16 de julho de 2015

Para ler: O Professor e o Louco

Houve uma breve pausa, numa atmosfera de constrangimento mútuo. O tique-taque barulhento de um relógio. Passos abafados no corredor. Um distante titlintar de chaves. E então o homem por trás da escrivaninha pigarreou e por fim disse: "Lamento dizer, amável senhor, que não sou eu. As coisas não são, de modo algum, como está imaginando. Sou, na verdade, o diretor do manicômio judiciário Broadmoor. O dr. Minor com toda certeza se encontra aqui. Mas como interno. É paciente há mais de vinte anos. Nosso mais antigo residente".
Ganhei esse aqui de presente num amigo secreto e devo dizer que a amiga que me tirou acertou em cheio.

O Professor e o Louco investiga os bastidores da organização do Dicionário Oxford – o primeiro em inglês e um dos mais completos de seu gênero – e, em especial, a relação entre um dos maiores colaboradores da iniciativa, o doutor W. C. Minor e o professor James Murray, líder do projeto.

Pode parecer uma leitura meio seca para leigos de plantão, mas a verdade é que, mesmo considerando as partes dedicadas ao debate de métodos de pesquisa, O Professor e o Louco é quase um romance policial, com lances tão novelescos que por vezes esquecemos que se trata de uma história real.

Minor era um cirurgião americano, tendo servido durante a Guerra Civil, onde supostamente teria presenciado cenas que o levaram a um colapso nervoso. Há suposições sobre a possibilidade de esquizofrenia, demência, doença degenerativa... mas, não sendo esse o foco da história, não há um diagnóstico definitivo.

O caso é que Minor deixou os Estados Unidos e foi se estabelecer em Londres, onde, em meio a um delírio, assassinou um homem, afirmando que estava atrás de um irlandês que o estivera perseguindo. O julgamento de Minor foi uma sensação à época, inclusive pelos detalhes picantes dos hábitos sexuais do doutor, e ao final ele foi internado em Broadmoor, um asilo para loucos.

A despeito da doença, Minor era inteligente e, quando não estava jurando que irlandeses tinham invadido seu quarto para envenená-lo, gostava de se manter em dia com as notícias e de ler tudo o que pudesse lhe passar pelas mãos.

Foi dessa forma que encontrou o pedido por colaboradores que a equipe do Dicionário Oxford publicou em jornais pela Grã-Bretanha. E foi assim que decidiu a se dedicar ao projeto, pesquisando palavras, copiando frases exemplificativas, investigando datas em que tais expressões poderiam ter sido usadas pela primeira vez – de forma bastante metódica e profissional.

Murray se impressionou desde o início com o trabalho minucioso de Minor e nem de longe desconfiava que seu colega – com quem iniciou uma correspondência pessoal – pudesse ser um assassino clinicamente insano.

Winchester consegue contar toda essa história sem passar julgamentos, de uma forma direta, mas bastante interessante. Ao final, O Professor e o Louco se revelou um inesperado deleite. Certamente recomendado.

Nota:
(de 1 a 5, sendo: 1 – Não Gostei; 2 – Mais ou Menos; 3 – Gostei; 4 – Gostei muito; 5 – Excelente)

Ficha Bibliográfica

Título: O Professor e o Louco: uma História de assasinato e loucura durante a elaboração do dicionário Oxford
Autor: Simon Winchester
Tradução: Flávia Villas-Boas
Editora: Companhia das Letras
Ano: 2009
Número de páginas: 235

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