13 de junho de 2011
Desafio Literário 2011: Junho - Peças Teatrais || A Paz
TRIGEU - Muito obrigado, pessoal. Ponham tudo isso lá em casa e fiquem para o banquete; eu ainda não posso entrar; estou vendo um fabricante de armaduras vindo para cá com uma cara de vítima que dá pena.
(Entra um Fabricante de Armaduras, seguido de outros fabricantes e beneficiários de produtos bélicos: Fabricante e Vendedores de Penachos para Capacetes, de Couraças, de Clarins Militares, de Capacetes, de Lanças, cada um trazendo o produto com que trabalha.)
FABRICANTE DE PENACHOS (cambaleando) - Ah! Trigeu! Você me arruinou completamente! Veja em que estado eu me encontro!
TRIGEU - O que é que há, infeliz? Você vai mal das pernas?
FABRICANTE DE PENACHOS - Você desgraçou a minha profissão e a minha vida. (Indicando o Fabricante de Capacetes.) E a dele também. E a do Fabricante de Lanças ali adiante também.
TRIGEU - Quanto é que você quer por esses dois penachos?
FABRICANTE DE PENACHOS - Quanto é que você oferece?
TRIGEU - O que eu ofereço? Tenho até vergonha de dizer. Em todo o caso, como a haste dá muito trabalho eu dou três pacotes de figos secos. Esses troços vão servir para espanar a mesa.
FABRICANTE DE PENACHOS - Está bem. Vá lá dentro buscar os figos. (Ao Fabricante de Capacetes.) Que jeito? Antes isso do que nada, meu caro.
Aristófanes – A Paz
Meu contato inicial com Aristófanes foi em alguma aula de História sobre a Grécia. Obviamente, Sófocles foi bem mais discutido – num primeiro momento é sempre do ciclo de tragédias edipianas que lembramos, a mais pungente narrativa de que não se pode fugir ao destino.
Provavelmente pela mesma época, dei de cara com Lisístrata. Não lembro da data exata, mas sei que foi nos tempos da Nobel, então eu estava terminando a escola e como uma adolescente curiosa, fiquei com a pulga atrás da orelha ao ver o subtítulo ‘a greve de sexo’.
Tenho vagas lembranças de ter lido esse livro pela primeira vez com a capa escondida por outro livro, na livraria mesmo. E pensar que hoje em dia compro romances de banca e ainda saio divulgando e comentando por aí... eu era tão inocente naquela época...
Claro que, a despeito do título, o livro não tinha nada demais. Ou, pelo menos, nada demais se comparado ao que a gente assiste na TV hoje em dia...
Em todo caso... quando vi que o tema do mês de junho para o Desafio Literário 2011 seria peças de teatro, decidi que haveria um exemplar dos gregos no meio da minha lista – afinal de contas, foi na Grécia que tudo começou, em honra de Dionísio.
Sófocles veio a minha mente a princípio. Antígona é uma das minhas peças favoritas e foi a única das tragédias gregas que assisti encenada. Isso já deve fazer bem uns dez anos, já que foi na época em que Vanessa entrou para o teatro, mas nunca vou me esquecer da sensação de ouvir um coro pela primeira vez.
É uma das características mais marcantes das peças clássicas, o coro. Na leitura simples, não tem tanta força, mas numa encenação, é algo de... esplêndido. Sublime. Eu me arrepio só com a lembrança – e não estou exagerando. Você tem a impressão... tem a impressão de que as palavras vibram dentro de você. Que você faz parte daquele coro, daquelas vozes.
Seja como for... enquanto me organizava para elaborar a lista do DL, tendo Sófocles na cabeça, reencontrei Lisístrata e decidi que preferia comédias a tragédias. E lá fomos nós pesquisar a bibliografia de Aristófanes...
Em A Paz, Trigeu, agricultor ateniense cansado da guerra fratricida entre as cidades-estado gregas, decide dar uma de penetra no Olimpo para implorar aos deuses que dêem um jeito na situação. Para tanto, ele engorda um escaravelho comedor de esterco para com ele voar até o lar dos deuses – aparentemente, cavalos alados estavam em falta no mercado.
Só que ao chegar ao Olimpo, ele só encontra Hermes, o mensageiro. Os outros deuses desertaram da humanidade, demasiadamente complicada e teimosa para o gosto deles, deixando-a nas mãos da Guerra para que esta fizesse o que bem lhe aprouvesse.
Paz também ficou para trás, presa numa caverna, junto com sua companheira, a Abundância.
Sorte de Trigeu que a Guerra deu uma saidinha – por tempo suficiente para que ele conclame o coro para ajudá-lo a liberar as prisioneiras.
O tema de A Paz é o mesmo tema de Lisístrata - uma crítica social e a busca pelo fim dos conflitos. Mas que conflito?
E lá vamos nós para a aulinha de história de novo...
Aristófanes viveu na Idade de Ouro de Atenas, sob o governo de Péricles (de quem eu gostaria de ter um pôster na minha parede... acho que farei a Bia ter um...) e também o declínio dessa mesma sociedade antes quase perfeita, quando da longa e inútil Guerra do Peloponeso, que foi o começo da grande derrocada da Grécia, completada com sua conquista pelos macedônios.
Destarte, ao escrever A Paz, o objetivo de Aristófanes – que em quase todas as suas peças faz o mesmo tipo de crítica política irônica – era persuadir o povo de que a guerra estava arruinando a cidade, a própria estrutura da sociedade em que viviam.
Ele me faz pensar no Pratchett (estarei dando uma de Bloom?), com seu sarcasmo e seu uso do absurdo para questionar situações estabelecidas.
Preciso de mais livros de Aristófanes...
Nota: 3
(de 1 a 5, sendo: 1 – Péssimo; 2 – Ruim; 3 – Regular; 4 – Bom; 5 – Excelente)
Ficha Bibliográfica
Título: A Paz
Autor: Aristófanes
A Coruja
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Sobre
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Muito boa resenha! Ótimo poder de síntese!
ResponderExcluirBjssss
O teor irônico é bem acentuado a julgar pelo trecho escolhido. Bela escolha! Como você adota palavras tidas em desuso. Amo isso!
ResponderExcluirBeijocas
Gostei abeça
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