7 de fevereiro de 2013
Projeto Pratchett: O Fabuloso Maurício e seus Roedores Letrados
Esse livro faz parte da série de títulos infantis dentro do mundo de Discworld, no mesmo estilo dos que trazem Tiffany Aching como protagonista – sendo, salvo engano, o primeiro do gênero que Pratchett escreveu em seu mundo fantástico e surreal.- É estranho – comentou Pêssegos -, mas nós não sabíamos que as sombras estavam lá, até termos a luz.
A história dialoga com o conhecido conto do flautista de Hamelin – cidades tomadas por ratos, aparece um flautista que se compromete a livrá-la deles, a cidade não paga o serviço e as crianças são levadas embora, sumindo dentro da montanha (há um uso genial dessa lenda em The Search for The Red Dragon, do James Owen, ligando o flautista a Peter Pan e abrindo um inteiro mundo de deliciosas possibilidades...).
O plot de Pratchett é um pouquinho mais complicado. Só um pouquinho, veja bem: por conseqüência do acúmulo de magia junto da Universidade Invisível, coisas como você ir dormir como um gato vira-lata preocupado apenas com a próxima refeição e acordar no dia seguinte perguntando-se o sentido da vida, do Universo e tudo o mais (e falando como um humano) são bastante comuns.
Não apenas o gato, veja bem – ainda que Maurício, com seus planos, maquinações e truques possa equivaler a uma inteira quadrilha de malandros meliantes – mas também os ratos.
Juntam-se Maurício, os ratos e um garoto sem ninguém no mundo para servir de mediador (afinal, ninguém vai querer negociar com Maurício ou os ratos... se qualquer deles abrir a boca, a probabilidade é que se acendam fogueiras e perguntas sejam dolorosamente feitas) e eis a receita para o golpe do flautista.
Claro que estamos falando de Pratchett, e Pratchett nunca está feliz com uma única linha narrativa, por mais complicada que ela seja sozinha – há inúmeros outros subplots que vão desde a eterna busca pelo seu lugar no mundo às questões éticas que surgem quando você se defronta com a possibilidade de que seu jantar possa responder se você falar algo, bem ainda como à construção de uma identidade cultural e o nascimento da religião frente à súbita aquisição de consciência.
Tudo isso num livro supostamente infantil, bem pouco politicamente correto, em que os heróis são aqueles que estão à margem de qualquer pensamento de heroicidade – sujos, abandonados, esquecidos, mas aqui, centrais, importantes.
Um livro perfeito para dar às crianças e deixar que elas façam perguntas e também cheguem a conclusões. É assim que os Ratos aprendem. É assim que o homem aprendeu. O Fabuloso Maurício e seus Roedores Letrados é, enfim, Pratchett em sua melhor forma, divertido, incrivelmente inteligente e questionador.
A Coruja
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