1 de maio de 2014

Desafio Corujesco: Peter Pan

Cada vez que uma criança diz “Eu não acredito em fadas” em algum lugar uma pequenina fada cai morta no chão.

Todo mundo que não mora debaixo de uma pedra já ouviu falar de Peter Pan, o menino que não queria crescer, mas são poucas as pessoas que realmente leram a obra de James Barrie - elas o conhecem principalmente por causa dos filmes. Até ganhar esse livro da Virgínia, a única versão que eu conhecia da história era a versão para o Sítio do Pica Pau Amarelo que Monteiro Lobato escreveu.
Ler o original já adulta tirou parte do encanto da narrativa – é óbvio e ululante que Peter Pan é um daqueles livros que temos de conhecer na infância – mas isso não significa que não haja prazer em descobri-lo.

A Terra do Nunca e todos aqueles que a habitam são absolutamente fascinantes. Gancho é um dos vilões de nossa infância (provavelmente por causa de um certo filme com o Robin Williams...), Peter um de nossos primeiros amores e existe uma interatividade, um convite a participar da história que não se encontra em qualquer livro.

O que tem lógica, considerando que originalmente, as aventuras de Peter Pan foram criadas para o teatro. Aliás, eu assisti uma apresentação da peça e mesmo sendo uma das pessoas mais velhas da audiência (eu tinha ganho o ingresso de presente e estava sozinha no meio de um mar de crianças...), bati palmas com gosto redobrado para afirmar que acreditava em fadas e assim salvar Sininho.

Curioso é que em tempos de politicamente correto, é um tanto estranho ver como se mata gente sem pensar duas vezes na história. Todos os garotos – incluindo aí Miguel, o ‘bebê’ – matam piratas; os piratas matam os pele-vermelhas, os pele-vermelhas matam os piratas e os meninos perdidos... Não é simplesmente uma questão de derrotar o inimigo, mas de massacres e banhos de sangue mesmo...

A questão do que eu falava antes é que, adulta, prestamos atenção em detalhes que não nos despertariam maior reflexão mais jovens – o medo patológico de Peter não apenas de crescer, mas de assumir responsabilidades; sua cegueira em torno do que querem as mulheres de sua vida (Sininho, Wendy, a princesa Tigrinha); sua incapacidade de reter relações verdadeiras com as pessoas que estão ao seu redor, fruto de não conseguir reter suas próprias lembranças.

Peter não cresce não apenas porque não quer crescer, mas porque não se lembrando do que viveu, estando sempre preso exclusivamente ao presente, não tem como aprender com suas próprias ações. Ele é uma página em branco todos os dias reescrita.

Isso não me importaria muito quando criança – e realmente não me importou quando tive meu primeiro contato com a história – mas hoje não posso deixar de pensar que a figura de Peter Pan seja um tanto trágica, só comparável a de seu arquiinimigo, o extraordinariamente solitário Capitão Gancho.

Não obstante, é um clássico daqueles para ler para as crianças, para bater palmas e tentar voar pulando das camas – para lutar com os piratas e fazer tic-toc fingindo ser o crocodilo, para mergulhas com sereias e dançar em torno da fogueira com os pele-vermelhas. Um livro para todos aqueles ainda capazes de alcançar a Terra do Nunca, “segunda estrela à direita, direto até o amanhecer!”.

Bônus: Tá meio difícil de eu conseguir cumprir o desafio do desafio desse mês, porque a Virgínia, que me presenteou o livro, foi embora do Brasil e hoje está morando em Portugal... mas se fosse para fazer uma indicação inspirada no presente que ela me deu... eu gostaria de falar sobre outro autor de histórias de aventura que me deixaram sem fôlego e elétrica na infância: Júlio Verne, em especial com seu 20.000 Léguas Submarinas. O bom é que como a edição de Peter Pan que ela me presenteou, o clássico de Verne também foi lançado na versão comentada da Zahar - aliás, que ótima coleção!

Enfim, fica aí a dica... e vamos para o próximo!


A Coruja


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5 comentários:

  1. taih outro q nunca li... e eu lembrava q ele tinha esse problema de memoria, mas nao sabia q era assim tao rapido. tipo, todo dia a memoria dele eh apagada? oO
    entao como ele lembra do Gancho? (ou nao lembra? pq isso com ctz seria perigoso... oO)

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    1. Não é que a memória dele seja apagada... é mais que ele não dá suficiente importância para isso e acaba esquecendo. Ele se lembra vagamente da Wendy, tanto que volta para buscá-la (e depois buscar a filha dela), mas quando a Wendy já está adulta, ele já não se lembra mais nem do Gancho nem da Sininho (ambos estão mortos).

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  2. Oiê!!!! Lembra que estou seguindo o seu desafio??? Li dois livros ganhos de presente :-)
    http://leiturasdelaura.blogspot.com.br/2014/05/fim.html
    http://leiturasdelaura.blogspot.com.br/2014/06/o-museu-na-inocencia.html

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    1. Ah!!! E eu já li Peter Pan, é mesmo uma delícia :-)
      http://leiturasdelaura.blogspot.com.br/2012/03/peter-pan.html

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    2. Estou lembrada sim e vou lá daqui mais um pouco dar uma olhada no seu desafio ;)

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