27 de janeiro de 2015

Desafio Corujesco 2015: Um Autor que Indico para Todo Mundo || Raising Steam

"Esse é o problema, veja. Quando você teve ódio na ponta da língua por tanto tempo, você não sabe como cuspi-lo longe."
Raising Steam é o quadragésimo volume da série Discworld e o terceiro a girar em torno da figura do ex-estelionatário transformado em extraordinário homem do Estado, Moist von Lipwig – que após ter reestruturado os Correios de Ankh-Morpork em Going Postal, e todo o sistema bancário em Making Money, agora será o representante do governo no nascente desenvolvimento de uma empresa de transportes baseada em trens a vapor.

O livro retoma o plot que existe por trás de A Magia de Holy Wood e Soul Music, onde idéias e conceitos diferentes ‘viajam’ pelo universo até encontrar mentes abertas que os possam compreender e trazer para o mundo. Foi assim com o cinema, com o rock’n’roll e é assim agora com o maquinário a vapor.

Além de falar sobre questões de progresso, controle estatal, investimentos privados e expansão territorial, Raising Steam também traz debates sobre governo, terrorismo e gênero, centrados na figura dos fundamentalistas anões que não aceitam os acordos que trouxeram paz entre seu povo e os trolls em Thud!, nem os avanços tecnológicos representados pelas claques (que permitem a comunicação à distância através de torres que são um misto de código morse com internet) e pelo próprio sistema ferroviário, os quais eles enxergam como uma ameaça às suas tradições.

É sempre curioso observar o quanto Pratchett consegue trazer do nosso mundo para o fantástico universo do Disco – e o quão verdadeiro esse mundo de fantasia se revela em todas as suas idiossincrasias. Ao longo das últimas três décadas, Discworld cresceu não apenas em número de volumes, mas também da evolução de seus personagens, na debate de questões ético-filosóficas e na idéia de que progresso tecnológico e social andam lado a lado e que ambos são necessários para que a civilização se desenvolva.

Raising Steam não é o melhor livro da série – para quem acompanha Pratchett a um tão longo tempo, é perceptível um cansaço, uma dificuldade e repetição em certas partes. Mas é uma comprovação de sua genialidade que ainda que não esteja no seu habitual ritmo (levemos em consideração o Alzheimer – e cá entre nós, toda vez que me lembro desse detalhe sinto vontade de chorar...), o cara de chapéu continua a ser melhor do que muita coisa que encontramos pelas estantes das livrarias por aí.

Ele rende boas risadas e muita reflexão e nunca seu universo medieval foi tão atual quanto no nosso cenário de preconceito e fundamentalismo religioso.

Bônus: lista dos motivos pelos quais todo mundo deveria se converter à leitura de Terry Pratchett (em cinco itens)

1. Ele consegue lidar com temas atuais espinhosos e delicados (como política, religião e futebol) num ambiente de fantasia medieval sem soar artificial.
2. Ele nos faz um constante convite à refletir sem se tornar pedante ou 'didático'.
3. Ele não despreza o papel das personagens femininas nem o debate de gênero dentro da ficção fantástica (na verdade, algumas de suas melhores e mais inesquecíveis personagens são mulheres)
4. Ele é o culminar de todo o conhecimento humanista e eu aprendi mais com ele sobre física quântica e teoria da evolução que com qualquer professor na escola.
5. Ele é o Cara do Chapéu.

Nota:
(de 1 a 5, sendo: 1 – Não Gostei; 2 – Mais ou Menos; 3 – Gostei; 4 – Gostei muito; 5 – Excelente)

Ficha Bibliográfica

Título: Raising Steam
Autor: Terry Pratchett
Editora: Corgi Books
Ano: 2014
Número de páginas: 480

Onde Comprar

Amazon || Book Depository || Cultura || Saraiva








A Coruja


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4 comentários:

  1. Eu sabia que você ia sugerir Terry Pretchet!!! Aliás, bem que preciso retomar as minhas leituras dele... mas infelizmente não está nas prioridades no momento, mas ainda vou retomar :-)
    Em janeiro eu escolhi o português Valter Hugo Mãe, o meu mais novo "autor queridinho que eu leria qualquer coisa e indicaria para qualquer um". Quanto mais eu leio dele, mais me impressiono!
    Aqui:
    http://leiturasdelaura.blogspot.com.br/2015/01/o-apocalipse-dos-trabalhadores.html
    Beijos!

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    1. Eu não tinha como não colocar o Pratchett aqui, ele é um dos meus grandes amores... se não fosse ele, seria o Gaiman XD

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  2. Ahhhh, Lu acho que somos previsíveis mesmo né? Adorei a resenha como sempre, Pratchett é ídolo mor, para todo sempre... AMO, culpa tua, serei eternamente grata, por tu ter me apresentado à ele :D

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    1. Você tinha alguma dúvida? Eu poderia ter colocado o Gaiman, a Austen ou o Eco nesse primeiro desafio, mas começar o ano lendo Pratchett é uma tradição minha e eu não podia deixar de resenhá-lo aqui, não é mesmo?

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