11 de julho de 2011
Desafio Literário 2011: Julho - Novos Autores || A Batalha do Apocalipse
Em pé, sobre a gigantesca mão da estátua do Cristo Redentor, o Anjo Renegado observava a cidade, à aproximação do crepúsculo. Sua expressão, inabalável e serena, era de alguém que muitas vidas vivera, de um andarilho que percorrera o mundo, desvendara seus infinitos mistérios e enfrentara toda sorte de criaturas, abissais e celestes. Mas também era o semblante de um pioneiro, que visitara nações já perdidas e se sentara à mesa com os grandes homens de outrora.
Ouvi muito sobre esse livro desde seu lançamento e estava realmente curiosa para poder começar a lê-lo, especialmente depois de ver tanta serpentina e confete jogada no autor, que, pelo teor de certos elogios, parece ter inventado a ficção fantástica no Brasil.
Não demorei muito a entender o porquê de tanta festa. Spohr foi bastante engenhoso – criou uma trama recheada de reviravoltas, capaz de explorar o exótico da cultura humana em quase cinco mil anos de história, com personagens bastante carismáticos. Você é capaz de perceber a pesquisa que foi feita para o background e as escolhas de mudança no Canon mitológico judaico-cristão foram bem feitas.
Em contraposição, há momentos em que o livro se torna um tanto repetitivo, especialmente no comecinho. Há uma abundância de adjetivos e é um pouco esquisito – pelo menos para mim – qualificar logo de cara o herói e o infame. Não apenas qualificar, mas fica a todo momento martelando quem é o mocinho, o belo, o corajoso, o destemido e quem é o vilão, o vil, o indigno e por aí afora.
Entendo que Spohr quis utilizar – especialmente naquele começo – uma linguagem parecida com a da Bíblia, ou no estilo do épico de Milton, O Paraíso Perdido. A questão é que tais textos empregam uma linguagem rebuscada sim, mas também cheia de metáforas, de uma forma mais sutil e poética, que A Batalha do Apocalipse não conseguiu replicar.
Felizmente, esse não é o estilo predominante do livro. Ele demora um pouco a engrenar, mas quando o faz, faz admiravelmente – Ablon e Shamira são grandes personagens e se fiquei realmente impressionada com alguma coisa, foi com a forma como o relacionamento dos dois se desdobra.
Sejamos francos: se tem algo que autores de ficção fantástica quase sempre deixam a desejar, é em desenvolvimentos amorosos, que se existentes, são forçados, ou acontecem rápido demais sem acompanhar a evolução do texto.
Isso não acontece com Ablon e Shamira. Eu me vi torcendo pelos dois desde o início; existe uma progressão natural no relacionamento dos dois por causa E a despeito de suas naturezas. Ambos se respeitam e se admiram, e, no final das contas, os sentimentos que nutrem acabam por servir como catalisadores dos fatos que levarão ao apocalipse.
E em nenhum momento isso parece forçado.
Achei interessante também a forma como a batalha entre céu e inferno se resume, no final das contas, à rivalidade psicótica de Miguel e Lúcifer. Anjos e demônios, no final das contas, não são tão diferentes e entre os dois, a humanidade não passa de gado que deve ser, de preferência, exterminado.
Só faltaram um Sam e um Dean para o elenco de Supernatural estar completo.
Seja como for, gostei do livro. Você é capaz de perceber a evolução do estilo do autor entre o começo e o final do livro, o que é bem curioso de se perceber. Eu faria uma revisão e cortaria algumas páginas e um bocado de adjetivos, mas de resto, Spohr conseguiu imprimir bem o tom épico que se espera de uma história como essa e, uma vez que prende o leitor, prende-o até o fim.
Nota: 4
(de 1 a 5, sendo: 1 – Péssimo; 2 – Ruim; 3 – Regular; 4 – Bom; 5 – Excelente)
Ficha Bibliográfica
Título: A Batalha do Apocalipse
Autor: Eduardo Spohr
Editora: Independente
Ano: 2010
Número de páginas: 586
A Coruja
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Sobre
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Adorei sua resenha!
ResponderExcluirEsse livro foi o livro de estreia do meu blog, há um ano atrás e os primeiros textos a gente sempre esquece.. rs
Sua análise mostrou muito do que eu senti ao ler a obra de Spohr e não consegui expressar direitinho naquela época. Curti mesmo, parabéns! =)
Oi, Lulu.
ResponderExcluirMuito obrigado pelas palavras e valeu especialmente pelas críticas. "A Batalha do Apocalipse" é meu primeiro livro publicado, com certeza ainda tenho muito a melhorar. Espero que o próximo saia melhor. Vamos ver.
Esse lance q vc falou sobre o confete e serpentina é mesmo curioso. Pq tem gente que adora a obra (como todo o direito), e se empolga mesmo. Em contrapartida, isso acaba até despertando uma certa raiva dos que não curtiram muito, gerando reações igualmente fortes. Mas enfim, todo mundo tem o direito de se expressar como quiser.
Vc tem razao qto aos adjetivos e tudo mais. Foi uma tentativa de captar uma liguagem mais "épica", por asism dizer (não que o livro seja exatamente um épico).
Qto às repetições, tb concordo que sao cansativas, mas não mudaria. Explico pq. Para nós, que somos mais esclarecidos nesse universo fantastico (vemos filmes de super-herois, de ficcao, etc), os conceitos sao logo compreendidos. Mas a minha avó por exemplo (que leu e gostou), não entende absolutamente nada das referencias. Para essas pessoas, ideias como o tecido da realidade, por exemplo, precisam mesmo serem marteladas mil vezes, pra pessoa entender mesmo.
Novamente, agradeço pelo post. Como eu sempre digo, as criticas sempre me ajudam pra caramba :-)
qualquer coisa estou por aqui.
Bjos,
Eduardo
Em primeiro lugar... Lulu, minha amiga, tu tá chique demais, o próprio Eduardo Spohr comentando no seu blog... *morri*... kkkkk. Minha irmãzinha tá famosa!
ResponderExcluirSegundo, amei a resenha e estou ainda mais curiosa pra ler este livro. Ele tb está no meu desafio literário desse mês, mas to quase abrindo mão do desafio viu, pq não to dando conta de nada nessa vida...hehe
E terceiro, a parte que vc diz "Só faltaram um Sam e um Dean para o elenco de Supernatural estar completo" foi a melhor, principalmente pq eu AMO supernatural!
Tá de parabéns!!!
beijos
Resenha ótima e ainda por cima temos um debate com o autor. Luxo só!
ResponderExcluirBeijocas