fascinada pelo universo construído por Lovecraft – até porque finalmente me toquei que o homem passou a vida inteira criando diferentes histórias sempre dentro de um mesmo universo e interligando-as de maneiras muito sutis.


Dia 11 – 17h45
O Que a Lua Traz Consigo de H. P. Lovecraft. Lido na coletânea Os Melhores Contos de H. P. Lovecraft. 2 páginas, 2 min.

Creio que esse seja o conto mais curto da minha antologia – e um dos mais ‘soltos’. Não há bem uma história, é mais uma série de sensações trazidas pelo ódio à lua com que se angustia o narrador.

Fiquei sem entender muito bem onde se encaixava esse conto no universo lovecraftiano, até me lembrar que o lado negro da lua é a morada dos Outros Deuses e seus demônios do caos. Não é à toa, pois, que o narrador prefere a morte dos vermes marinhos à lua (ou não? Não tinha uma terceira opção?).

Pra ser sincera, esse conto me pareceu mais um poema em prosa que uma história de fato...

Dia 12 – 19h12
Ar Frio de H. P. Lovecraft. Lido na coletânea Os Melhores Contos de H. P. Lovecraft. 9 páginas, 11 min.

Os mosquitos estão à toda hoje – acabo de praticamente tomar um banho de repelente. Enquanto lia Ar Frio, fiquei me perguntando com meus botões se o odor do doutor era tão repulsivo quanto o do bendito repelente...

Noto um padrão lovecraftiano na forma como médicos – ou intelectuais de uma maneira geral – costumam se envolver com o que não devem, sendo levados aos extremos da ética e da própria sanidade.

Mas, sério, 18 anos e ninguém se deu conta? Deu até uma certa náusea ao final do conto...

Dia 13 – 22h49
O Chamado de Cthulhu de H. P. Lovecraft. Lido na coletânea Os Melhores Contos de H. P. Lovecraft. 30 páginas, 36 min.

Nada como ler uma história de horror já enfiada na cama, pronta para ir dormir ao final do conto. Pesadelos? Quem falou em pesadelos? O que é hilariante (ou irônico, muito irônico) é que O Chamado de Cthulhu é uma história sobre pesadelos.

Nesse conto – que talvez seja o mais famoso dos trabalhos de Lovecraft – uma criatura ancestral comunica-se com a humanidade através de sonhos, o que se traduz numa onda de histeria e loucura quando, após um terremoto, uma ilha misteriosa emerge do mar.

A história é contada como uma investigação do narrador, que primeiro descobre sobre os misteriosos acontecimentos através de anotações de um parente que acaba de morrer, e avança até um misterioso e diabólico culto de criaturas que sequer podem ser imaginadas pela inteligência humana.

O horror da história é mais que simples fantasia de monstros embaixo da cama. É um horror cósmico: Lovecraft estabelece aqui os pilares de sua mitologia, com sua extraterritorialidade e extradimensionalidade. É um dos seus melhores contos, sem dúvida alguma, absolutamente essencial para entender a magnitude de sua criação.

Dia 14 – 20h08
O Modelo de Pickman de H. P. Lovecraft. Lido na coletânea Os Melhores Contos de H. P. Lovecraft. 13 páginas, 15 min.

Pickman já me era familiar por causa de A Busca Onírica de Kadath. O fato de ter passado à frente a narrativa de Randolph Carter – sendo que Lovecraft a escreveu depois – meio que tirou a graça desse aqui, porque eu já sabia o que ia acontecer com Pickman e tinha perfeita noção de quem eram os modelos usados pelo pintor em suas obras.

Não tira, contudo, o mérito do conto. É engraçado, não costumo gostar de narrativas em primeira pessoa (algo que já repeti várias vezes no Coruja), mas Lovecraft sabe usar esse recurso muito bem. Muitos de seus relatos usam esse recurso, com narradores que tentam usar de lógica para compreender e lidar com o trauma que viveram.

Dia 15 – 14h59
A Cor que Caiu do Espaço de H. P. Lovecraft. Lido na coletânea Os Melhores Contos de H. P. Lovecraft. 29 páginas, 34 min.

Um meteoro cai numa fazenda. Sua matéria desaparece misteriosamente, quase como se evaporasse – algo para o que os cientistas, a despeito de suas muitas tentativas de entender o fenômeno, não têm explicações – e entre suas muitas características peculiares, a rocha tem veios de cores inexplicáveis, não conhecidas pela humanidade.

Tudo não passaria de curiosidade científica que acabaria por ser esquecida na ausência de provas, não fossem os acontecimentos que passam a se suceder na fazenda em que o meteoro caiu originalmente: plantas com cores estranhas, animais deformados e a estranha loucura que pouco a pouco clama para si cada membro da pobre família que ali mora.

Esse é outro dos contos considerados essenciais escritos por Lovecraft e não é difícil entender porque ele causa tantos arrepios – especialmente quando você percebe que todo aquele horror não terminou de verdade e está avançando pouco a pouco, espalhando-se pelas redondezas e, um dia, vai chegar até você.

Acho que terei pesadelos com o maldito poço mais tarde, e sua névoa vampiresca intangível...

Dia 16 – 11h46
O Horror de Dunwich de H. P. Lovecraft. Lido na coletânea Os Melhores Contos de H. P. Lovecraft. 42 páginas, 48 min.

Dunwich é um lugar degenerado, com colinas repletas de círculos de pedra que servem de portal para outras dimensões, onde habitam Seres Inomináveis. E que, aparentemente, também podem se miscigenar com humanos. Não é algo adorável? Especialmente quando temos uma antiga família envolvida com bruxaria e perfeitamente disposta a abrir o portal para que Aquelas Criaturas possam vir acabar com a humanidade...

Há elementos desse conto que me fazem lembrar de O Caso de Charles Dexter Ward, como a invocação a Yog-Sothoth e o aparente vampirismo de Wilbur. Isso para não citar as referências a Kadath e ao fato de Yog-Sothoth aparentemente é primo (!) de Chtulhu. E, claro, tem o Necronomicon no centro da narrativa.

Melhor que isso, só o fato de que toda a situação do conto chega ao seu clímax “na noite do dia nove de setembro”. Excelente referência para combinar com meu aniversário...

Dia 17 – 12h28
Um Sussurro nas Trevas de H. P. Lovecraft. Lido na coletânea Os Melhores Contos de H. P. Lovecraft. 66 páginas, 58 min.

E lá vamos nós com a fixação de Lovecraft por criaturas subterrâneas aparentemente aquáticas. Não que eu tenha algo a reclamar, considerando que já comentei sobre Um Sussurro nas Trevas antes e, à época, já tinha impressão de ser um dos melhores contos do autor.

Albert Wilmarth começa como um cientista cético, um especialista em folclore. É então convidado pelo também erudito Henry Akeley a Vermont – onde enchentes levaram ao aparecimento de estranhas criaturas com corpos crustáceos, com grandes pares de barbatanas ou asas membranosas. E tentáculos, claro. Muitos tentáculos, sempre.

Nosso narrador conhece algo das lendas dessas criaturas – os Antigos, vindos das estrelas, diretamente da Grande Ursa. Mas aquilo que ele considera inicialmente meros mitos, logo se provará bastante real. Afinal, Akeley não apenas é testemunha ocular dos fatos, como possui provas que ele não consegue explicar nem refutar.

Há coisas, contudo, com que você não deve mexer. E conseguir provas concretas de estranhas criaturas que o narrador conclui estarem vindo de Plutão (‘aquele estranho planeta descoberto logo após Netuno’) não são condutivas a uma vida longa e tranquila.

Esse conto é um excelente exemplo da forma como Lovecraft interlaça terror e ficção científica. Engraçado que não tinha parado para pensar nesse assunto antes, mas é meio óbvio, considerando que a maioria dos protagonistas de seus contos são intelectuais ligados ao ramo das ciências.

Dia 18 – 20h11
A Sombra de Innsmouth de H. P. Lovecraft. Lido na coletânea Os Melhores Contos de H. P. Lovecraft. 64 páginas, 55 min.

Já tinha lido esse conto para o Clube do Livro – à época, o Dé fez umas duas resenhas, mas nunca cheguei a compartilhar minhas próprias percepções da história. Aliás, muitos dos contos dessa antologia já me eram conhecidos... eu achava que tinha lido bem menos de Lovecraft, mas aparentemente não é bem esse o caso...

O narrador dessa história viaja até a cidade de Innsmouth em virtude de seus interesses em antiquários e arquitetura antiga – a cidade foi um importante porto regional, e sede de um culto de criaturas das profundezas do mar (claramente ligadas às criaturas que descobrimos em Dagon), até cair em ruína após ser atingida pela Peste, em 1846.

Ninguém sabe exatamente do que se trata a doença, mas o fato é que em seu período de isolamento para que ela não se espalhasse, a cidade foi dominada pelos cultistas e pouco a pouco se degenerou.

O narrador chega à cidade tempos depois desses acontecimentos, mas escuta as histórias e pouco a pouco se vê envolvido numa situação que certamente o faz se arrepender de ter escolhido Innsmouth como destino de férias...

O interessante é que os horrores com que nos defrontamos nesse conto não são tão privados quanto em outras histórias. Na maioria das vezes você tem um pequeno grupo consciente dos fatos e que tentam abafar o que ocorreu.

Aqui, por outro lado, o que aconteceu em Innsmouth foi grande o suficiente para obter uma reação do Estado: os poucos habitantes são levados para presídios militares e ‘desaparecem’, a cidade é esvaziada e destruída, e até um submarino é utilizado para torpedear um alvo conhecido como Devil’s Reef.

Dia 19 – 20h34
O Assombro das Trevas de H. P. Lovecraft. Lido na coletânea Os Melhores Contos de H. P. Lovecraft. 23 páginas, 20 min.

Mais um conto que começo e percebo que já conhecia. É interessante notar que o cenário desse conto seja o que considero mais tétrico entre todos os que andei lendo: talvez porque ele se passe num cenário urbano e o pivô dos pesadelos de Robert Blake (uma referência ao poeta?) é uma igreja abandonada, utilizada para abrigo de uma seita satânica.

Após visitar a igreja, Blake desenvolve um patológico terror ao escuro. E se por momentos parece risível que ele esteja sempre ligando para a companhia de energia e dizendo que é vital para a continuidade da humanidade que NÃO FALTE LUZ, é sempre bom lembrar que é da matéria das sombras que se formam nossos pesadelos - e numa noite de tempestade, após uma queda de energia, temos uma morte inexplicável e um diário em que o autor parece perder pouco a pouco o próprio senso de identidade.

Francamente? Creio que essa idéia de perder-se de si mesmo seja o ponto mais horrível desse conto.

Dia 20 - 14h57
A Sombra Vinda do Tempo de H. P. Lovecraft. Lido na coletânea Os Melhores Contos de H. P. Lovecraft. 65 páginas, 48 min.

Malditas sejam as dores de cabeça e os resfriados oportunistas de um dia depois de levar três pingos de chuva na cabeça… Hoje é uma daquelas tardes em que só dá vontade de se enfiar debaixo do cobertor e fingir que não se existe, na companhia de uma xícara de chocolate quente.

Sério, canecas de chocolate quente que se materializam na sua cabeceira quando menos se espera é algo que deveria ser perfeitamente possível de acordo com as leis da física.

Enfim… último conto da minha antologia de Lovecraft. Eu meio que… li pingando de sono e acho que vou ter de relê-lo algum dia (quando for escrever um especial sobre Lovecraft no Coruja), mas ainda assim valeu.

A Sombra Vinda do Tempo me fez pensar em Invasores de Corpos Humanos, onde consciências super desenvolvidas podem viajar para além do tempo e substituir nossas consciências atuais, roubando nossos corpos.

De todos os contos que li nessa antologia, creio que esse seja dos que se apoie com mais vigor na ficção científica. Por maior que seja o pavor de do professor Peaslee ao perceber do que foi vítima - e considerando que meu confesso maior medo é a perda de identidade - a impressão geral que tenho do parasita que tomou por carona o corpo do professor por cinco anos é de um cientista distraído coletando espécimes para sua biblioteca infinita de dados sobre todas as raças conhecidas (e algumas muitas desconhecidas).

O verdadeiro medo da história se traduz em Peaslee tentando refazer seus passos e encontrar evidências do que viveu, bem como daqueles com quem ele compartilhou corpo e mente nos anos em que esteve ‘ausente’ da humanidade - e descobrir indícios de que alguém mais além da raça de cientistas desbravadores de espaço-tempo esteve por aqui…

Enfim, vamos à próxima antologia. A partir de amanhã, Oscar Wilde!

Dia 21 - 07h38
O Príncipe Feliz de Oscar Wilde. Lido na coletânea Histórias de Fadas. 11 páginas, 6 min.

Eis então que mudamos radicalmente do terror de H.P. Lovecraft para a delicadeza das histórias de fadas de Oscar Wilde. Extremos? Sim, sem dúvida. Mas acontece…

Já tinha lido O Príncipe Feliz muito tempo atrás, quando criança, e devo dizer que reencontrá-lo agora foi tão doloroso quanto àquela época.

No centro de uma cidade há a estátua de um belo príncipe - folheada a outro, com duas safiras por olhos e um rubi na ponta da espada, ele é o orgulho de todos. Um belo dia, prestes a começar o inverno, passa por ali uma andorinha, que surpreende o príncipe a chorar.

As lágrimas do Príncipe são pela miséria de seu povo, que se esconde por baixo de um verniz de prosperidade e hipocrisia. Ele convence a andorinha a ajudar aquelas que precisam: primeiro oferecendo o rubi, depois cada uma das safiras e então, cada folha de ouro que cobre seu corpo.

A caridade do príncipe tem por recompensa sua perda de valor aos olhos da cidade, que decide destruir a estátua. O fim amargo é com um coração de chumbo partido, e uma aparição divina enquanto discutem os notáveis do Conselho Municipal sobre quem deve ter sua pessoa imortalizada para colocar como nova estátua no lugar daquela do feio príncipe.

Começamos bem, não?

Dia 22 - 16h19
O Gigante Egoísta de Oscar Wilde. Lido na coletânea Histórias de Fadas. 5 páginas, 3 min.

Um gigante possuidor de um jardim quer mantê-lo todo para si, sem compartilhá-lo com ninguém. E assim ele o mura e coloca na porta um aviso: “os invasores serão processados” - porque, aparentemente, nos contos de fadas de Wilde, gigantes processam seus adversários em vez de comê-los enquanto resmugam fee-fi-fo-fum.

Seu egoísmo, contudo, faz com que o Jardim fique preso no Inverno. Ao menos até que as crianças desafiem a aterradora ameaça de um processo (há!) e passem por um buraco no muro, fazendo com que o jardim volte a florescer.

Mais uma vez, o final tem tom de catequese. Mas a imagística do conto é simplesmente belíssima… Wilde sabe descrever Beleza (sim, com ‘b’ maiúsculo) como ninguém.

Dia 23 - 14h20
O Amigo Dedicado de Oscar Wilde. Lido na coletânea Histórias de Fadas. 14 páginas, 9 min.

Terminei esse conto sentindo tanta raiva do Moleiro que quase taquei o livro na parede. O Amigo Dedicado é um título bastante irônico considerando o que acontece nesse conto, que é uma história dentro de uma história.

O Pintarroxo tenta demonstrar uma moral para o Ratão d’Água narrando as desventuras do pequeno Hans e seu dedicado amigo, o Moleiro.

É amargamente irônico que o Moleiro diga e repita ao longo de todo o conto que ele é o melhor amigo do pequeno Hans e mascare sua mesquinhez como cuidado. E que o pequeno Hans incorpore esse discurso e se deixe ser tão cruelmente abusado.

Não existe aqui a catarse que costumamos encontrar comumente em contos de fadas, com o vilão castigado e os bons triunfando - não há punição ou finais felizes, mas apenas uma realidade dolorosa e egoísta.

Dia 24 - 07h57
O Foguete Notável de Oscar Wilde. Lido na coletânea Histórias de Fadas. 14 páginas, 11 min.

Esse conto me lembrou um pouco o anterior - o Foguete tem o mesmo discurso do Moleiro, mas ao menos, em vez de fazer mal aos outros, ele o faz apenas para si mesmo.

É engraçado, o conto começa com uma princesa russa chegando para seu casamento e eu imaginei que alguma tragédia fosse se abater sobre ela. Mas os verdadeiros protagonistas da história serão os fogos de artifício que farão parte do show pirotécnico em honra ao casamento.

Entre eles está o Foguete, que tão certo de sua importância, é incapaz de aceitar sua ruína e, propositalmente, se faz de surdo para distorcer tudo o que escuta que não está de acordo com sua opinião.

Todo mundo conhece alguém desse tipo, não é verdade?

Ao final da história, quase cheguei a sentir pena dele… mas a verdade é que ele nada fez para ganhar minha simpatia. Em outras palavras? É, sinto muito, mas bem feito pra você, senhor Foguete.

Dia 25 - 07h14
O Rouxinol e a Rosa de Oscar Wilde. Lido na coletânea Histórias de Fadas. 8 páginas, 6 min.

Esse conto está na na lista The 50 Best Short Stories of All Time, da Online Classes e mesmo antes de encontrá-lo nessa antologia eu já o tinha colocado na minha lista para esse desafio.

O Rouxinol e a Rosa é uma pequena jóia, um dos contos mais delicados que já li. A imagem do rouxinol enterrando o peito no espinho da roseira enquanto canta desesperadamente é de uma beleza e tristeza arrebatadora - não nego que meus olhos ficaram molhados.

Mas como nos outros contos de Wilde que li esses dias, este sacrifício se perde frente ao egoísmo e às aparências. É um remédio amargo o fim dessa história, especialmente pela incapacidade que têm os humanos nela de enxergarem para além de seus próprios narizes.

Dia 26 - 07h33
O Jovem Rei de Oscar Wilde. Lido na coletânea Histórias de Fadas. 15 páginas, 11 min.

Faltou energia ontem, das três da tarde até depois das oito da noite. Celular descarregou, telefone em casa não funcionava, nem internet, ficamos incomunicáveis, perto das seis já estava muito escuro para escrever ou estudar e aí comecei a ler um livro no e-reader até que a bateria dele também acabasse.

Nada como esquecer de carregar todos os aparelhos que não precisam estar ligados o tempo inteiro na tomada e só lembrar disso quando já é tarde demais.

A energia voltou quando eu já tinha me conformado em passar a noite longe da idéia de civilização, mas deu pra ligar tudo para carregar e hoje acordei antes das seis da manhã para terminar o livro que comecei ontem à noite.

Enfim… O Jovem Rei é um dos raros contos do livro que não temos um protagonista profunda e extraordinariamente egoísta… ou, pelo menos, ele aprende a lição ao longo da história. De certa forma, ele complementa O Príncipe Feliz, inclusive pela reação que recebem ao decidirem se despir de sua riqueza.

O jovem rei começa apaixonado pela beleza, mas através de sonhos, descobre como essa beleza é alcançada: uma túnica bordada a outro pelas mãos da dor, uma pérola incrustada em seu cetro pela miséria, uma coroa de rubis trazidos pela morte. Tendo acordado, ele substitui suas vestes da coroação pelas roupas de pastor, um cajado de madeira e uma coroa de folhas entrelaçadas por suas próprias mãos.

Eu cheguei a pensar que ele fosse morrer despedaçado pela fúria de seus nobres, mas a divina interferência chega bem a tempo dessa vez.

Há um forte conteúdo de moral cristã nessa história, o que me impressiona ao pensar no contraste que ela faz com a moral frouxa dos personagens das peças cômicas de Wilde...

Dia 27 - 16h19
O Aniversário da Infanta de Oscar Wilde. Lido na coletânea Histórias de Fadas. 21 páginas, 16 min.

Estou achando curioso o fato de que muito dos contos que li ao longo desse mês, eu já tinha lido antes. O Aniversário da Infanta me é familiar de um volume que li no colégio, que continha também O Fantasma de Canterville.

Mais uma história de cortar o coração - uma princesa egoísta, um pobre anão que desconhece sua própria aparência: poderia fazer comparações com A Bela e a Fera aqui, mas, francamente? O grande trunfo desse conto é fazer você ficar profundamente deprimido...
“No futuro, que aqueles que vierem brincar comigo não tenham coração”, ela exclamou e correu para o jardim.”

Dia 28 - 16h37
O Filho da Estrela de Oscar Wilde. Lido na coletânea Histórias de Fadas. 20 páginas, 14 min.

Esse conto é uma típica fábula moralista e está na mesma linha narrativa de O Príncipe Feliz e O Jovem Rei, tendo um protagonista que começa amando o belo (e a si mesmo) e desprezando tudo e todos que não se adequam aos seus padrões de beleza (embora O Príncipe Feliz apenas diga que o príncipe conhecia apenas o prazer antes de virar estátua, não falando sobre suas preferências, mas apenas de sua ignorância), passando por uma transformação através do sacrifício daquilo que os fazia belos.

É um conto melancólico, especialmente o seu final. As histórias de fadas de Wilde têm muito pouco do elemento mágico e catártico dos contos de fadas com que estamos acostumados.

Mas já comentei isso antes. Na verdade, é algo que tenha comentado nesse diário todo dia, a cada novo conto que leio…

Dia 29 - 19h30
O Pescador e sua Alma de Oscar Wilde. Lido na coletânea Histórias de Fadas. 38 páginas, 20 min.

Esse conto me parece uma mistura de A Pequena Sereia com o tom de As Mil e Uma Noites, com uma pequena pitada de Peter Pan. De todos os contos de fadas do Wilde, é o que mais se assemelha as narrativas com que estamos acostumados.

Um pescador se apaixona por uma sereia mas, para que ela possa amá-lo, ele deve abandonar sua alma. Após muitas perambulações, o Pescador descobre como se separar de sua alma cortando fora sua sombra e assim vai viver com o povo do mar.

Mas antes de desaparecer, a Alma lhe pede que ele volte dali um ano para ouvi-la mais uma vez. E ele assim o faz, porque o Pescador é um bom rapaz, e a cada novo encontro a Alma lhe oferece mil e uma tentações, às quais ele vai resistindo… até que não resista mais.

É um conto cheio de imagens delicadas, e com o final trágico que já nos é familiar nas histórias de Wilde. Acho que foi o meu favorito de todos os que li dele até agora.

Dia 30 - 10h18
Um Estudo em Esmeralda de Neil Gaiman. Lido na coletânea Coisas Frágeis. 22 páginas, 22 min.

Há algo de absolutamente hilariante nos pequenos anúncios que abrem cada um dos ‘capítulos’ desse contos - referências à Frankenstein, O Médico e o Monstro, Drácula, além, claro, de Jack, o estripador.

Mas o melhor é perceber de pouco em pouco que existe uma inversão absolutamente fantástica dos papéis clássicos que conhecemos nos originais de Conan Doyle. O detetive e seu companheiro se revelam a partir de algumas poucas pistas e iniciais - o que também ocorre em se tratando de seus adversários.

Engraçado que não me lembro de ter me dado conta desse detalhe quando li esse conto pela primeira vez. Não sei se foi esquecimento - faz talvez uns dez anos que li Um Estudo em Esmeralda, eu estava no início da faculdade - ou se realmente não tinha percebido… O fato é que ao chegar ao final, quase caí da cadeira de tão surpresa.

Esse é um dos melhores contos de Gaiman, sem dúvida, unindo criaturas lovecraftianas que dominaram o mundo numa realidade paralela, e alguns dos personagens mais emblemáticos da era vitoriana. Uma excelente homenagem a dois fantásticos escritores, por um escritor fantástico.


Dia 31 - 17h30
I, Cthulhu de Neil Gaiman. Lido no site do autor. 11 páginas, 10 min.

Eram exatamente 2h44 quando despertei hoje, ao som de alguma música genérica de axé. Em algum lugar na minha vizinhança, algum FDP estava ouvindo som a volumes de arrebentar os tímpanos, em plena madrugada. Mais tarde vim descobrir que a música vinha de um clube que fica a dois quarteirões e vinte andares de distância e ainda assim, eu conseguia ouvir aquela desgraça como se a banda estivesse no meu quarto.

O pior? É que eu tinha de estar sete da manhã no centro da cidade para fazer uma prova. O que significa que fui fazer prova movida por um ódio homicida de carnavalescos de uma maneira geral, na base de pouco mais de quatro horas de sono, para uma prova que ia durar O DIA INTEIRO.

Se eu tivesse porte de arma, eu talvez tivesse ido atrás de descobrir exatamente onde era a festa para matar, com extrema violência, as caixas de som. Como não tenho, o que farei será investir em protetores de ouvido. Vou providenciá-los amanhã, porque tenho certeza absoluta que essa situação há de se repetir ainda essa semana.

Em todo caso… Fui, vi, venci, fiz a prova, voltei pra casa… e peguei meu último conto desse mês para ler. Decidi terminar o mês lendo dois contos do Gaiman dentro do universo lovecraftiano, já que passei boa parte de janeiro enfurnada em meio às suas Abominações - ontem com Um Estudo em Esmeralda, hoje com esse daqui.

I, Cthulhu é narrada pelo próprio Cthulhu para seu ‘biógrafo’, Wilbur Whateley, de O Horror de Dunwich e, teoricamente, faz parte das anotações de Wilbur lidas pelo Dr. Armitage. Bebe bastante na tradição lovecraftiana e faz uma série de menções, mas é absolutamente cômica.

Sério, o Cthulhu desse conto parece um velhinho contando as glórias de antigamente. “Ei, sabe os dinossauros? É, fomos nós que extinguimos eles num único churrasco”. Eu dei muitas risadas… pena que seja tão curtinho… não me importaria de ler mais nesse estilo…

Um excelente desfecho para o meu projeto esse mês… e amanhã é fevereiro!!! Começamos tudo de novo, outra vez ;)

Conclusões

Li esse mês dois livros e quatro contos avulsos. Curiosamente, muitas das histórias que li foram releituras - que só percebi que eram releituras quando já tinha começado a ler, porque eram contos com que eu tivera conto muito tempo atrás e só pelo título não me reavivaram a memória.

No total foram 822 páginas lidas, ao longo de 11 horas e 24 min. Uma média bastante razoável, na minha opinião.

Para fevereiro, separei Bradbury e Gabo. Vamos ver o que vem por aí...


A Coruja




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