27 de outubro de 2012
A Vertigem das Listas: Dez Heróis Relutantes
Dé: Todos nós já vimos isso antes: Você está lá, tentando cuidar da sua vida, só relaxando (ou não), cuidando da sua vida (ou não), saindo com os amigos (ou não)... em resumo, tendo uma vida normal. Ou não.
Lu: Muitas negativas numa mesma frase... (Dé: Ou não! xD)
Dé: Mas esperem? O que isso? Uma profecia dizendo que você TEM que salvar o mundo da destruição por uma invasão de coelhinhos de pelúcia venusianos? (Dani: ???) E eles possuem armas sônicas que tomam a forma de funk carioca remixado com música tecnobreganeja de cursinho (porque não é universitária ainda)?! Você TEM QUE IMPEDIR ISSO!
Lu: Ai, meu deus... vou ali me jogar da janela... ou, hei, porque não pode haver uma profecia em que você tem de destruir o mundo dos coelhinhos de pelúcia venusianos? Seria mais divertido...
Dé: Foco, Lu. Foco.
Dani: Olha quem fala... Apresenta logo o tema, Dé!!
Dé: Exceto que... você acha que tem alguma coisa errada nessa história. Uma profecia? Sobre você? Deve ser sobre outra pessoa com o mesmo nome! Isso, só pode ser isso! Como é que VOCÊ vai salvar o mundo, se é apenas uma pessoa comum?
O Vertigem das Listas deste mês vai tratar justamente sobre isso. Heróis que receberam o chamado para a Aventura, mas que por algum motivo recusaram o chamado... Este mês nós traremos... Dez Heróis Relutantes!
Lu: Sim, caros amigos! Heróis relutantes, temos certeza que vocês já os viram por aqui ;) E é claro que todo esse papo altamente sem noção do Dé tem a ver com o conhecido esquema mítico de Campbell, a Jornada do Herói. Heróis relutantes são um arquétipo básico em grandes histórias, seja na literatura, no cinema ou mesmo na música...
Pense por alguns instantes e veja se não junta em pouco meio mundo de nomes que se encaixam bem nessa categoria. Tenho certeza que vocês serão capazes de reconhecê-los para além de nossas listas!
Dani: Porque afinal, sempre nos simpatizamos mais com um herói relutante, do que um que simplesmente decide: “Ei, vou salvar o mundo! Mamãe, não me espere para jantar!!” ^^
Lu: Então que eu quase me rolei de rir aqui imaginando esse específico diálogo... complementado com “mas não se esqueça de limpar atrás das orelhas!”
Dé: O primeiro nome que trago para vocês tem um excelente motivo para entrar na lista. O pai de Danny é um ex-alcoólatra que, por conta do vício e do temperamento explosivo, perdeu o emprego de professor em uma escola local.
Em casa, a relação familiar também não anda essas coisas todas e, em uma tentativa de salvar o casamento, o pai de Danny arranja um emprego que vai lhe dar a chance de conviver com a família e ainda ter tempo de escrever seu romance, que poderá salvar sua carreira. O emprego? Zelador durante o inverno em um hotel. O OVERLOOK!
A questão é que Danny é um telepata, e isso acaba por “despertar” O MAAAAAAAAAAAL que existe no hotel. Agora vejamos as coisas pelo ponto de vista de Danny: ele é um garoto de cinco anos, que realmente ama sua família e que deseja ver todos bem. Então você começa ver fantasmas, que SIM, estão tentando pegá-lo! Eu, sem vergonha nenhuma de admitir, passaria a usar calças marrons o tempo todo.
O Iluminado virou um clássico por um bom motivo, e cada vez que eu leio o livro, me arrepio como se fosse a primeira vez.
Dani: Ah, O Iluminado... O meu livro de terror preferido... É por isso que você é o meu papai, Dé!!
Dé: Me enche de orgulho...
Lu: Sem maiores comentários... Já eu vou começar com um nome bem óbvio e que está em bastante destaque ultimamente... o senhor Bilbo Bolseiro, do Bolsão, no Condado.
Bilbo, ao receber o ‘chamado para a aventura’, começa relutando em aceitar deixar sua casa, as coisas que conhece, e ir de encontro até mesmo às convenções sociais de seu povo, que considera hobbits como seres não particularmente talhados para se afastarem do lugar em que nasceram e viveram a vida inteira...
Dé: Claro que, para Bilbo, o chamado veio na forma de uma visita de uma penca de anões, que atacaram sem dó nem piedade a sua despensa (quase um crime, para os padrões hobbits!)
Dani: Acho que ele foi mais é empurrado para a aventura... ^^”
Lu: Talvez... mas a verdade é que ele resmunga, resmunga, resmunga, e termina por partir com os anões e aos poucos vai ganhando confiança em si mesmo e se tornando mais e mais importante para a pequena comitiva – surpreendendo todos com sua astúcia e capacidade de adaptação e salvando a pele dos anões que a princípio não davam nada por ele.
Isso para não falar do que ele fez com Smaug...
Dani: Coitado do Smaug... XP
Lu: Assim, eu não acho que o Smaug seja de quem você tem de sentir pena... especialmente se você for pensar em dragões nos termos de O Silmarillion. A questão é que n’O Hobbit, não há assim tanto tempo e nem nos é mostrado exatamente o estrago que ele faz... Mas considerando que dragões eram os animais de estimação do Morgoth, imagina aí o estrago de que eles são capazes.
Falando sério, depois de ler Os Filhos de Húrin, cheguei seriamente a cogitar se Glaurung não era mi vezes mais cruel que seu senhor...
Dani: Mas enfim, para a minha primeira escolha, vou resgatar um herói muito relutante de um dos livros favoritos do povo aqui do Coruja, Edmundo Pevensie, das Crônicas de Nárnia.
Lu: Ele era uma das minhas escolhas iniciais; não penso em heróis relutantes sem lembrar do Edmund!
Dani: Ed, (olha a intimidade) começa como um verdadeiro chato, irritante e preguiçoso pivete, reclama de tudo o tempo todo e logo de cara se envolve com a Rainha, chegando a decidir entregar os irmãos em troca de docinhos, mas com o decorrer da história (e das crônicas) vai mudando completamente. Ele evolui e amadurece muito, aprende o verdadeiro sentido da amizade e lealdade, e não hesita em correr em favor dos amigos quando a coisa aperta. De fato quando ele volta na Viagem do Peregrino da Alvorada, sequer parece o mesmo Edmundo de antes.
E ele não tem nenhuma epifania de arrependimento onde, do nada percebe o que fez e que tem de mudar seus atos para ajudar seus irmãos, não, ele arca com as consequências de seus próprios erros, leva na cara mesmo antes de perceber o mané que foi, e aí compreende porque deve mudar...
Dé: Minha segunda escolha para esta lista, provavelmente está correndo até agora. Sim, correndo da Aventura, provavelmente com uma multidão enfurecida no encalço. Apesar de ter nascido com a mente de um mago, Rincewind nasceu com o corpo de um corredor de longa distância e não tem vergonha nenhuma de admitir que é um covarde. O que trás uma das conversas mais hilárias que já li:
Lu: Coisas que só o Pratchett faz por você (quantas vezes eu já usei essa frase aqui?). Mas é verdade, Rincewind provavelmente é o mais relutante de todos os heróis a terem existido na literatura; afinal, ele é um covarde, está sempre, sempre, SEMPRE tentando dar no pé e não olhar para trás e, para completar, salva o mundo mesmo sem querer – não importa para onde o coitado fuja, o destino (ou um canguru com tendências psicopatas) sempre vai encontrá-lo..."I do not wish to volunteer for this mission." Rincewind said.
"I beg your pardon?" said Lord Vetinari.
"I do not wish to volunteer, sir."
"No one was asking you to."
Rincewind wagged a weary finger. "Oh, but they will, sir. they will. Someone will say: hey, that Rincewind fella, he's the adventurous sort, he knows the Horde, Cohen seems to like him, he knows all there is to know about cruel and unusual geography, he'd be just the job for something like this." He sighed. "And then I'll run away, and probably hide in a crate somewhere that'll be loaded on to the flying machine in any case."
"Will you?"
"Probably, sir. Or there'll be a whole string of accidents that end up causing the same thing. Trust me. sir, I know how my life works. So I thought I'd better cut through the whole tedious business and come along and tell you I don't wish to volunteer."
"I think you've left out a logical step somewhere," said the Patrician.
"No, sir. It's very simple. I'm volunteering. I just don't wish to. But, after all, when did that ever have anything to do with anything?"
"He's got a point..." said Ridcully. "He seems to come back from all sorts of things."
"You see?" Rincewind gave Lord Vetinari a jaded smile.
Dé: E, se bobear, mapas precisarão ser redesenhados quando ele terminar de correr.
Dani: Acho que eu deveria ter indicado o Coragem, o Cão Covarde também, se levarmos em conta a covardia para heróis relutantes, ele é o maior!! XD
Lu: Boa! O Coragem definitivamente entraria na lista!
Bem, meu segundo nome aqui é aquele que foi meu primeiro grande amor literário... um personagem que para mim sempre foi sinônimo de inteligência, astúcia e esperteza (porque são coisas diferentes e ele tinha as duas para dar e sobrar...).
Estou falando de Ulisses, da Odisséia.
Dani: É claro que Lu tinha de encaixar um mega clássico aqui. ^^
Lu: Ossos do ofício, filhota...
Quando se fala em Ulisses, normalmente se lembra de cara de dois episódios: o Cavalo de Tróia e as sereias. Mas o rei de Ítaca é bem mais que isso... na verdade, se formos pensar de forma indireta, ele talvez seja o verdadeiro causador da Guerra de Tróia, uma vez que foi idéia dele forçar todos os pretendentes de Helena a fazerem um pacto de união para partirem para a guerra contra quem quer ameaçasse os direitos maritais de Menelau...
Quando Helena é levada por Páris, e os antigos pretendentes da mulher são chamados a cumprir seus votos, Ulisses tenta escusar-se da jogada fingindo-se de louco – os outros guerreiros vão encontrá-lo passando o arado e plantando sal em suas terras. Para resolver a questão, Palamedes, também um herói de grande sabedoria e esperteza (e que mais tarde sentiria a vingança de Ulisses por essa tirada), colocou o pequeno Telêmaco na frente do arado do pai.
É claro que Ulisses desviou o arado para não passar por cima do filho e aí não teve como sustentar a história da loucura e teve de seguir para Tróia, onde se destacou por algumas empresas bem arriscadas, contrastando com outras situações em que servia como uma das poucas vozes da prudência e terminou com a guerra com sua idéia genial do Cavalo.
Por essas e outras, ele merece todo o meu amor ^^
Dani: Para a minha segunda escolha, também vou pegar uma personagem muito em moda no momento, e que, modinha ou não, é de uma trilogia que me encantou. É a Katniss Everdeen, de Jogos Vorazes.
Não me importa se é modinha, o caso é que amei esse livro! E a protagonista definitivamente não poderia ficar de fora se estamos falando de heróis relutantes.
Katniss nunca quis ser heroína, nunca quis ser nada, tudo o que ela queria era sustentar a mãe e a irmã e lhes dar uma vida melhor do que a miséria que viviam, chegando a caçar ilegalmente só para lhes conseguir comida, sem nunca sonhar realmente com um futuro melhor, os pés sempre muito firmes no chão. Então quando a irmã é escolhida para os Jogos Vorazes, aquela por quem sempre lutou apenas para dar uma vida um pouco decente, e agora pode morrer em rede nacional apenas para entretenimento do público, ela entra em pânico, e se voluntaria no mesmo instante para ir em seu lugar.
Durante todo o treinamento (leia-se: promoção dos jogos, isso sim), e mesmo durante os Jogos, Katniss quer apenas sobreviver, mas suas ações e seus valores se tornam tão fortes frente a Capital, que ela vai pouco a pouco (e a início inconscientemente) se tornando uma heroína para os distritos mais pobres, apresentando uma ideia de revolução e esperança há muito já esquecida.
Dé: O terceiro nome que escolhi realmente me faz admitir: ele é um herói. Samwise Gamgee nunca quis ser mais do que ele é: jardineiro e amigo de Frodo. E assim sendo, insistiu em seguir o Portador do Anel na jornada que iria mudar a vida de toda Terra-Média, sem ter a menor idéia do que se tratava.
Tudo que ele sabia era que seu Mestre Frodo precisaria dele durante a jornada, portanto ele iria. E acabou salvando o mundo por isso. Eu não tenho como falar de Sam sem dizer que ele é o verdadeiro herói de O Senhor dos Anéis, por todos os motivos certos.
Lu: O Dé tem toda razão, Samwise é definitivamente o grande herói de SdA. Ele me emociona como nenhum outro personagem.
Dani: Com toda certeza!! Ele é um dos grandes personagens dessa saga... “ Oh, Sr. Frodo...”
Lu: E ele tem um dos mais belos monólogos do livro, também, quando fala sobre a importância de continuar, do significado da jornada que eles estão fazendo e de como seus nomes virarão histórias... é uma das minhas cenas favoritas!
Minha vez de novo! Então que completo minha lista individual com o jovem Jonathan Harker de Drácula. Jonathan começa o livro como um alvo fácil para o Conde. As coisas que vê e as experiências que passa deixam-no tão traumatizado que, a despeito de ter conseguido forças para fugir – puro instinto de sobrevivência, claro – ele retorna à história como uma pessoa... quebrada. Frágil.
E aí, quando seu mundo volta a ser ameaçado... ele não apenas aceita relembrar suas memórias daqueles dias de pesadelo e compartilhá-las com o grupo formado por Van Helsing... Não... ele faz mais que isso... ele se junta à luta. Comparece ao serviço. Dá a cara a tapa... e dorme placidamente enquanto Mina é atacada pelo Conde do lado dele.
Mas tá, tudo bem, ele estava sob um feitiço... Considerando a absoluta persistência dele desse ponto em diante, a gente desculpa.
Dé: Bem, ninguém mandou o Conde mexer com quem não deveria, não é? Dou pontos extras para Jonathan por sua escolha de arma e por usá-la como fez! =D
Lu: Hohoho...
Dani: Para a minha terceira escolha, escolho uma saga muito famosa atualmente, e se tudo der certo, minha futura mesinha de centro: Daenerys Targaryen de Guerra dos Tronos.
Tá, tudo bem que não existem realmente heróis ou vilões em Guerra dos Tronos, mas a mudança que se passa com Dany, e o modo que ela assume a posição de líder dos Dothraki, (a primeira mulher, aliás) e decide assumir o trono de ferro, que na verdade é seu por direito, é simplesmente fantástico.
Ela realmente muda da água para o vinho, começando como uma princesinha quase insípida, que faz tudo o que o irmão ordena, medrosa, quieta e submissa, para então se torna a grande Khaleesi, a Mãe dos Dragões, liderando um clã inteiro de guerreiros, tornando-se alguém disposta a absolutamente tudo para honrar seu próprio direito.
É verdade que é difícil dizer que ela é realmente uma heroína, já que perde boa parte de sua inocência (digo inocência no sentido de pureza) e até bondade durante o curso da história, mas ela com certeza pode ser encaixada como uma heroína relutante. Ela é colocada nessa situação pelo irmão, sem poder nem opinar escolher, e passa a ser sempre submissa ao Khalasar, mas descobre sua própria força e assume seu poder e seu destino, além de nunca deixar seus companheiros desamparados, cuidando deles como sua verdadeira família.
Lu: Agora só falta um nome, aquele em que todos nós concordamos como símbolo do herói relutante de nossa lista de hoje... Dani, estamos falando de...
Dani: Harry Potter, é claro!!
Como falar de heróis relutantes sem mencionar o Harry? Ele nunca quis nada do que aconteceu a ele, perdeu os pais e boa parte dos amigos para uma guerra que ele nunca quis lutar, foi fadado a uma profecia que condenou sua vida, esteve sempre fugindo de Voldie e seus cãezinhos adestrados e tentando salvar os outros que só se meteram em perigo por se envolverem com ele!
Sem contar que, ele passa os 6 primeiros livros relutando em seguir seu destino o máximo que pode e apenas tentando ser um garoto normal. De fato é somente no 7º que ele finalmente assume a posição de herói e decide fazer o que for preciso para acabar com a guerra.
Lu: Harry é um típico herói relutante, sem sombra de dúvidas. Perfeito para fechar com chave de ouro nossa lista desse mês.
Dé: O mais engraçado nessa história toda, é que poderíamos facilmente ter tido um OUTRO herói nessa história, que de certa forma também seria relutante. Neville também se encaixava na profecia, afinal. E quem não sabia disso ainda.... agora sabe.
Lu: Agora, digam tchau, pessoas! Esse mês foi corrido, o próximo provavelmente será ainda mais corrido, mas temos um trabalho para fazer!
E não é tentar dominar o mundo, não importa o que digam!
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Livros, viagens, filosofia de botequim e causos da carochinha: o Coruja em Teto de Zinco Quente foi criado para ser um depósito de ideias, opiniões, debates e resmungos sobre a vida, o universo e tudo o mais. Para saber mais, clique aqui.
deixa eu ver se entendi... Harry eh relutante?! oO
ResponderExcluirfala serio, o que ele mais queria era sair daquela casa e se meter em uma vida... oO
a unica parte em q ele relutou foi em acreditar que lhe foi dada a chance de sair dali, mas qdo viu q era verdade, oh! foi-se, e nem lhou pra tras...
De HP, se quiser um heroi relutante, e com razao, era o Neville. :D
Bem, Ísis, você tem de levar em consideração o todo do Harry. Não apenas o fato de que ele queria sair de casa. Ele relutou em assumir responsabilidades até após a morte o Sirius - foi só a partir desse ponto que ele começou a ativamente pensar como herói e aceitar o caminho que lhe era oferecido.
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