19 de junho de 2012
Desafio Literário 2012: Junho - Viagem no Tempo || O Mapa do Tempo
Estava com grandes expectativas para esse livro desde que vi a notícia de sua publicação. Além dos inúmeros elogios e críticas mais que positivas, O Mapa do Tempo fazia bem o meu gênero: História alternativa, com uma boa pitada de mistério e outro tanto de ficção científica. Quando me deparei com ele na Bienal do Rio ano passado – e por menos de vinte dinheiros também... – fui meio que à loucura: coloquei-o sem piscar na cesta (a essa altura só os braços não eram o suficiente) e quando saiu a lista do DL 2012, ele foi o primeiro título a entrar na lista. E agora, cá estamos nós.- Pense: por acaso o senhor teria vindo à minha casa se ela estivesse viva? Não entende que ao matar o assassino e impedir que ela morra estripada também eliminou suas razões para viajar no tempo? E se não houver viagem, também não haverá mudança. Os dois acontecimentos, como pode ver, são inseparáveis – explicou Wells, agitando o recorte que, ao perseverar com a manchete original, confirmava sua teoria.
Serei sincera e direi que no começo, senti-me um pouco decepcionada. Eu tinha expectativas absurdas para ele e estava quase quicando pelas paredes para encontrar H. G. Wells e não para lidar com um maníaco suicida apaixonado por uma das prostitutas mortas por Jack, o estripador.
Nada de particular contra Andrew, mas eu não estava interessada no choramingar do rapaz, especialmente quando percebi que ele sempre chegaria tarde demais para fazer alguma diferença na linha do tempo original.
A coisa começou a mudar de figura quando Wells fez afinal sua aparição.
O livro é dividido em três partes, cada um com um foco: temos primeiro Andrew tentando voltar ao passado para mudar o destino da amada, temos depois a jovem Claire, que anseia por um futuro em que há algo mais para as mulheres além de bordar, cantar e ser uma esposa exemplar e temos os misteriosos crimes que só podem ter sido cometidos por alguém que veio de uma outra época.
Nessas três partes, Wells é mais ou menos a ponte, o fio condutor pela qual passa toda a história e é o único também que parece ter plena consciência do paradoxo das viagens no tempo, das conseqüências que elas podem ter na criação de novas dimensões a partir da alteração de determinados pontos da linha temporal.
A forma como Palma escolheu narrar a história – uma terceira pessoa onisciente que interpela de forma direta o leitor em muitos momentos – foi muito acertada. Ele te dá um vislumbre dos pensamentos e intenções dos personagens que, por vezes, nem os próprios personagens têm consciência, e te convida a se envolver na história como quem partilha um segredo.
Uma vez que o livro te conquista, que a história verdadeiramente engrena, é difícil largá-lo. Palma parece estar o tempo todo jogando com suas expectativas e subvertendo-as a cada novo capítulo. Você começa imaginando uma coisa, depois essa coisa é desmentida, daí a pouco tudo se inverte de novo e sua percepção da realidade vai para o brejo envolto em tantas reviravoltas.
São tantas idas e vindas, subidas e descidas quanto uma montanha-russa. O Mapa do Tempo te deixa quase que constantemente tentando adivinhar o que acontecerá a seguir... e falhando miseravelmente porque as coisas nunca são o que você espera ser. Ele é surpreendente de uma forma quase reflexiva – por vezes você tem a impressão que o autor filosofa em voz alta e te convida junto a esse exercício. Uma aventura, uma descoberta, uma surpresa – tudo isso é O Mapa do Tempo e ainda um pouco mais.
Nota: 4
(de 1 a 5, sendo: 1 – Péssimo; 2 – Ruim; 3 – Regular; 4 – Bom; 5 – Excelente)
Ficha Bibliográfica
Título: O Mapa do Tempo
Autor: Félix J. Palma
Tradutor: Paulina Wacht e Ari Roitman
Editora: Intrínseca
Ano: 2010
Número de páginas: 470
A Coruja
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Sobre
Livros, viagens, filosofia de botequim e causos da carochinha: o Coruja em Teto de Zinco Quente foi criado para ser um depósito de ideias, opiniões, debates e resmungos sobre a vida, o universo e tudo o mais. Para saber mais, clique aqui.
Nó, resenha deliciosa! Me convenceu a ler.
ResponderExcluirConfesso que eu já tinha me deparado com o livro, mas tive certo preconceito com a capa. Gostei MUITO da premissa, com certeza entrou na lista de próximas compras.
Pois é, eu gostei muito mais daquela terceira capa que coloquei ali em cima, mais sombria e misteriosa... mas a história vale à pena. Ela demora um pouquinho a engrenar, mas quando vai... quando vai, é uma maravilha! Tive a mesma sensação com o "Jonathan Strange & Mr. Norrell", que também é excelente e recomendo a todos que gostem de história alternativa e fantasia. Que livro maravilhoso...
ExcluirGostei muito da sua resenha! Eu tinha vontade de ler este livro, mas ainda não tinha vista nenhuma resenha que conseguisse me convencer, no entanto, a sua realmente me conquistou!
ResponderExcluirMuito bem escrita e desenvolvida! Parabéns!
Cheiros da Serena!
site: leitorcabuloso.com.br
Pois é, Serena, também encontrei poucas resenhas do livro... mas eu contava com a indicação de uma amiga (Táaaaaaaaaabata!) que declamou odes e mais odes ao livro, de forma que mesmo quando eu estava indecisa sobre a leitura, persisti e não me arrependi! O livro é muito bom. A idéia que o Palma teve, a forma como ele desenvolveu e como ele brinca com o que o leitor acredita sobre a própria história... é genial. Simplesmente genial.
ExcluirEuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuu!!!!
ResponderExcluir:) Que bom que tu curtiu! O livro é realmente bom demais! Deu até vontade de ler de novo. :)
Smacks!
Ele é um daqueles livros que vai e volta na estante e volta e meia da vontade de ler de novo para lembrar de todos os motivos pelos quais você amou da primeira vez...
Excluir... e mais um livro que eu quero comprar. Depois que ler os 27 pendentes ''''''xD
ResponderExcluirAdoro histórias com viagem no tempo, é impressionante como elas deixam as coisas mais interessantes com todos os paradoxos e interpretações diferentes :D Estou sentindo falta de um bom livro sobre o assunto desde que terminei o The Search for The Red Dragon (infelizmente, não tive dinheiro ou tempo para pedir os outros livros da série pelo correio =.=') Creio que vou dar uma olhada nesse quando tiver terminado minha cota.
E tiver dinheiro '-'
Vida de bibliófilo é triste ._.
Rafa, pára de reclamar dos '27 pendentes'. O que faço eu então dos 107 na minha estante?
ExcluirNhaaaaaaaaaaaa!!! Você está lendo Owen!!!! Vamos trocar figurinhas! Red Dragon foi o livro com que verdadeiramente me apaixonei pela série. Lindo, lindo, lindo!!! Deu vontade até de reler agora!
Eu não leio tão rápido quanto você! 'xD Na verdade, acho que estou ficando mais lenta com a idade, ainda me lembro da época em que eu lia Senhor dos Anéis inteiro durante uma semana de provas do colégio... -_- Bons tempos.
ExcluirE eu estou lendo Owen! Há algum tempo, na verdade, mas esqueci de comentar. Concordo que Red Dragon foi uma virada incrível, principalmente na combinação de histórias, mitos e personagens... Umas das coisas mais engenhosas que eu já vi *-* Quero muito comprar mais livros da série, mas, uh, estou desempregada, então vai ter que esperar um pouco 'xD Se eu arrumar um estágio nos próximos meses, quem sabe? E você é a única pessoa que eu conheço que leu Owen, pra ser sincera, tentei convencer minha prima, mas ela não está lendo nada por causa do curso de direito e meio mundo de coisas... =.=
Você já ouviu falar de um livro chamado 'Um livro por dia'? É do Jeremy Mercer, um jornalista canadense que descreve a temporada que passou em Paris morando (literalmente) na Shakespeare and Company, a livraria inglesa famosa como ponto de encontro de escritores britânicos e norte-americanos antes da 2a Guerra... É uma leitura bem curiosa, caiu na minha mão por acaso 'xD
Mercer também está na minha lista... é óbvio e ilulante que visitarei a Shakespeare and Company, que, a despeito do nome, é francesa, não inglesa ;) acho que trocasse as bolas.
ExcluirEu dei o primeiro livro em português para dois amigos e tenho outros dois que estão interessados em ler... mais dia menos dia a gente consegue armar uma convenção (de seis pessoas huahuahuahua...)
Sei que é francesa, mas ela é chamada inglesa porque tradicionalmente vendia livros em inglês (isso quando foi fundada pela primeira dona, antes da 2a guerra, que era americana, acho) :p A Shakespeare and Company atual já não é a mesma da publicação de Ulysses, mas outra loja que adotou o nome e tal... Como o livro foi escrito por um jornalista, volta e meia ele faz capítulos só sobre a histórias das coisas e pessoas que cita 'xD
ExcluirAh, agora entendi... bem, eu vou visitá-la seja francesa, inglesa ou americana XD E quero ver se consigo ler esse livro antes de viajar...
ExcluirNão conhecia este livro, mas me parece valer a leitura, não? E se você gosta de viagem no tempo, já leu "A mulher do viajante no tempo"?
ResponderExcluirVale sim! "A Mulher do Viajante no Tempo" está na minha lista desde que assisti o filme (que me fez chorar como um bebê...). Questão é que tenho tido pouco tempo ultimamente, ele é um tanto grandinho, e ficou de fora do desafio. Mas certamente vou lê-lo mais para frente ;)
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