10 de outubro de 2011

Desafio Literário 2011: Outubro - Nobel de Literatura || The Mark of the Beast



Your Gods and my Gods - do you or I know which are the stronger?
Quando ouvi falar nessa história pela primeira vez, foi como um livro-marco na ficção fantástica – e ele caiu dentro da minha pesquisa acerca dos mestres da fantasia antes de Tolkien. Só me dei conta de que The Mark of the Beast não se tratava de um romance, mas sim um conto, quando fui procurá-lo no Project Gutenberg – afinal de contas, Kipling já caiu no domínio público.


Não tem problema. Embora seja um conto curtinho, The Mark of the Beast se presta perfeitamente a uma interpretação rica e bastante característica de Kipling. Já tendo lido outros contos do autor, deu para ter uma idéia da forma geral como ele se expressa.

A história acompanha a trajetória de três ingleses na Índia, numa virada de ano inesquecível – e não pelos melhores motivos. Após uma bebedeira homérica, Fleete acaba por invadir o templo do deus macaco Hanuman, desrespeitando a imagem da divindade antes que seus companheiros – o narrador (o texto é em primeira pessoa) e Strickland – possam impedi-lo.

No meio da confusão que se segue, surge por detrás da estátua um homem – um leproso, com o rosto já carcomido pela doença, inumano inclusive pelo fato de ser incapaz de falar além de miados e uivados animalescos.

O leproso acerta Fleete no peito – e depois disso tudo se acalma e, ainda desconfiados, seus companheiros o levam para casa para então acompanhar, gradativamente, a transformação do amigo numa besta. Chamado o médico, este acredita que nada há a fazer além de esperar a morte do cavalheiro sob o epíteto de ter contraído raiva.

Na narrativa concisa, quase seca com que Kipling nos apresenta o conto, você tem o espaço para criar seu próprio pesadelo; para imaginar sua própria transformação bestial por trás dos olhos que brilham com uma luz que não pertence a eles.

É importante lembrar que à época que essa história foi publicada a Índia era colônia da Inglaterra – e sua jóia da coroa. Ao mesmo tempo em que enchia os cofres da metrópole, servia como uma inesgotável fonte de curiosidades e mistérios, um lugar onde tudo podia acontecer.

Já li outras obras escritas ou protagonizadas por ingleses perdidos no território indiano e a maior parte deles faz do lugar um país de sonho, de encanto sobrenatural – a Índia é exótica e esse exotismo não é apenas constantemente explorado, mas quase sempre serve de contraponto às ditas eficiência e fleuma britânicas.

É curioso porque num nível mais profundo de interpretação, podemos ver The Mark of the Beast como uma metáfora da própria relação de colonizador e colonizado – o desrespeito de Fleete aos costumes religiosos do lugar em que se encontra; a incapacidade de se comunicarem os cavalheiros e os religiosos do templo de Hanuman... e, acima de tudo, o uso enganoso do discurso do Outro.

Kipling foi genial nesse ponto. É claro que os protagonistas, ingleses, se vêem como civilização, contra os costumes bárbaros, bestiais dos locais... para então eles mesmo se verem transformados na Besta, no Outro.

Há qualquer coisa de familiar nesse discurso, não?

Nota: 4
(de 1 a 5, sendo: 1 – Péssimo; 2 – Ruim; 3 – Regular; 4 – Bom; 5 – Excelente)

Ficha Bibliográfica

Título: The Mark of the Beast
Autor: Rudyard Kipling
E-book: Download



A Coruja


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Um comentário:

  1. Aprecio bastante as suas escolhas de leitura. Há sempre algo novo, diferente. Bjs

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