19 de agosto de 2014
Desafio Corujesco: A Pedra Encantada de Brisingamen/A Lua de Gomrath
Tive meu primeiro contato com Alan Garner na biblioteca da escola – tinha uns quatorze para quinze anos, mais ou menos à mesma época em que descobri O Senhor dos Anéis.E por entre as árvores, surgiu a figura de um homem. Vinha trotando em direção ao Farol pela velha trilha reta, e a luz brincava nos músculos de seu corpo, em padrões ondulados de vermelho e preto. Era imenso e poderoso, mas tinha a graça de um animal. Era alto, quase dois metros e meio, e corria sem esforço. Sua cara era comprida e fina, de nariz pontudo e narinas frementes. Sobrancelhas da noite, olhos escuros como rubis, voltados para o alto. Os cabelos eram cachos vermelhos. Entre os cachos, crescia a galhada de um veado. O cavaleiro respondeu:
"Velozes os cascos, livre o vento!
Despertos estamos todos diante das chamas do Goloring!
Do calor do sol, do frio da lua,
Viva Garanhir! Gorlassar!
O Senhor do Herlathing!"
Depois, recuou devagar e se afastou da fogueira. E quando o recém-chegado veio até o círculo e subiu, marchando, até o alto do monte, todos os cavalos se ajoelharam e os cavaleiros ergueram os braços em silêncio.
Susan olhou para ele e não teve medo. Sua razão não podia aceitá-lo, mas algo profundo, bem dentro dela, o aceitava. Entendia o que fizera com que os cavalos se ajoelhassem. Estava diante do coração de todas as coisas selvagens. Diante do trovão, do raio, da tempestade. Do ritmo lento das marés e das estações, do nascimento e da morte, da necessidade de matar e da necessidade de construir. Os olhos dele estavam sobre ela, e ela não tinha medo.
Nesse tempo, meu vício eram romances policiais. Tolkien foi quem que me fez me apaixonar por fantasia, mas se for para ser bem sincera, creio que possa dizer que Garner foi quem primeiro me apresentou ao gênero. A Pedra Encantada de Brisingamen, A Lua de Gomrath, A Maldição da Coruja, Elidor... eu li todos em que conseguir pôr as mãos.
Desses, os dois primeiros sobre os quais vou falar hoje foram os que mais gostei – e que me influenciaram mais tarde a criar o universo de Hades nas minhas fanfics de Harry Potter, que foi quando comecei a escrever e publicar na internet, dez anos atrás...
Tudo começa em A Pedra Encantada de Brisingamen, quando os irmãos Colin e Susan se envolvem numa luta por uma pedra mágica, mergulhando num universo de mitos e lendas que envolvem um rei e seu exército a muito adormecidos. É pura fatalidade que coloca as crianças no meio da batalha entre Cadellin e a confraria do mal, mas uma vez que elas se envolvem no resgate de fogofrio – a pedra do título – acabam se tornando fundamentais para o deslinde de toda a situação – o que vai gerar conseqüências com que terão de lidar em A Lua de Gomrath.
A forma como Garner consegue entrelaçar lenda e realidade – como a vida aparentemente comum dos protagonistas é rompida por anões, magos, entidades de sombra, deuses, e cães dos infernos, sendo separados do resto do mundo por muros de névoa – encantou-me àquela primeira leitura. O ritmo, as descrições, a prosa poética em muitos pontos, com sua fluência musical, tudo isso me deixou apaixonada.
Considerando o quanto minha primeira leitura desses livros, mais de uma década atrás, influenciou-me, tive um certo receio de pegar de novo esses livros para ler agora e acabar por descobrir que a mágica não se manteve. Mas, embora não tenha me empolgado tanto com A Pedra Encantada de Brisingamen dessa feita, A Lua de Gomrath manteve o fascínio com que me prendeu da primeira vez.
O dualismo da Alta e da Antiga Magia, as imagens criadas pelo despertar de um mundo antigo e poderoso – o caminho de prata ao luar, a Cavalgada Selvagem, o Caçador... – as descrições que Garner faz de tudo isso são vívidas e apaixonantes.
Gaiman e Pullman o louvam por sua capacidade de trazer a magia para o mundo real, por aproveitar folclore e mito em suas histórias e firmá-los em cenários cotidianos. Há quem o compare a Tolkien. Seja lá como for, Garner bem merecia ser mais conhecido aqui no Brasil.
A Coruja
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Livros, viagens, filosofia de botequim e causos da carochinha: o Coruja em Teto de Zinco Quente foi criado para ser um depósito de ideias, opiniões, debates e resmungos sobre a vida, o universo e tudo o mais. Para saber mais, clique aqui.
Nossa, nunca achei que mais alguém fosse notar e ler algum livro do Alan além de mim! Descobri A Pedra Encantada de Brisingamen escondida numa estante na seção infanto-juvenil da biblioteca pública uns seis anos atrás, acho. Fogofrio! Que saudade >.< Também fiquei fascinado como o autor consegue encaixar a vida mundana com um mundo mágico. Poxa, eu nunca encontrei nada mágico passeando no meu quintal ou no meu bairro, e olha que eu já procurei. Não gostei muito da Lua de Gomrath, mas até curti A Maldição da Coruja apesar de ainda preferir A Pedra mesmo. Encontrei A Pedra um dia desses no sebo, fiquei todo feliz =D
ResponderExcluirSeu blog é uma fofura, beijundas!
Obrigada, Bastian! E desculpa pela demora em responder, com as férias e viagem, agosto e setembro foram meses meio complicados pra mim...
ExcluirFico feliz da vida em encontrar mais gente que conheça o Garner e tenha se encantado tanto quanto eu. Descobri recentemente que existe um terceiro livro que fecha a história de Colin e Susan; estou atrás dele também...
Gostei de A Maldição da Coruja, mas, como você, ainda prefiro a magia vista em Brisingamen e Gomrath. Li Elidor dele também, mas achei-o mais fraco em comparação com os outros. Seja como for, gosto do estilo do Garner em tudo que peguei dele. Acho que deveria ser um autor mais conhecido, pena que o nome dele seja quase desconhecido aqui no Brasil...
Li alguns livros do Garner no início da minha fase fanática por livros de fantasia e lembro de ter gostado muito. Uma pena que hoje eu não lembre quase nada das histórias :P
ResponderExcluirEu recomendo a releitura, Lígia. Vale à pena; ele tem um estilo próprio e o mundo que ele cria é cheio de detalhes interessantes e bem fundamentado.
ExcluirHum... nunca li nada desse autor (completamente desconhecido para mim até agora), mas fiquei intrigada e agora vou procurar :-)
ResponderExcluirO meu desafio de releitura foram os 4 volumes de "As Brumas de Avalon", e justamente por serem 4 volumes fiquei mega atrasada. Mas, como eu tardo mas não falho, segue aqui a minha resenha!
http://leiturasdelaura.blogspot.com.br/2014/09/as-brumas-de-avalon-4-volumes.html
Estou indo lá! Adoro Brumas!
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